Nos corredores de hospitais brasileiros, o momento da triagem pode definir todo o desfecho de uma jornada de cuidado aos pacientes. Segundo a Organização Mundial da Saúde, cerca de 50% das internações poderiam ser evitadas com acesso precoce a atendimento qualificado. A triagem é a porta de entrada para isso. Ainda hoje, esse processo é realizado de forma majoritariamente manual, o que o torna vulnerável a atrasos e decisões baseadas em informações fragmentadas.
A questão é que esse cenário está mudando. A aplicação de tecnologias como inteligência artificial (IA), processamento de linguagem natural e sistemas integrados de análise em tempo real têm redesenhado a forma como pacientes são avaliados logo na chegada aos hospitais. Em vez de se basear apenas na percepção clínica inicial, os profissionais podem agora contar com ferramentas que analisam milhares de dados — estruturados e não estruturados — para oferecer uma visão mais precisa e ágil da condição de cada indivíduo.
A Organização Mundial da Saúde já apontou que a inteligência artificial tem potencial para otimizar diagnósticos, reduzir ineficiências e apoiar decisões clínicas com maior precisão, desde que utilizada com responsabilidade ética e técnica. Esses recursos têm se mostrado especialmente valiosos na triagem, principalmente porque a IA pode acelerar esses processos em até 15 vezes.
Além da agilidade, a tecnologia contribui para melhorar a qualidade do cuidado. Ao cruzar informações clínicas, sinais vitais e histórico do paciente em tempo real, sistemas baseados em IA conseguem identificar casos críticos com maior precisão e minimizar o risco de que situações graves sejam subestimadas. Isso reduz o número de internações, evita agravamentos e exames desnecessário, liberando recursos para quem realmente precisa — um impacto direto na eficiência hospitalar.
Em uma perspectiva mais ampla, os benefícios vão além da porta de entrada do hospital. Um modelo de triagem mais inteligente influencia positivamente todo o fluxo de atendimento, reduzindo o tempo médio de permanência, melhorando a alocação de profissionais e insumos, oferecendo dados valiosos para uma tomada de decisão mais assertiva na gestão hospitalar. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cerca de 20% dos gastos em saúde nos países-membros são considerados ineficientes, causados por redundância de exames, atrasos no atendimento e má alocação de recursos. Esses dados reforçam a importância de otimizar processos críticos como a triagem.
É claro que a tecnologia sozinha não resolve todos os desafios. É necessário investimento, capacitação de equipes e integração entre sistemas. Mas o potencial já demonstrado é suficiente para deixar claro que a triagem do futuro — mais rápida, mais segura e mais centrada no paciente — já começou a acontecer.
Anthony Eigier é cofundador e CEO da NeuralMed, empresa brasileira de saúde que oferece soluções que tornam o mercado de saúde mais eficiente e sustentável