Os primeiros sistemas de Saúde surgiram junto com as civilizações. No começo eram, em geral, ligados à fé – estrutura que se manteve até bem pouco tempo no Brasil, com organizações religiosas à frente dos mais importantes hospitais. Mas o ato de somente crer na cura deu espaço para uma revolução, provocada primeiro pelo desenvolvimento da medicina e, mais recentemente, pela Saúde digital.
Com os avanços da tecnologia na Saúde, a responsabilidade pelo cuidado deixa de ser exclusivamente do médico e passa a ser compartilhada com o paciente e com os demais agentes envolvidos nesse processo. Forma-se um ecossistema cujo centro é o indivíduo, mas o objetivo final não é mais somente a cura e, sim, a prevenção da doença e a promoção da saúde. Não se reza mais para pedir a recuperação: age-se preventivamente para garantir a qualidade de vida.
Nasce então uma nova sociedade do cuidar. Entram em cena ferramentas de inteligência artificial e computação cognitiva, combinadas a mapeamento genético e populacional. Expande-se o uso de aplicativos e dispositivos vestíveis que monitoram os sinais vitais em esquema 24 por 7. Isso está acontecendo agora, enquanto você lê este artigo. Um exemplo é um estudo da Gartner que estima que, daqui dois anos, chegará a 40% o percentual de pessoas que poderão cortar despesas pessoais com a ajuda de rastreadores fitness. Isso porque eles permitem um acompanhamento mais inteligente, e em tempo real, das informações individualizadas e de recomendações de atividades que evitem problemas.
Outro levantamento, da PwC, mostra que o número de usuários de aplicativos de Saúde aumentou consideravelmente em todo o mundo nos últimos anos. Ou seja, as pessoas estão mais preocupadas com o autocuidado, ao mesmo tempo em que fornecem uma quantidade enorme de dados para as organizações de Saúde que as monitoram.
Nesse cenário conectado e preditivo, todos se tornam responsáveis pelo cuidado: hospitais; operadoras; fornecedores de tecnologias, medicamentos e insumos; pacientes; médicos; enfermeiros; especialistas em finanças, faturamento, cobrança – e por aí vai. Pessoas cuidando de pessoas, com o suporte tecnológico que permite à gestão alcançar a eficiência e a segurança primordiais para a qualidade da assistência e a sustentabilidade das organizações.
Para chegar a essa nova sociedade do cuidar, que surge da união de todos os agentes do setor, é preciso começar a trabalhar já, principalmente no aprimoramento da assistência. A expectativa de vida cresce cada vez mais em todo o mundo. No Brasil, atualmente está em torno de 70 anos, mas deve ultrapassar os 80 anos em 2050 – é urgente pensar em formas de atender essa crescente demanda e a mudança do perfil epidemiológico que vem junto com ela, por meio do aumento das doenças crônicas.
Se esperamos viver mais – e com qualidade – a união e a tecnologia são as respostas para criar um novo modelo de assistência, mais eficiente e com pessoas capazes de cuidar bem de nós. Essa sociedade do cuidar será preventiva, preditiva, centralizada na qualidade de vida e no bem-estar das pessoas – ou seja, desta vez será, de fato, um sistema de Saúde.
Paulo Magnus é presidente da MV