Uma medicina conectada, precisa e mais acessível: esse foi o cenário projetado nos debates e palestras do 1º Summit Saúde. Promovido pela AMCHAM em parceria com o Hospital Moinhos de Vento, o evento reuniu especialistas internacionais para debater a revolução da tecnologia na saúde. Mais de 300 médicos, executivos e profissionais do setor participaram do encontro, realizado no Teatro CIEE, em Porto Alegre (RS), nesta quarta-feira (9).
Para o CEO do Moinhos de Vento, Mohamed Parrini, o Summit foi uma oportunidade de “gerar conhecimento e compartilhar um pouco do que o hospital está fazendo e pensando”. “Também discutimos as inovações que estão transformando o setor”, disse o executivo. Ele utilizou o exemplo dos Estados Unidos para ilustrar a importância da medicina na economia: cerca de 20% do PIB americano tem participação da saúde. “No Brasil, fala-se pouco sobre isso. Somos grandes empregadores e temos um papel essencial no contexto privado e corporativo”, ressaltou.
Superintendente Regional da AMCHAM, Marcelo Rodrigues pontuou que, para se construir o futuro do Rio Grande do Sul, é necessário identificar as verdadeiras vocações do estado. “E a saúde é uma delas, tendo um potencial muito grande para a transformação e o desenvolvimento da sociedade”, destacou. “Com o Summit, queremos contribuir para construir o futuro e fomentar esse mercado.”
O papel do ser humano
Em um futuro próximo, a medicina do jeito que conhecemos hoje está fadada a acabar. A previsão foi de Fabio Mattoso, líder da Watson Health na IBM Brasil. Isso porque, segundo ele, a evolução da tecnologia interligada à exponencial coleta de dados será decisiva no cuidado ao paciente. Isso, no entanto, não substitui o papel do ser humano. “As pessoas têm várias características que as máquinas não têm: senso comum, dilemas, discernimentos éticos e morais, compaixão, imaginação e sonhos. Mas a inteligência artificial elimina vieses, captura dados, identifica padrões, entre muitos outros atributos”, assinalou.
Um dos recursos que tem expandido a abrangência do cuidado com o paciente é a telemedicina. Para debater as tendências do tema, o Summit Saúde convidou Chao Lung Chih, professor associado da Faculdade de Medicina da USP. O especialista disse que essa ferramenta é resultante da transformação digital da sociedade como um todo, que está evoluindo também para casas conectadas e cidades inteligentes. “Vejo o futuro como um ecossistema com hospitais de referência interligados a uma rede segura, portabilidade clínica, centros de convenção digitais para educação, sistemas de telediagnóstico, entre outros”, previu. “A revolução digital será usada para uma inteligência ampliada, em que os homens não serão substituídos, mas sim apoiados pela tecnologia.”
O Coordenador de Telemedicina no Hospital Moinhos de Vento, Felipe Cezar Cabral, trouxe dois exemplos bem-sucedidos da instituição, em parceria com o Ministério da Saúde através do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do SUS (Proadi-SUS). Com o Teleoftalmo, oito escritórios remotos de oftalmologia em diferentes macrorregiões do estado já permitiram 20 mil atendimentos. E o TeleUTIP qualificou a assistência pediátrica em diversas cidades do Brasil, avaliando cerca de 3 mil pacientes por dia e reduzindo consideravelmente os índices de mortalidade infantil. “A telemedicina tem diversos benefícios. Aumenta a produtividade, amplia o acesso e deixa os pacientes mais satisfeitos” resumiu Cabral.
Futuros diferentes
Outros exemplos do Moinhos de Vento, desta vez no uso da tecnologia para automação de processos e melhoria de resultados, foram trazidos pelo Chief Information Officer da instituição, Vitor Tadeu. O especialista em gestão estratégica frisou que “todas as profissões serão transformadas, queiram ou não”. “As tarefas serão automatizadas. A tecnologia já nos permite fazer a customização em massa”, resumiu. No entanto, ele alertou que é preciso fazer “o dever de casa” para que isso ocorra. “Temos de prestar muita atenção nas funções básicas da TI para que essas tecnologias novas funcionem de verdade.”
Membro de um dos institutos mais respeitados da Europa – o Copenhagen Institute for Futures Studies –, Peter Kronstrøm alertou que nosso horizonte está sempre em transformação: “o maior problema do futuro de hoje é que ele é muito diferente do de ontem e do de amanhã.” Segundo ele, está na mão de todos nós a oportunidade de criar aquilo que queremos. “O que está por vir não é algo monstruoso. Ele está sendo elaborado agora, aqui mesmo. Temos a responsabilidade de tentar fazer o melhor.”
O escandinavo compartilhou as 14 megatendências globais estudadas pela organização – entre elas, o foco em saúde. “Hoje, na Europa, investe-se três vezes mais dinheiro nesse setor do que no financeiro, e isso tende a crescer no mundo inteiro. O que as pessoas estão dispostas em gastar em si mesmas não tem limite”. Nesse contexto, de acordo com Kronstrøm, o monitoramento da saúde não vai ocorrer apenas para tratar doenças. “Será o tempo todo”, concluiu.
Sustentabilidade e valor ao paciente
Escolhida como uma das cem pessoas mais influentes no setor de saúde em 2018, Lídia Abdalla ressaltou que o que gera valor para o paciente é oferecer um “setor de saúde mais colaborativo e de cooperação”. A presidente do Grupo Sabin falou sobre modelos de gestão de inovação que se refletem em melhorias ao paciente e a todo o ecossistema. “O perfil dos clientes hoje é muito diferente: mais ágil, informado, orientado a dados e exigente com interfaces. Cada vez mais conseguimos nos tornar relevantes se conseguirmos acompanhar as necessidades do consumidor”, afirmou.
Para encerrar o Summit, a diretora executiva do Grupo Fleury, Jeane Tsutsui contou como as tecnologias estão impactando o modelo de gestão empresarial em saúde. “Muitos questionam como o setor pode ser mais sustentável. Precisamos discutir mais sobre ecossistema de saúde, financiamento, redução de custo, valorização de visão holística do paciente, conceito de experiência e automação das atividades de saúde”, citou. A executiva falou sobre o cuidado com a experiência, o olhar para a saúde populacional como um todo e a relação entre o melhor desfecho com o custo adequado como pontos fundamentais. “Dessa forma, conseguiremos ter qualidade do sistema e trazer valor ao paciente. Precisamos de muita inovação para isso.”