Fonoaudiologia: a volta das clínicas investigativas

Até algumas décadas atrás, quando muitas das tecnologias utilizadas hoje em dia ainda não existiam, ou estavam começando a ser aperfeiçoadas, a área da saúde e, especialmente as paramedicinas, como a fonoaudiologia, se baseavam sobretudo nos sintomas apresentados pelo paciente. Sem exames sofisticados, sem os superespecialistas, eram apenas o profissional, o paciente e sua queixa.

Com o passar dos tempos, exames sofisticados e a superespecialização das profissões, começou também a haver uma distinção entre o sintoma e aquele que o carrega. Era o início do distanciamento entre o profissional e o ser humano.

“Nas clínicas das superespecialidades, o sinal tem existência por si só e é tratado de forma independente do corpo que o carrega”, explica a fonoaudióloga Malka B. Toledano, que dentre as diversas opções técnicas e metodológicas, parte do princípio da hermenêutica, que é a investigação a partir da narrativa do paciente e de sua família.

Malka explica que existem várias clínicas dentro da fonoaudiologia, cada qual com suas maneiras de intervenção, assim como acontece na medicina, que pode ser homeopática, alopática, tradicional chinesa, ayurveda e tantas outras.

“Assim como a medicina, as diversas áreas da saúde possuem diferentes origens, diferentes escolas. Cada uma delas, com um viés de interpretação dos acontecimentos. A fonoaudiologia não escapa desta regra”, explica.

Hermenêutica

A origem da hermenêutica vem de Hermes, o deus grego da investigação, do questionamento, na mitologia grega. Este princípio, que é seguido pela fonoaudióloga em sua prática clínica, vem ao encontro da medicina integral, que é a retomada das origens das investigações clínicas.

“Naquele tempo, a fonoaudiologia, assim como várias outras áreas, era considerada clínica de enfermidades. O diagnóstico era feito exclusivamente a partir da narrativa do paciente sobre seu incômodo, sua enfermidade. Este era o ponto de partida para o clínico, que tem sido retomado em muitas clínicas, permitindo ampliar o olhar da queixa para o paciente, para quem carrega aquele sintoma.”

A clínica investigativa é praticada por profissionais que buscam compor o diagnóstico junto dos dados observáveis, sejam eles médicos, fonoaudiólogos, psicoterapeutas, fisioterapeutas e muitos outros, trabalhando, inclusive, conjuntamente.

“São profissionais que vão além da observação, partindo do pressuposto de que o que o sujeito relata acerca da própria dor tem tudo a ver com a dor que lhe confere, com a formação desse sintoma. Esta é, também, a minha visão de clínica, a forma como eu realizo os meus pressupostos de avaliação, diagnóstico e terapia fonoaudiológica.”

Este movimento inverso de busca às origens das diferentes áreas, trazendo de volta a prática realizada antes das super especialidades, não abre mão de toda a tecnologia e dos avanços surgidos desde então, muito pelo contrário. Se beneficia de tudo aquilo que está ao alcance do seu paciente, mas tratando-o como um ser humano inteiro, e não observando apenas as partes nas quais estão localizadas as queixas.

Redação

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