O termo “coach”, ou para ser mais preciso “treinador”, está na moda, mas no universo da saúde ganhou muito sentido entre pessoas que enfrentam o câncer e que, além de contarem com a medicina de ponta, traçam metas para seguirem suas vidas. Um estudo do Americas Oncologia, que contemplou pacientes dos hospitais Paulistano e Samaritano Higienópolis, aponta que 70% deles relataram melhora em seu bem-estar emocional após as sessões da técnica. “Tratar o paciente com câncer não consiste apenas na quimioterapia ou na radioterapia. É muito importante o relacionamento, a humanização”, diz Dr. Raphael Brandão, um dos autores do estudo e chefe do núcleo de oncologia das unidades de saúde.
Aproximadamente 75% dos pacientes relataram sintomas de ansiedade ou depressão. “Os resultados demonstraram que a área de maior impacto da intervenção de coaching em pacientes com câncer foi o bem-estar emocional e isso pode justamente ajudar na diminuição destes sintomas”, completa o oncologista. É importante lembrar que o coaching não é uma abordagem terapêutica para tratar desses transtornos. Os efeitos de bem estar emocional decorrentes do processo estão relacionados aos níveis de autoconhecimento e de gerenciamento de qualidade de vida.
O trabalho foi aprovado em Harvard e a pesquisa científica será apresentada agora em outubro no Institute of Coaching da Harvard University. A maioria dos pacientes analisados era do sexo feminino (82%), e o tipo mais comum de câncer foi o câncer de mama (58%). Foram abordadas desde questões como a forma de encarar o trabalho, um novo corpo, até como passar mais tempo com a família. “O câncer me fez amadurecer. Durante as atividades percebi que o clima na minha casa não estava em harmonia e como meta consegui me aproximar dos meus filhos, com ações que começaram com um abraço, coisa que eu não fazia faz muito tempo, até mesmo a programar passeios e deixá-los mais tranquilos”, diz a professora Mirian Bomfin Bill, de 52 anos, que acaba de enfrentar um câncer de mama.
Segundo o coach do programa, Ricardo Lima, as sessões são focadas na resolução de problemas e no atingimento de metas, estimulando a automotivação, gestão de mudanças, resiliência, e a positividade. “É diferente de uma terapia, trabalhamos o autogerenciamento, em complemento a um trabalho psicológico e médico já existentes”. “Concluímos também que melhorou a comunicação com os médicos, adesão ao tratamento e estabelecimento de hábitos de saúde”, salienta Lima.
O Coaching Oncológico, que começou nos hospitais Paulistano e Samaritano Higienópolis em março de 2018, beneficiou mais de 300 pacientes que receberam aproximadamente cinco sessões individuais e gratuitas, com uma hora de duração cada uma, com o intuito de auxiliá-los em sua rotina durante o período do tratamento. Após mais de um ano de estudo, uma amostra destes pacientes foi analisada e os especialistas observaram uma satisfação de 94% (satisfeitos/extremamente satisfeitos).
O administrador João Vilela, 37 anos, enfrentou um câncer de intestino com metástase no fígado e pulmão e já conseguiu aplicar na prática o que aprendeu: “o coaching me ajudou a enxergar a vida além da doença. Aprendi a conviver no dia a dia com as pessoas, a confiar, ter amigos. Antes ficava mais restrito a ajuda dos meus pais”.
Estudo
“Hybrid model coaching for oncology patients in a Brazilian tertiary cancer center: do patients face the disease better?”
O estudo avaliou impacto e a viabilidade da aplicação de um modelo híbrido de Life and Health Coaching na qualidade de vida e na autoeficácia de pacientes em diferentes estágios de evolução do câncer. Informações sobre o impacto do programa de coaching na vida cotidiana foram coletadas por meio de pesquisas.
· Maioria dos pacientes era do sexo feminino (82%) com doença localizada ou localmente avançada (73%).
· O tipo mais comum de câncer foi o câncer de mama (58%), seguido de gastrointestinal (22%), ginecológico (7%) e geniturinário, hematológico, pulmonar e hematológico (2% cada).
· A maioria dos pacientes recebeu ECOG 0-1, quimioterapia (67%) ou terapia endócrina (22%).
· Aproximadamente 75% dos pacientes relataram sintomas de ansiedade ou depressão, mas apenas 60% necessitaram de terapia psicológica e 22% usaram medicamentos psicotrópicos.
· As principais áreas de impacto foram bem-estar emocional (66.6% pacientes), seguidas por autogestão da doença e realização de metas pessoais (44% pacientes).
· A média de idade dos participantes foi de 52 anos (alcance: de 29 a 78 anos).