Vera Lúcia de Faria, de 69 anos, sofreu um AVC em maio deste ano e ficou internada por uma semana no Hospital Icaraí (HI), em Niterói, Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Ela realizou ressonância magnética de urgência para o diagnóstico avançado de imagem, e se transformou em mais um exemplo de sucesso do protocolo de tratamento agudo do Acidente Vascular Cerebral (AVC) adotado pelo hospital.
Vera, que teve seu caso neurológico agudo revertido, conta que a eficiência e pronto atendimento que recebeu da equipe médica do hospital foram aspectos que lhe marcaram bastante. “Me senti mal em casa e pedi um taxi até a emergência do hospital. Ao chegar lá, imediatamente no primeiro contato que tiveram comigo, já identificaram que eu estava tendo um AVC. Realizaram todos os procedimentos, tomei uma injeção. Foi tudo muito rápido. Parecia que a equipe já estava me esperando”, relata.
Ela ressalta a segurança da equipe médica do hospital com relação aos processos relativos ao Covid-19 e o tratamento com os pacientes que estavam internados com outras patologias: “Me deram uma tranquilidade muito grande em relação ao vírus, com a higienização e o uso das máscaras. Sempre que ia fazer os exames, ia com máscara, com todo respaldo. Tudo isso me fez sentir segura e pensando apenas na minha recuperação”, diz.
O Hospital Icaraí está inserido em um grupo de vários países que compõem a Iniciativa Angels, uma coordenação internacional de vários centros médicos que se capacitam em atender pacientes com AVC.
A equipe de neurologia desenvolveu um protocolo de tratamento agudo ao Acidente Vascular Cerebral (AVC). A equipe, treinada continuamente para estar à frente do protocolo, conta com o acesso à alta tecnologia e exames avançados, como angiotomografia arterial e ressonância magnética, que permitem tratar o AVC com mais tempo de evolução.
Segundo Guilherme Torezani, gerente médico do protocolo de AVC do Hospital Icaraí, a unidade hospitalar procurou alinhar a estrutura tecnológica que possui – com recursos de ressonância, tomografia e hemodinâmica – ao treinamento intensivo de suas equipes, desenvolvendo assim o protocolo de AVC no hospital.
“O treinamento das equipes visa gerenciar tanto o tratamento na fase aguda quanto no período de reabilitação no hospital. A finalidade é oferecer o melhor para o paciente, de forma que ele não seja apenas tratado adequadamente, mas que as complicações que possam ocorrer sejam gerenciadas pontualmente. Entendemos o impacto que nós, profissionais de saúde, podemos ter na vida do paciente que tem o sintoma neurológico e que muitas vezes não encontra um local de referência para ser tratado”, diz.
Ele explica que o treinamento é multidisciplinar, englobando não somente profissionais de saúde direta, como médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e fonoaudiólogos, mas também componentes das equipes operacionais e administrativas, como recepcionistas e seguranças: “No hospital, todos vão aprender a conhecer os sinais de um AVC e comunicar as equipes diretas para que se os pacientes em sala de espera – ou mesmo os que estão internados por qualquer outro motivo – tiverem algum aspecto diferente que aponte a manifestação da doença, isso possa ser sinalizado rapidamente para que se consiga fazer a intervenção de forma mais adequada”, relata.
Guilherme conta que o protocolo de AVC já vem sendo adotado mundialmente há algum tempo, se mostrando eficaz nos tratamentos da lesão neurológica, o que fez com que o Hospital Icaraí buscasse aplicá-lo como modelo em suas instalações e atividades médicas.
Tempo é cérebro
O neurologista esclarece que uma vez identificado o AVC, existem muitos procedimentos a serem feitos na medicina moderna. Porém, segundo o especialista, quanto mais cedo for realizada a intervenção médica após o início do sintoma, melhores as chances de reverter a isquemia e evitar sequelas. “Os médicos têm poucas horas para poder fazer um medicamento e aplicar procedimentos que revertam essa obstrução da artéria, o que faz com que o sangue volte a circular naquela região que havia perdido o fluxo sanguíneo”.
O profissional elucida que a cada um minuto, passada a obstrução da artéria, cerca de dois milhões de neurônios vão morrer na região acometida. Portanto, essa é a importância de saber identificar a situação em tempo hábil, visto que perdendo-se tempo, perde-se também neurônios.
“Tem uma máxima que diz que tempo é cérebro. Deve-se correr com esse paciente para um hospital que seja capacitado para atender e realizar a intervenção guiada corretamente, dentro de um protocolo, com respaldo na literatura médica”, explica, acrescentando que muitas vezes um paciente tem um sintoma em casa e, como não está acompanhado por alguém, ou mesmo quando se identifica o sintoma, demora-se muito tempo para tomar uma atitude, achando que a situação vai passar normalmente, e nisso se perde muito tempo.
Guilherme esclarece que o tempo de intervenção para se fazer um medicamento na veia, que reverta o quadro, é de até quatro horas e meia, porém é necessário que a equipe responsável tenha capacidade técnica para intervir adequadamente.
“Comparamos muito com uma equipe de pit stop na Fórmula 1. Nos anos 80, demoravam muito tempo para trocar a roda e fazer a manutenção do carro. E, analisando um vídeo atual, vemos como o serviço está otimizado. No hospital, com uma equipe treinada, em que cada um sabe o que tem que ser feito no fluxo, com tudo já sedimentado, a intervenção se dá em tempo muito mais hábil”, afirma.
A tecnologia potencializando o tratamento
O doutor Torezani explica que o Acidente Vascular Cerebral (AVC) já é a segunda maior causa de morte no mundo. Trata-se de uma lesão no cérebro. Várias artérias nutrem o nosso cérebro e, em dado momento, ocorre uma obstrução que compromete o fluxo de sangue – ele deixa de ser entregue para uma região cerebral. Essa região, conforme sofre a perda de sangue, para de funcionar. Portanto, surgem os sintomas agudos, a exemplo da boca que fica torta, o braço pesado e as dificuldades na fala.
De acordo com Guilherme, o Hospital Icaraí oferece a possibilidade, pois não são todos os casos que possuem indicação, do uso da ressonância na fase aguda – que é uma adição tecnológica muito importante.
“Vamos ter a disponibilização da terapia de trombectomia mecânica, que permite que se consiga intervir além das quatro horas e meia e ainda assim tratar o paciente, colocando-o na sala de hemodinâmica e fazendo a intervenção direta por meio da retirada do trombo de dentro da artéria, desobstruindo o fluxo de sangue”, explica Guilherme.
“Trata-se de mais um recurso que temos de alta tecnologia. E, claro, contamos com uma rede de terapia intensiva extensa, com quatro CTIs, e uma unidade coronariana que conseguem tratar o paciente com todo suporte de monitoramento e de neurocirurgia 24 horas por dia, mitigando possíveis complicações. Todo o protocolo é pautado em evidências científicas”, completa.