Com o advento da internet e das redes sociais, qualquer cidadão que tenha vontade de expor sua opinião sobre o assunto que achar pertinente pode influenciar milhares de pessoas. O que poderia ser apenas fonte de entretenimento e ambiente de socialização virtual, passou a interferir na saúde de muitas pessoas. Hoje, além de muita informação equivocada ser disseminada pela internet, as pessoas estão recorrendo cada vez mais ao “Dr. Google” em busca de diagnósticos e tratamentos, e colocam em xeque teorias científicas.
As chamadas fake news se tornaram ainda mais nocivas quando vivemos uma pandemia cercada de incertezas, como é o caso da Covid-19. Para falar sobre o assunto com propriedade, a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) reuniu especialistas da área na live “Os desafios contemporâneos de comunicação em tempos de pandemia | O poder da informação e seu impacto na sociedade”, transmitida ao vivo em 18 de junho, no canal da Anahp no YouTube.
Mediado por Paulo Barreto, conselheiro da Anahp e CEO do Hospital São Lucas, o debate se iniciou com uma análise do próprio sobre os impactos da tecnologia na agilidade com a qual a troca de informações sobre a Covid-19 tem sido feita ao redor do mundo. “Graças à velocidade da comunicação, conseguimos avançar e aprender com aqueles que vieram antes de nós”, afirmou. Mas frisou que “por outro lado, essa evolução traz consequências negativas, como a disseminação de informações não confiáveis”.
Para falar sobre esse combate à desinformação, o encontro contou com a presença de Ana Miguel, responsável por multimídias e pelo projeto Saúde sem Fake News do Ministério da Saúde (MS). Ativo desde 2018, o programa começou monitorando as redes de maneira ampla e eficaz, porém, não era suficiente, já que a distribuição de inverdades estava ascendendo em aplicativos de conversa privada. “Criamos um canal para que as pessoas pudessem tirar suas dúvidas, via WhatsApp, diretamente com o MS. Antes da pandemia, boa parte era relacionada à vacinação e alimentos milagrosos”. Desde o surgimento da pandemia, em janeiro deste ano, mais de 50 mil perguntas foram respondidas pelo aplicativo.
Vivendo em um cenário bastante parecido, Flávio Benvenuto, coordenador de Comunicação da Secretaria Estadual de Saúde do Estado de São Paulo, falou sobre como foi a transformação de sua área no epicentro da pandemia no Brasil. “Vivências anteriores ajudam, mas nunca havíamos passado por algo semelhante. Fazemos coletivas de imprensa quase que diariamente, entramos no Instagram, criamos um Centro de Contingência com médicos que possuem uma vasta experiência como comunicadores dentro da saúde, mesmo assim, seguimos aprendendo e tentamos melhorar todos os dias”, conta.
O dinamismo da situação é inegável. Admitir equívocos e rever inciativas, muitas vezes, é o que fortalece a credibilidade de quem está na linha de frente. “Não montamos um planejamento porque simplesmente não era possível. Tivemos que ser ágeis e transparentes, assumindo que havia perguntas para as quais ainda não tínhamos as respostas”, conta Vanessa Amorim, superintendente de Marketing e Comunicação do Hospital Israelita Albert Einstein, instituição em que o primeiro caso de Covid-19 foi confirmado, no dia 25 de fevereiro. Assim, conforme aconteciam as descobertas sobre a doença, o blog “Vida Saudável”, criado pelo hospital em dezembro de 2019, era alimentado com as informações. Com a iniciativa, o canal se tornou uma das principais fontes de informações confiáveis durante a pandemia.
Outra plataforma criada com o mesmo intuito foi o “Todos Juntos Contra Covid 19”, da Medportal, que consiste na curadoria de conteúdo voltado para profissionais e lideranças de saúde, disponibilizado gratuitamente. “A partir do momento em que a pandemia chegou ao Brasil, paramos e ligamos para os nossos parceiros para nos colocar 100% à disposição, mas entendemos que era o momento de ir além da nossa rede”, conta Thiago Constancio, CEO da Medportal, empresa de soluções digitais em educação para o setor saúde .
Credibilidade e transparência também fazem parte do negócio de Joel Amorim, diretor na América Latina da The Insiders, rede de influenciadores digitais que relatam percepções reais de suas experiências. Apesar da onda de fake news, Joel acredita que nos últimos tempos “cada vez mais pessoas buscam por fontes confiáveis, informações e opiniões vindas de pessoas de verdade”.
O encontro mostrou que há muitas semelhanças nos desafios enfrentados por diferentes players nesse momento, mas também elucidou a união como o caminho comum para o êxito. Desde a integração entre as equipes assistenciais e de comunicação, para que a informação chegue da maneira mais clara e compreensível para os cidadãos, até a união entre as empresas, indústrias e o setor público, em prol da democratização do conteúdo de qualidade.
Em meio à uma pandemia cercada de dúvidas, a busca por respostas é dever daqueles que possuem ferramentas para tal. E o acesso, um direito de todos.