Eles estão na linha de frente do combate à pandemia de Covid-19 e, ao mesmo tempo que são reconhecidos como “heróis” da sociedade, recebem pressão gigantesca em seus trabalhos. Os médicos e enfermeiros que atendem os pacientes com o novo Coronavírus são os responsáveis por tentar conter a doença num cenário em que o contágio não para de subir no Brasil. É um esforço que pode trazer consequências graves para a saúde mental dessas pessoas se não houver o cuidado necessário para preservá-las durante a pandemia e, principalmente, quando ela se normalizar.
Os dados mostram um pouco da pressão que os profissionais de saúde sofrem todos os dias em suas rotinas. Pesquisa da Associação Paulista de Medicina (APM) mostra que praticamente oito em cada dez médicos e enfermeiros (79,3%) estão mais apreensivos, pessimistas, deprimidos, insatisfeitos ou revoltados com o atual momento – somente 20,7% dos entrevistados se mostraram otimistas. Um dos principais problemas é a situação de impotência: apenas 22,3% se consideram plenamente aptos para atender seus pacientes em qualquer estágio da doença.
É preciso reconhecer que a pandemia é uma situação inédita para todos os profissionais de saúde no Brasil. Ainda que o país tenha pesquisas e trabalhos científicos de qualidade na área, o avanço rápido da doença evidenciou os desafios que o sistema de saúde nacional enfrenta atualmente. Enquanto a pandemia avançava rapidamente, médicos e enfermeiras foram obrigados a trabalharem nos limites físicos e psicológicos, com plantões exaustivos e carga de trabalho elevada. Além disso, estão se deparando com situações de morte de pacientes em uma escala jamais vivenciada em outros tempos.
O cenário desolador pode provocar quadros de burnout (estresse relacionado ao trabalho), depressão, ansiedade, entre outros, prejudicando ainda mais o tratamento da doença no país. Assim, a prevenção é o melhor caminho nesse momento, com a presença de psicólogos, psicoterapeutas e psiquiatras nos centros hospitalares para prestarem esse atendimento aos profissionais. Esses especialistas precisam ter formações e especializações específicas para lidar com o tipo de demanda, sabendo manejar os casos corretamente e lidando com as necessidades de saúde mental dos profissionais de saúde.
Atender médicos, enfermeiros e demais profissionais que estão na linha de frente do combate a uma pandemia global é algo complexo até para psicólogos mais experientes. A atualização de conhecimentos é imprescindível, uma vez que o desafio de lidar com as emoções e os sentimentos dos outros, suportar suas angústias e seus conflitos bem como cuidar da melhor forma traz cada vez mais responsabilidades. A boa notícia é que já há instituições de ensino superior que oferecem cursos de especialização que contribuem para a melhoria da saúde mental dos profissionais de saúde, tanto na área clínica como em hospitais.
Médicos e enfermeiros são os principais personagens no combate à pandemia de Covid-19. O sucesso desta empreitada, portanto, depende não apenas da estrutura hospitalar, mas da própria condição física e mental desses profissionais. Em artigo recente sobre os impactos da doença na saúde mental nesse setor, os pesquisadores Felipe Ornell, Silvia Halpern, Felix Kessler e Joana Narvaez, de Porto Alegre, concluíram citando que é “imperativo que recursos sejam investidos para promover significativamente a saúde mental desses profissionais da linha de frente, tanto em termos de pesquisa, quanto de prevenção e tratamento”. Dessa forma, garantimos que nossos “super-heróis” possam continuar atuando da melhor forma para combater uma doença que assustou todo o mundo em 2020.
Profa. Mestra Giseli Caterine Miranda Cassimiro é coordenadora de Pós-graduação em Saúde (Psicologia), Lato Sensu, do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL
O problema maior entre nós nao é tao somente o crescente numero de pacientes que perdemos, mas o processo doloroso de ver alguem que a poucas horas estava acordado interagindo, evoluir para TOT e nao ter muita expectativa a respeito da sobrevida do paciente, muitas vezes por falta de recursos que nao é novidade nenhuma no SUS, muitos desses pacientes sao idosos, ou seja, pessoas Frageis da nossa sociedade que temos muito afeto, sem nem mesmo os conhecermos, hj mesmo no plantao agora a pouco, pude precensiar o que,dentro das expectativas clinicas, era o ultimo sorriso de uma paciente idosa poucos minutos antes de realizarmos a intubaçao, depois dela sorrir devido a uma situaçao inusitada que ocorreu dentro do setor, entrou a sedaçao e é o tipo de momento impossivel de nao se comover.
Faço um apelo as autoridades que fazem a gestao de nossos hospitais publicos, ao menos uma vez, deixem de lado os interesses pessoais e se compadeçam da populaçao, invista nos hospitais, nos dê muniçao para que possamos fazer o nosso melhor pelas vidas a nós confiadas