Aprovado o registro da primeira terapia gênica para AME no Brasil

Foi publicada hoje no Diário Oficial da União a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do registro da primeira terapia gênica no Brasil e na América Latina para o tratamento de pacientes com até dois anos de idade com atrofia muscular espinhal (AME), doença rara causada pela mutação do gene SMN1. Sem o funcionamento correto desse gene, crianças com AME perdem neurônios motores responsáveis pelas funções musculares.

Este é um tratamento desenvolvido para agir na causa-raiz genética da AME, fornecendo uma cópia funcional do gene SMN1 com uma única infusão intravenosa, modificando a história natural da doença. “A AME é uma doença grave, que traz muitos desafios aos bebês. Se não tratados, a forma mais grave pode tornar os pacientes incapazes de realizar movimentos como levantar a cabeça, sentar ou rolar e pode, inclusive, levar ao óbito precoce”, explica a Dra. Vanessa Van der Linden, médica neuropediatra do RARUS – Centro de Referência em Doenças Raras de Pernambuco.

A AME é uma doença neuromuscular genética rara, causada por um defeito no gene SMN1. Sem um gene SMN1 funcional, bebês com a doença perdem os neurônios motores e, consequentemente, as funções musculares, como respirar, engolir, falar e andar. Se não for tratada, os músculos tornam-se progressivamente mais fracos e, na forma mais grave da doença, pode acabar levando a problemas respiratórios graves ou morte até os dois anos de idade em mais de 90% dos casos. A AME é a principal causa genética de mortalidade infantil.

É importante ressaltar que a degeneração e a perda de neurônios motores geralmente começam logo após o nascimento e progridem rápido, com até 95% de perda até os 6 meses de idade. Por isso, é fundamental o diagnóstico precoce da doença para que o tratamento seja o mais eficiente possível. “Com a AME, o diagnóstico precoce é essencial para o tratamento ágil e, assim, evitar a progressão da doença”, afirma a Dra. Vanessa. “É preciso continuar também trabalhando para que a AME entre no Teste do Pezinho, para que seja diagnosticada antes mesmo dos primeiros indícios clínicos e para que o tratamento seja realizado com a menor perda possível de neurônios motores, possibilitando mais qualidade de vida à criança na sequência de sua vida”, complementa.

“O registro na Anvisa é fundamental para os pacientes. É o primeiro passo para a entrada da terapia gênica no país e traz muita esperança para as famílias. Quem tem AME, tem pressa. Por isso precisamos conquistar os próximos passos com velocidade, ou seja, a incorporação e disponibilização do tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Precisamos garantir o acesso às crianças com AME, junto com outras políticas públicas capazes de garantir qualidade de vida para os pacientes. É nisso que acreditamos e é para isso que trabalhamos todos os dias”, enfatiza Diovana Loriato, diretora do Instituto Nacional da Atrofia Muscular Espinhal (Iname).

Terapia gênica

Terapia gênica é uma modalidade inovadora, que poderá apoiar, principalmente, pacientes de doenças genéticas raras. Essa técnica age fornecendo o gene saudável no paciente, visando à correção da mutação causadora de doença presentes no DNA do paciente, com a introdução do material genético em tecidos e em células com fins terapêuticos. Ela pode atuar simplesmente na adição de genes ativos (porções do DNA responsáveis pela síntese de proteínas para o bom funcionamento do organismo), ou na modificação ou supressão de genes defeituosos no código genético, visando à produção de proteínas funcionais. Para que a técnica seja possível, são utilizados vetores virais recombinantes (tornando o vírus completamente inofensivo e sem potencial patogênico) que permitem o transporte do gene terapêutico saudável para o interior das células e dos tecidos alvo.

“A terapia gênica representa uma nova era na medicina. Talvez a melhor oportunidade que a ciência pode oferecer para as doenças raras, fundamentada em mais de quatro décadas de pesquisas científicas, durante as quais o processo foi desenvolvido, testado e aperfeiçoado por especialistas”, afirma o médico geneticista Roberto Giugliani, Professor Titular do Departamento de Genética da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências e da Sociedade Brasileira de Genética Médica.

“Traçando um paralelo com grandes marcos da inventividade humana, podemos dizer que, com a terapia gênica, está se iniciando um novo capítulo na história da medicina. Hoje, de fato, o Brasil entra no século das terapias avançadas, inaugurando uma nova fronteira da medicina, da biologia e da genética”, complementa.

Redação

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