O Brasil deve atingir hoje a marca de 500 mil médicos. Segundo levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM), há precisamente 499.990 profissionais da medicina em atividade no país (dados desta quarta-feira, 4/11). Concentrando 28,50% do total de inscrições ativas, São Paulo é o Estado que possui a maior quantidade de médicos: ao todo, são 142.243. Com o número expressivo (razão aproximada de 2,36 médicos por mil habitantes), o país ainda sofre com uma grande desigualdade na distribuição da população médica entre estados, capitais e cidades do interior.
Para, o presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem), Raul Canal, analisando o cenário, não é difícil constatar que o volume não resolve o problema de saúde do Brasil, uma vez que uma porcentagem mínima desses profissionais está em municípios de até 50 mil pessoas – e estes são maioria entre as cidades brasileiras: “A má distribuição de profissionais não resulta de um suposto desinteresse dos médicos, que até chegam a migrar para essas regiões. O que se observa é a falta de infraestrutura básica em algumas regiões, o que expõe um enorme abismo na saúde do Brasil”.
“Em municípios menores e distantes dos grandes centros há uma evidente falta de acesso aos serviços de saúde. Os médicos acabam desistindo de atuar nesses locais, onde sofrem com a ausência de uma infraestrutura mínima: não há hospitais, postos, remédios, transporte. Diante dessa falta de perspectiva, o profissional não consegue resistir por muito tempo, especialmente quem está longe da sua rede de apoio. A questão é complexa e requer respostas à altura. É preciso, ao menos, assegurar condições básicas para a assistência efetiva à população”, enfatiza o especialista em Direito Médico e Bioética.
Para Canal, o Brasil precisa trabalhar arduamente na melhoria da infraestrutura de saúde e numa melhor distribuição de profissionais, dando a eles o suporte que precisam. Assim como o Sistema Único de Saúde (SUS), enfatiza ele, esses profissionais precisam ser protegidos, além de ter corrigida em suas deficiências a estrutura de atendimento na qual atuam. “Muitas das vezes, são essas falhas estruturais que os impedem de prestar um atendimento mais adequado e humano aos pacientes. Neste momento em que a saúde é prioridade no mundo todo, temos uma chance inigualável de aprofundar o debate”, analisa.
Covid-19
Durante o enfrentamento à Covid-19 no Brasil, 387 médicos foram a óbito, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM). Entre os enfermeiros, de acordo com o Conselho Federal de Enfermagem, o número chega a 460. Para a Anadem, os dados reforçam a importância de serem promovidas iniciativas que busquem preservar a integridade física e mental dos trabalhadores da área da saúde ou até mesmo compensar aqueles tenham sido contaminados durante o atendimento às pessoas infectadas.
Só para se ter uma ideia da fragilidade mental dos profissionais da linha de frente, apenas 14,2% sentem-se preparados para lidar com o novo Coronavírus, segundo pesquisa do Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB), da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas. A maioria (64,97%) respondeu não estar apta para trabalhar na pandemia. O restante não soube responder.
“Com a pandemia, nossos profissionais têm demonstrado o seu grande valor, embora efetivamente pouco se faça para reconhecê-los. Vídeos, posts de agradecimento e palmas organizadas não bastam para quem está na linha de frente. O amparo especializado é essencial. São primordiais as ações integradas para afastá-los da depressão, da ansiedade e do estresse pós-traumático. É valorizando e fortalecendo a classe que vamos melhorar a saúde da população”, conclui Raul Canal.