Pesquisa inédita liderada por especialistas do HCor e da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo – SOCESP, publicada neste sábado (14) no The New England Journal, reconhece uma nova opção de tratamento para pacientes que convivem com fibrilação atrial e doença cardíaca valvar, doenças que têm como maior consequência o risco aumentado de acidente vascular cerebral (AVC). O trabalho foi debatido também em sessão científica do Congresso Anual da American Heart Association – AHA no sábado passado (14).
O anticoagulante Rivaroxabana se mostrou tão eficaz e seguro quanto a medicação de referência no tratamento, a Varfarina, além de proporcionar mais comodidade e qualidade de vida aos pacientes por reduzir as consultas de monitoramento frequente e ter menos interações medicamentosas ou com alimentos.
No total, foram acompanhados 1.005 pacientes, de 49 centros médicos, com doença valvar – que fazem uso de prótese biológica (produzida a partir do tecido de porco ou boi) – e fibrilação atrial. O estudo denominado River dividiu os participantes aleatoriamente em dois diferentes grupos: o primeiro, designado ao uso de Rivaroxabana, e o segundo, que manteve o tratamento clínico padrão com Varfarina. Ambos foram acompanhados durante 12 meses avaliando-se a ocorrência de óbito, problemas cardiovasculares graves ou sangramentos sérios.
A pesquisa confirmou a não-inferioridade da Rivaroxabana em comparação à Varfarina, ou seja, assegura a médicos e pacientes que a medicação pode ser utilizada como nova opção de tratamento. “Estudos de não-inferioridade são desenvolvidos com o objetivo de determinar se um novo tratamento ou procedimento preserva a eficácia e segurança de outro já estabelecido”, explica o superintendente do Instituto de Pesquisa do HCor (IP-HCor) Alexandre Biasi.
Os resultados podem mudar o protocolo utilizado internacionalmente para tratar quem precisa se submeter à cirurgia de troca de valva para corrigir disfunções no coração. O estudo eleva o HCor ao patamar de duas publicações no maior jornal da área médica, feito inédito no segmento hospitalar. “Para a SOCESP também é um enorme feito ter o reconhecimento internacional de uma publicação de referência para um estudo que traz novos horizontes para o tratamento da doença cardiovascular”, afirma o presidente da SOCESP, João Fernando Monteiro Ferreira.
A pesquisa do HCor e SOCESP foi conduzida no Brasil como iniciativa do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS), liderado pelo Ministério da Saúde e a doação de medicamentos da farmacêutica Bayer.
Fibrilação atrial e doença cardíaca valvar
A fibrilação atrial é o tipo mais comum de arritmia cardíaca e decorre da irregularidade da transmissão dos impulsos elétricos que coordenam as batidas do coração. Por causa disso, os átrios, localizados na parte superior do músculo cardíaco, se contraem de forma irregular e o número de batidas por minuto pode aumentar de repente. A fibrilação provoca má circulação sanguínea e os anticoagulantes são prescritos para evitar o risco de AVC e até infarto.
Já a doença cardíaca valvar ocorre quando uma das quatro válvulas do coração, que são responsáveis por manter o fluxo de sangue na direção adequada, não funciona normalmente. Para corrigir esse problema, o paciente passa por uma cirurgia de reparação ou mesmo para implantar uma válvula mecânica (de metal) ou biológica.
A estimativa é de que 300 mil válvulas sejam implantadas a cada ano. No Brasil, o quadro representa uma das principais causas de hospitalização devido a problemas cardíacos. “A associação entre o implante e o risco maior de eventos trombóticos faz com que o uso de anticoagulantes orais seja indicado a longo prazo, ou até pelo resto da vida”, explica o médico, pesquisador e presidente do Comitê Executivo do estudo, Otávio Berwanger, atualmente coordenador de Estudos Populacionais da SOCESP.