Uma sociedade 5.0 é aquela na qual tecnologias como Big Data, Inteligência Artificial e Internet das Coisas (IoT) são usadas para criar soluções com foco nas necessidades humanas. E na área da saúde não será diferente. Porém, o grande desafio é fazer com que a digitalização na saúde seja acessível, de forma global, para todos. Esse foi um dos pontos centrais, além da valorização humana, que marcou os debates da terceira edição do Anestesia 4.0, evento anual da Anestech Innovation Risign.
Depois de mais de 7 horas de muita discussão, apresentação de cases e interação com o público, a opinião dos especialistas é unânime: a digitalização e o uso da inteligência artificial é um caminho sem volta para o setor da saúde, mas ainda falta bastante para que ela seja uma realidade factível para todos os profissionais e pacientes. “O desafio é mudar o mindset de todo um setor e tornar a digitalização acessível para todos”, destaca o médico anestesiologista e CEO da Anestech Innovation Rising, Diogenes Silva. A empresa, referência em tecnologia e inovação em anestesiologia, prevê um crescimento de 275% em 2021, com base neste cenário da saúde 5.0.
Para o médico Fernando Uzuelli, um dos speakers do Anestesia 4.0, não há dúvidas que estamos em um cenário 4.0, mas convivendo ainda com mercados em momentos anteriores. “É possível construir um novo momento, porém é preciso criar uma cultura para que a transformação na infraestrutura seja colocada em prática, e isso só será possível através do engajamento das pessoas, das sociedades médicas e dos profissionais. As estruturas estão postas, precisamos agora de engajamento”, diz.
Um outro ponto bastante discutido no Anestesia 4.0 – Construindo a Saúde 5.0 foi o papel das pessoas nesse cenário que caminha para uma ampla digitalização. Para Daniel Greca, líder de saúde na KPMG no Brasil, é essencial olhar a tecnologia como meio e não como fim. A transformação vai acontecer e só não está mais acelerada por ser na saúde. “Acredito que irá acelerar nos próximos anos, porém é indispensável investir em pessoas que atuam neste meio. Afinal, elas são vetores essenciais da transformação, ainda mais na saúde”, orienta. O mesmo pensamento foi endossado pelo fundador e CEO da GesSaúde, professor, palestrante e apresentador do Canal GesSaúde no Youtube, Roberto Gordilho, na palestra “A nova gestão em saúde”. “Temos que estar, cada vez mais, preparados para esse processo de transformação e, com isso, continuarmos sendo relevantes. Não cabe mais medicina do século 21 com gestão do século 19. Chegou a hora do pensamento digital dos profissionais e gestores de saúde”, destaca.
O Anestesia 4.0 – Construindo a Saúde 5.0, realizado pela Anestech Innovation Rising, teve o patrocínio de Volan, Aspen Pharma e Mindray Brasil. A programação foi composta por keynotes, palestras e apresentações de cases de sucesso focados na construção de uma saúde 5.0. Para quem perdeu, a gravação do evento está disponível no Youtube.
Confira um bate-papo com o CEO da Anestech, Diogenes Silva.
- O uso da tecnologia já é, de fato, um caminho sem volta na medicina?
A medicina incorpora novas tecnologias desde sempre. Um exemplo é a invenção do estetoscópio, símbolo da medicina, uma inovação de René Laennec de 1818 e, para a época, alta tecnologia prontamente adotada pela maioria dos médicos.
Isso se repete com pulmões de aço, tomografia e a própria anestesia e, portanto, é um hábito na medicina a incorporação constante de novas tecnologias para prestar atenção à saúde das pessoas.
A pergunta correta é se a digitalização da saúde é um caminho sem volta. E a resposta é um sonoro sim. Assim como o mercado financeiro que hoje é 100% digital, o cuidado com a saúde das pessoas vai tornar-se também 100% digital e já está próximo disso, com enormes vantagens para todos os envolvidos, mas principalmente em eficiência ao tratamento do paciente e sustentabilidade econômica.
2. Onde ainda encontramos resistência e como contorná-la?
Encontremos resistência em três frentes e todas elas calcadas no que é mais moroso e resistente à transformação digital: a cultura. Primeiro temos resistência da classe de prestadores de serviço em saúde, que como toda a classe tende a entrar em uma zona de conforto e afastar-se da inovação, ou criticar e combater antes de entender os benefícios ao paciente e à sua própria rotina. Em segundo lugar a resistência dos órgãos regulamentadores, que não possuem em seu DNA a vocação por inovação, pelo contrário.
A Telemedicina nos mostrou o quanto foi barrada e mal interpretada pelos órgãos regulamentadores e todos sabemos que acabou se tornando uma prática corriqueira na atenção à saúde na atualidade. Por fim, o próprio mercado, com players consolidados que resistem às novidades com um ímpeto cego de manutenção do status quo, sem se conectar com inovações e novas tendências com medo ou ressentimento de estar perdendo mercado.
A melhor maneira de contornar essas resistências é com um sólido ecossistema inovador, promovendo a digitalização da saúde de maneira descentralizada, acessível, mais eficiente e que coloque o paciente no centro do processo, e não o produto ou o profissional de saúde.
3. Em um cenário Global, como o Brasil é visto ou está posicionado quando o assunto é tecnologia no setor?
Nosso maior problema é também nossa maior vantagem. O Brasil é visto como um mercado de saúde complexo, fechado, altamente regulamentado e ainda atrasado do ponto de vista de conceitos atuais como o impacto de remuneração baseado em performance e valor e não em volume de atendimentos. Dentro desse cenário, a visão externa é que temos ainda desafios muito básicos a serem resolvidos, como a simples digitalização de prontuários e eliminação do papel, ou a construção de infraestrutura para isso ser possível.
Apesar de players internacionais não enxergarem a inovação brasileira em saúde como competitiva por causa dessas características, para os empreendedores brasileiros é uma oportunidade gigantesca, pois o mercado de saúde é enorme em um país continental, com mais de 200 milhões de vidas e com tanto o que construir ainda, é, portanto, um mar de oportunidades a empresários e empreendedores brasileiros que estejam dispostos a resolver velhos problemas com novas e digitais soluções.
4. O que o futuro nos prepara? Quais as principais tendências? E no que você aposta?
Acredito muito em um futuro com acesso à saúde mais universalizado e com melhores desfechos, com tratamentos personalizados e profissionais de saúde trabalhando de maneira mais integrada a partir da interoperabilidade de dados. As tendências principais são a desospitalização e tratamentos clínicos em domicílio, telemedicina, pacientes com mais opções de escolhas para sua saúde e a quebra de fronteiras e barreiras para atenção à saúde. Eu aposto na importância dos dados, o aprendizado de máquina e a capacidade preditiva, onde as informações da vida de uma pessoa em conjunto com os da atenção à sua saúde podem prever ocorrências e problemas permitindo que profissionais de saúde ajam de maneira precoce, potencializando os conceitos de saúde primária.
5. O Anestesia 4.0 é um brainstorming do setor com um olhar apurado sobre o futuro. Quais considera os destaques desta edição e avaliação de evolução dos tópicos discutidos e que se tornaram efetivamente realidade?
Em 2019 tivemos uma discussão sobre a telemedicina em anestesiologia. Parecia uma análise muito utópica e sem sentido. Hoje é uma realidade crescente na anestesiologia e entre abril e junho nos EUA teve um crescimento de 224%. Praticamente todos os grandes grupos de anestesia do Brasil estão ofertando a oportunidade de realizarem completamente ou em parte a consulta pré-anestésica por telemedicina em um grupo de pacientes. Outro ponto que falamos em 2018, 2019 e esteve presente, novamente, em 2020 é o papel das redes sociais no ensino médico e o posicionamento dos profissionais de saúde frente a elas. Acertamos nos dois anos anteriores e vamos acertar novamente este ano, pois realmente acreditamos que com ética, embasamento técnico e bom senso as redes sociais podem sim ser um veículo de compartilhamento de informação técnica de qualidade com boa curadoria.
6. Quais as novidades da Anestech para 2021?
Com o propósito sempre no topo da pauta que é promover anestesias mais seguras e cuidando do fluxo de trabalho do anestesiologista, a Anestech em 2021 foca muito em seu lado analytics, lançando a capacidade preditiva e o apoio à tomada de decisões a partir da inteligência artificial. Possuímos na Anestech mais de meio milhão de registros anestésicos muito bem parametrizados em nossa base de dados, e uma parte deles serve para o aprendizado de máquina (Machine Learning), formando uma consciência situacional artificial que estará sempre pronta a ajudar o anestesiologista a não deixar passar batido detalhes importantes ou ajudar nas informações necessárias para um ato anestésico mais seguro e confortável. Estamos projetando um crescimento de 275% para o próximo ano, levando a nossa tecnologia para clientes de todo o Brasil e exterior.