Propostas de Reformas Administrativa e Tributária. PEC do pacto corporativo. PEC emergencial. Oposição ferrenha ao funcionalismo público. Pressão. Pandemia. Desafios dos mais diversos ao serviço público e privado de saúde. Novas maneiras de se comunicar. Novas maneiras de se fazer saúde. Definitivamente, 2020 não foi um ano para amadores.
Esses testes, no entanto, apesar de extremamente dolorosos, são também maneiras de perseguir o novo e aderir a alternativas rápidas e criativas diante do improvável. O setor de saúde foi um destes colocado à prova, em 2020, por inúmeras vezes. E a telemedicina, uma iniciativa que há muito se lutava para regulamentar, foi a alternativa rápida e eficaz em tempo de isolamento, garantindo acesso aos usuários da iniciativa privada. E arrisco em dizer: chegou para ficar. Ficou evidente para o setor de saúde como um todo a importância de boa estrutura, inteligência emocional, pensamento rápido, e claro, profissionais capacitados e bem treinados. E mais evidente ainda a relevância da Atenção Primária à Saúde, um bem valorizado à exaustação no segmento de autogestão.
A qualidade do atendimento ao usuário é levada a sério numa autogestão. Basta ver o número baixo de reclamações, a oferta de benefícios acima do rol de procedimentos da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) e as iniciativas diversas para se manter a saúde física e mental de cada associado. Vale lembrar que, no nosso caso, o dono do plano é o próprio. Por essa última peculiaridade, não é de hoje, que defendemos equidade no tratamento por parte dos órgãos reguladores. Sem fins lucrativos e atendendo a um perfil de público que, em sua maioria, não teria condições de arcar com um plano de saúde do mercado, estamos acostumados a nos provar e reinventar a cada dia.
Uma de nossas lutas antigas é quanto às reservas técnicas e margem de solvência. Parece óbvio, mas como uma entidade sem fins lucrativos pode ser cobrada em ter uma liquidez igual a de uma empresa privada que lucra bilhões anuais? Por isso mesmo, vez ou outra, somos surpreendidos por direções fiscais e até intervenções entre nossas associadas.
Contudo, mesmo diante de um ano tão intenso, tivemos algumas vitórias. Vitórias estas que, obviamente, não amenizam os impactos sanitários, sociais e econômicos desta pandemia, mas que são extremamente significativas para o segmento. No ano passado, a ANS encerrou a direção fiscal em cinco operadoras: Cassi, Geap, Assefaz, Asfal e CAPESESP, considerando seus programas de saneamento adequados. Para empresas como a de nossos associados esse passo é gigante. Mostra que mesmo diante de tantas adversidades, remando, literalmente, contra a maré da inflação médica exorbitante, da incorporação de novas tecnologias frequentes, de condições regulatórias desfavoráveis, conseguimos, sem deixar de lado a qualidade dos nossos serviços, mostrar toda a criatividade, resiliência e competência de nossos associados para reagir e vencer.
O fim da direção é o reconhecimento da ANS da boa gestão do plano, a garantia de sequência das atividades, de continuidade dos propósitos e cuidados daquela instituição.
Eu sei que 2020, definitivamente, não foi um ano para comemorações. Entretanto, é necessário enaltecer aqueles que, muito antes da pandemia, já estavam passando por dificuldades e readequando suas regras, protocolos e compromissos internos, e, apesar do caos gerado pelo novo Coronavírus desde março, conseguiram se manter firmes e atingir o objetivo. 2021 é uma grande incógnita. Ouso entrar numa seara que não é a científica, pilar essencial da saúde, mas prevejo que até os astros estejam meio perdidos neste início de ano. Contudo, um fato que posso garantir de olhos fechados é: aconteça o que acontecer, nos manteremos em pé, prestando uma assistência de qualidade a um custo justo para empregadores e beneficiários. Porque resiliência está no nosso DNA. E se desafiar, também.
Anderson Mendes é presidente da UNIDAS (União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde)