Um ano após o marco do início da pandemia da Covid-19, em março de 2020, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), a expectativa era que cerca de 116 milhões de bebês iriam nascer sob a sombra do surto da doença, segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
No entanto, estudos e levantamentos no mundo apontam que a taxa de natalidade diminuiu e continua caindo devido à preocupação com a Covid-19. No Brasil, foram quase 40 mil nascimentos a menos registrados em janeiro deste ano na comparação com o mesmo mês de 2020, de acordo com o portal de Transparência do Registro Civil. Uma queda de 15% dos nascimentos.
O medo do contágio nos hospitais, a insegurança sobre os riscos do vírus às gestantes e recém-nascidos, as dúvidas sobre bem-estar emocional e a incerteza quanto a salários e empregos foram, e continuam sendo, possíveis explicações para o adiamento de gestações, de acordo com especialistas no tema.
Parte desses sentimentos e sensações foram relatados também por mães que tiveram filhos nascidos durante a pandemia no Hospital Materno-Infantil de Barcarena Dra. Anna Turan (HMIB), unidade de alta e média complexidades, gerenciada pela Pró-Saúde, e próximo da região metropolitana de Belém, no Pará. A unidade recebe pacientes de toda Região do Baixo Tocantins e arredores.
Raiane Vieira, de 26 anos, cozinheira, moradora de Barcarena, teve o pequeno Márcio Emanuel no meio da pandemia, em 2020, e foi encaminhada ao HMIB para acompanhar o bebê que nasceu prematuro, em 12 de maio, dia do primeiro pico de mortes no Brasil.
Segundo Raiane, o sentimento mais intenso era o de insegurança. “Tive ajuda psicológica para tocar no meu filho porque eu não conseguia chegar perto da incubadora. Álcool em gel, touca, máscara sempre perto, e eu não queria me aproximar das pessoas. Até hoje sou assim. Quase entro em depressão, mas a equipe me ajudou e me trouxe segurança”, lembrou.
Para Marcilene Paes, que estava grávida e pegou a doença, a principal dúvida era sobre os riscos com a gravidez e o bebê. “Eu não sabia se ela poderia pegar. Passei dias na UTI internada com vários sintomas, preocupada em como a doença afetaria o parto e sobre como seria depois, em casa e com os irmãos”, explicou. Após ter alta do Materno-Infantil de Barcarena, totalmente recuperada da Covid-19, ela, que vive em Limoeiro do Ajuru, retornou à unidade em julho de 2020 para ter a bebê.
De março a outubro de 2020, em decorrência do cenário de pandemia, o hospital deu suporte à pacientes fora do perfil de obstetrícia, disponibilizando cinco leitos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) para atendimento de casos da Covid-19. Neste período, 48 mulheres foram atendidas com a suspeita da doença na unidade,
“Tive muito apoio da equipe para tentar superar o medo. Foi um dos melhores partos da minha vida. Eles conseguiram tirar um sorriso que há muito eu não dava. E pude tocar, amamentar e minha filha nasceu sem nenhuma sequela ou vestígio da doença. Foi um alívio!”, relatou emocionada a dona de casa Marcilene, mãe pela quarta vez.
Com Marta Ferreira, 33 anos e dona de casa, o receio foi maior quanto às visitas. Ela teve o pequeno Uhtred em abril de 2020, e manteve isolamento nos primeiros meses de vida da criança. Após quase um ano, as visitas continuam reduzidas, mas as consultas ao pediatra na unidade são regulares.
“Fazia 11 anos que eu tentava engravidar, até que consegui e meu filho veio ao mundo no ápice da pandemia, em abril. Tinha medo de sair do hospital, mas recebi orientações de higienização, amamentação, e cuidados em casa. Hoje, ele está bem, mas ainda tenho receio, e levo sempre ao médico”, disse a dona de casa.
Com Marta Ferreira, 33 anos e dona de casa, o receio foi maior quanto às visitas. Ela teve o pequeno Uhtred em abril de 2020, e manteve isolamento nos primeiros meses de vida da criança. Após quase um ano, as visitas continuam reduzidas, mas as consultas ao pediatra na unidade são regulares.
“Fazia 11 anos que eu tentava engravidar, até que consegui e meu filho veio ao mundo no ápice da pandemia, em abril. Tinha medo de sair do hospital, mas recebi orientações de higienização, amamentação, e cuidados em casa. Hoje, ele está bem, mas ainda tenho receio, e levo sempre ao médico”, disse a dona de casa.
Atendimento de alta complexidade com acolhimento
Com a pandemia da Covid-19, os cuidados na unidade foram redobrados. As equipes técnica e assistencial modificaram as medidas de segurança e orientações sobre gravidez, nascimentos, pós-parto, amamentação e bem-estar emocional para as usuárias terem mais segurança quanto ao atendimento à saúde.
“Diariamente, respondemos dúvidas sobre como se proteger, quais riscos e cuidados que devem ser feitos no parto e na hora da amamentação, como agir caso a mãe apresente os sintomas da doença e como fortalecer a imunidade do bebê e da família”, destaca Geovanny Magalhães, coordenador de Enfermagem do HMIB.
Neste cenário pandêmico, os cuidados são redobrados e, em todos os caso, os profissionais de saúde tomam todas as precauções adequadas para reduzir os riscos de infecção para si e para as usuárias, incluindo a higiene das mãos e o uso apropriado de equipamentos de proteção individual, como luvas, aventais e máscara, além do isolamento da paciente e testagem para a doença, que pode ser assintomática.
“Para mães que não possuem a doença, o contato próximo e a amamentação precoce e exclusiva ajudam o bebê a se desenvolver e a equipe apoia o ato, com medidas de segurança e higienização nesse contato pele a pele, como recomendam os órgãos de saúde”, comenta Joice Vaz, diretora Assistencial do HMIB.
A profissional ainda informa que, “para mães que apresentam a doença, e ficam em casa cumprindo isolamento, o bebê recebe o leite materno ordenhado e fica sob os cuidados da equipe e de um acompanhante definido pela família – que não apresente sintomas e não teve contato com casos suspeitos da doença. A mãe e os demais familiares acompanham o bebê por meio de videochamadas durante toda internação do recém-nascido, até a mãe estar segura para o contato externo”, explica.
Em seus dois anos de funcionamento, o HMIB já realizou mais de três mil partos e cerca de 165 mil atendimentos, entre consultas, internações, exames e cirurgias. Desde a sua inauguração, a unidade é gerenciada pela Pró-Saúde, uma das maiores instituições filantrópicas de gestão hospitalar do país.