Com a crescente incidência de casos relacionados à Covid-19, todos os fatores que contribuem para a disseminação de doenças respiratórias são agravados. Desde o início da pandemia, a quantidade de pacientes em quadros graves aumentou consideravelmente, junto com a necessidade para a utilização de recursos essenciais de internação, como a ventilação mecânica, que é indispensável em cerca de 88% dos tratamentos em UTIs. Mesmo assim, uma parcela dos pacientes não responde adequadamente aos métodos convencionais de ventilação, deixando aos médicos poucas alternativas de tratamento. Neste caso, o ECMO se apresenta como um dos únicos recursos que conseguem assegurar o funcionamento do sistema cardiorrespiratório. A utilização desta tecnologia ganhou destaque no Hospital Santa Catarina – Paulista (HSC), em São Paulo (SP), que registrou uma média de eficiência de 80% para o procedimento, enquanto a taxa mundial é de 50%.
Segundo o Dr. Diego Gaia, cirurgião cardiovascular e responsável pelo time de ECMO institucional do HSC, o principal objetivo deste dispositivo é substituir a função do pulmão, retirando o gás carbônico e fornecendo o oxigênio necessário. Além disso, o especialista aponta que a tecnologia é extremamente eficiente, permitindo até a substituição transitória completa dos órgãos atingidos. “O ser humano, ao respirar o ar ambiente recebe um aporte de 21% de oxigênio durante a respiração, o ECMO é capaz de ofertar 100% de oxigênio diretamente ao sangue sem a necessidade do pulmão”, completa o Dr. Gaia.
Embora inovadora, esta técnica é utilizada apenas em situações em que o tratamento convencional não é o suficiente para garantir uma chance de reabilitação. Por ser considerado um procedimento de alta complexidade, sua implantação deve ser realizada por uma equipe treinada. Esta equipe deve tomar diversos cuidados ao longo do processo para assegurar o bem-estar do enfermo, como, por exemplo, monitorar os níveis de coagulação para evitar complicações no fluxo sanguíneo.
O Hospital Santa Catarina – Paulista está entre o número limitado de instituições que utilizam esta tecnologia, além de contar com uma equipe multidisciplinar para garantir uma abordagem completa ao tratamento. “No HSC o tratamento é usado em casos extremamente graves de Covid-19 e tem obtido resultados muito positivos com diversos pacientes recebendo alta após o procedimento.” adiciona Dr. Gaia. O dispositivo pode ser utilizado em pacientes de diversas idades, com pequenas restrições, o que tem facilitado o atendimento daqueles acometidos pelo novo Coronavírus. Até agora, o Hospital Santa Catarina realizou onze atendimentos utilizando o recurso, sendo que o primeiro durante a pandemia ocorreu em julho do ano passado.
A utilização da ECMO oferece diversos benefícios inéditos aos pacientes e à equipe médica responsável por atender quadros desta natureza. Além de manter o funcionamento dos órgãos enquanto a causa da doença é identificada e tratada, o dispositivo também pode permanecer ligado durante a realização de procedimentos cirúrgicos. Ambos os fatores contribuem para diminuir consideravelmente a taxa de mortalidade de pacientes que tiveram o pulmão ou coração comprometidos por complicações cardiorrespiratórias, que podem ser severamente acentuadas pelo atual cenário da pandemia.
Mesmo oferecendo diversos benefícios no tratamento de pacientes, o procedimento de implantação pode ter alguns riscos se os cuidados necessários não forem tomados. Entre as possíveis repercussões negativas estão hemorragias, infecções, embolias e, até mesmo, a obstrução de artérias, podendo resultar em AVCs. Por isso, o cardiologista destaca a relevância de uma equipe médica especializada, que assegure um acompanhamento constante e o cumprimento de diversos pré-requisitos de segurança. Vale notar também, que existem indivíduos com características que impossibilitam a utilização da ECMO. A técnica não é recomendada em pacientes com hemorragia, falência múltipla de órgãos, coagulopatia grave, ou doenças cardiorrespiratórias irreversíveis.