Sociedade Brasileira de Dermatologia analisa relatos de manifestações de pele relacionadas à Covid-19

Manchas avermelhadas, arrocheadas, urticárias e outras manifestações de pele são sintomas dermatológicos verificados em pacientes acometidos pela Covid-19. Conforme alerta a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), apesar de menos comuns que os sinais clássicos (febre, tosse seca, falta de ar e cansaço), alguns desses sinais que acometem a pele podem demorar um longo período para desaparecer, persistindo mesmo após o término da infecção pelo Coronavírus.

Segundo esclarece a assessora do Departamento de Dermatologia e Medicina Interna da SBD, Camila Arai Seque, diferentes pesquisas estão sendo desenvolvidas ao redor do mundo para oferecer respostas sólidas às muitas dúvidas que ainda permeiam a associação entre Covid-19 e repercussões dermatológicas.

Um dos pontos que suscita questões é a frequência dessas manifestações dermatológicas. De acordo com a especialista, ainda não há um consenso se os quadros são recorrentes ou raros, o que pode ser percebido em diferentes trabalhos publicados. Na tentativa de esclarecer dúvidas, a SBD, por meio de seu Departamento Científico, prepara documento para os associados com uma atualização sobre tema.

Pesquisa – Desde maio de 2020, a própria especialista da SBD coordena um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), realizado em quatro hospitais com ampla amostragem de pacientes, em busca de evidências científicas para a questão.

“Já sabemos que existem alguns sintomas dermatológicos relacionados à Covid-19. Os mais prevalentes são erupção maculopapular, urticária, erupção vesicular e alterações vasculares. Atualmente, o objetivo dos pesquisadores é elucidar se essas manifestações estão diretamente relacionadas à atuação do vírus na pele ou se elas são apenas um reflexo de repercussões sistêmicas”, afirma.

Em outras doenças virais, como dengue, zika e chikungunya, as manifestações são justamente de caráter secundário, ou seja, derivadas de respostas exacerbadas do sistema imune (reações inflamatórias, vasculares, de coagulação, entre outras).

Persistente – De modo amplo, a gravidade das repercussões cutâneas é proporcional ao quadro geral do paciente. Segundo aponta Camila Arai Seque, casos leves ou assintomáticos costumam gerar sintomas brandos na pele, já os episódios de infecção grave – como aqueles que requerem internação em UTI – apresentam os sinais mais preocupantes.

Na maioria das vezes, os sintomas tendem a desaparecer com a melhora do paciente. No entanto, há relatos – menos comuns – de manifestações que perduram por longo período, como o pseudo eritema pérnio, também conhecido como dedos de Covid.

“Nesses casos surgem manchas arroxeadas nas extremidades das mãos e pés. Ainda não há respostas definitivas sobre o porquê dessas lesões perdurarem. As hipóteses atuais indicam justamente para uma reação imunológica ao vírus, mas ainda há dúvidas e os debates estão sendo travados no campo científico. De toda forma, se compararmos com os relatos da Europa, no Brasil foram descritos poucos casos desse tipo”, disse a assessora.

Na avaliação da especialista, é fundamental esclarecer que as manifestações dermatológicas parecem ser raras em comparação a outros sintomas da Covid-19. Na literatura médica, a frequência é discutível, com variações que vão de 45% a 0,2%. Além disso, quando verificadas, elas são inespecíficas em sua apresentação. Dessa maneira, sem a avaliação por um especialista, é complicado para a população reconhecer e utilizar esses sinais da pele como marcador de suspeita para Covid-19.

Segundo Camila Arai Seque, no contexto atual, em que a pandemia está em franca expansão, o surgimento de manchas ou outras mudanças na pele deve ser valorizado especialmente quando houver contato próximo com algum infectado ou se for uma manifestação exuberante e atípica. Sobre as alterações da pele como único sintoma da Covid-19, ainda é cedo para afirmar sua real frequência, qual tipo de lesão geram e se devemos ou não testar esses pacientes. “Somente no futuro, conforme avançarem as pesquisas, é que esses sinais poderão auxiliar os médicos, como critérios diagnósticos para a Covid-19”.

Tratamento – O tratamento para aqueles que apresentam sintomas de pele associados à Covid-19 está sempre condicionado ao grau e tipo de repercussão observada, informa a assessora da SBD. Para obter uma indicação terapêutica adequada, ao perceber alguma alteração mais significativa, a recomendação é procurar um dermatologista.

“As pesquisas ainda estão em andamento e, no momento, há poucas certezas. O conselho para os pacientes é sempre procurar um especialista para cuidar dos problemas na pele, já para os médicos a recomendação é buscar atualização e valorizar com atenção esses achados, em função nosso contexto pandêmico”, finaliza a médica.

Redação

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