Em apoio aos médicos e às ações de fiscalização dos Conselhos de Medicina durante a pandemia, o Conselho Federal de Medicina (CFM), em parceria com o Ministério Público Federal (MPF), por meio do Gabinete Integrado de Acompanhamento da Epidemia de Covid-19 (Giac), e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), lança um novo canal para que os profissionais possam relatar a falta de condições e de infraestrutura de trabalho. Por meio da plataforma, também será possível informar situações que têm contribuído para o aumento do estresse e da tensão nos ambientes de atendimento médico, em especial nos locais que acolhem casos suspeitos ou confirmados de Covid-19.
A iniciativa oferece aos médicos acesso a um software (chatbot) que simula um bate-papo. A partir do diálogo, os profissionais respondem a uma série de questionamentos que vão desde a oferta de equipamentos de proteção individual (EPIs) e de leitos de internação de enfermaria e UTI, até à extensão das jornadas de trabalho ou dificuldades para realizar situações corriqueiras como se alimentar ou dormir.
O lançamento acontece na semana em que se comemora o Dia Mundial da Saúde (7 de abril), quando o CFM divulga uma campanha com foco na defesa da saúde do médico, em especial daqueles que atuam na linha de frente da covid-19. De acordo com dados de inquérito conduzido pela autarquia junto aos profissionais, é significativo o número de médicos que relatam situações de estresse ou fadiga.
Com base nas informações coletadas, o CFM, o MPF/Giac e o CNMP pretendem intensificar a proteção dos médicos que atuam na linha de frente, bem como da sociedade. A ideia é reforçar o trabalho de apuração dos relatos encaminhados, oferecendo soluções que tragam maior equilíbrio aos ambientes de atuação.
Gerenciamento dos dados – A solução utiliza ferramenta avançada de Business Intelligence (BI) que possibilita o acompanhamento em tempo real das informações alimentadas pelos médicos e análises de tendências acerca do avanço de pandemias. Com isso, os CRMs, CFM e MP terão acesso a um painel de monitoramento (imagem abaixo) com visualizações interativas e detalhadas, seguindo modelo de georeferenciamento.
Ao receber os dados públicos – aqueles não protegidos pelo sigilo médico -, os órgãos procederão à análise do conteúdo em busca de indícios de potenciais impactos sistêmicos. Deste modo, será possível não só identificar cenários de crises pontuais como antecipar o aparecimento de problemas que podem influenciar negativamente o atendimento.
Os resultados encontrados poderão, por exemplo, subsidiar ações do Ministério Público e dos CRMs junto a estados e municípios, bem como a estabelecimentos de saúde (públicos ou privados). A expectativa é que esse projeto experimental de inovação tecnóloga seja uma ferramenta que viabilize, de forma ágil, o aperfeiçoamento das estratégias de enfrentamento da Covid-19, promovendo melhor atendimento aos brasileiros e melhores condições de trabalho aos profissionais envolvidos.
Monitoramento – As respostas dos médicos serão tratadas e, posteriormente, disponibilizadas na forma de dados estatísticos por meio de dashboards (painéis de monitoramento). As estatísticas ajudarão também no desenvolvimento de estratégias em prol do esforço nacional pelo controle e prevenção da Covid-19, em articulação com as autoridades da União, dos Estados e dos Municípios e com os demais segmentos afetados pela pandemia.
“Em todos os lugares do mundo, os médicos, no cumprimento da admirável missão de cuidar da saúde de seus pacientes, estão trabalhando em condições severas, com elevado risco de contágio e um número significativo de mortes”, destaca Hideraldo Cabeça, 1º secretário do CFM e coordenador do projeto na autarquia, destacando o apoio da Coordenação de TI do CFM. Segundo ele, o Luna pretende dar suporte às atividades dos médicos e servir também de observatório de tendências sobre a pandemia no Brasil.
Já o procurador regional da República e coordenador do projeto pelo Giac, Marcos Antônio da Silva Costa, ressalta que a Luna “busca aplicar tecnologias avançadas para extrair conhecimento da inteligência coletiva da comunidade médica, que possa ser aplicado no enfrentamento da pandemia, como estratégia duradora para tais situações”.
Tecnologia e inovação – A solução de chatbot, desenvolvida em conjunto pelo CFM e o Ministério Público, com o apoio de especialistas e empresas que atuaram de forma voluntária, primou por apresentar uma interface amigável, semelhante às opções de comunicação mais populares atualmente, como o aplicativo WhatsApp.
Além de um app, acessível via smartphones e tablets (com sistemas operacionais iOS 4 ou superior ou Android 7.0 ou superior), a plataforma também poderá ser acessada pela internet. Para tanto, basta fazer a busca pelo endereço da ferramenta (luna.cfm.org.br) ou acessar links disponível no site do CFM (portalmedico.org.br).
As soluções tecnológicas, compatíveis com os sistemas e bancos de dados dos Conselhos de Medicina, foram cedidas por empresas especializadas que, por meio de processo público, se voluntariaram a contribuir com o projeto e ofereceram gratuitamente o servidor de chatbot e a ferramenta de visualização de dados, o Microsoft Power BI.
Funcionamento – A plataforma conversacional de inteligência, ou simplesmente chatbot, funciona como um robô que responde automaticamente aos médicos no chat (figura abaixo). Após se identificarem com a apresentação de alguns dados cadastrais, os médicos passarão a interagir com a ferramenta, respondendo a perguntas que obedecem a um fluxo pré-estabelecido.
Por meio do canal, será possível reportar falta de equipamento de proteção individual (EPI), de material para higienização, de recursos humanos, de insumos, de exames e medicamentos e dificuldade em acesso a leito. Além desses temas, o software permitirá que o médico informe a existência de sintomas de Covid-19 ou quantos plantões e horas de trabalho tem realizado por período.
Todas as informações coletadas ficam salvas nos servidores do CFM e submetidas às regras internas de sigilo, proteção de dados, privacidade e segurança. As informações não abarcadas por sigilo médico serão compartilhadas com o MPF/Giac, o CNMP, o MPT e outras quatro entidades parceiras, até futura expansão do projeto.
A fase experimental do projeto terá a duração de quatro meses, prorrogável por consenso dos participantes. A depender de novas colaborações e apoios, a plataforma poderá ser implantada em outros conselhos das profissões de saúde eventualmente interessados. Ao final do projeto, espera-se reunir um conjunto de conhecimentos, boas práticas e experiências tecnológicas, construídos de forma colaborativa e avaliados em concreto, o que poderá permanecer como legado para outras emergências em saúde pública.