Dados internacionais indicam que o diagnóstico de nódulos da tireoide em adolescentes aumentou nas últimas décadas, parcialmente, justificado pelo diagnóstico incidental de nódulos em exames de imagem cervicais, realizados em função de doenças não relacionadas à tireoide.
“Nódulos sólidos podem ser identificados em até 2% dos adolescentes no exame de ultrassonografia de tireoide, mas até 60% dos exames podem identificar cistos, benignos”, conta a Dra. Débora Danilovic, palestrante do 14° Congresso Paulista de Endocrinologia e Metabologia – COPEM 2021, organizado pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP).
A proporção de carcinomas entre os nódulos tireoidianos é maior (20% a 25%) nesta faixa etária do que nos adultos (5% a 15%). “Segundo banco de dados americano, no período de 2014 a 2018, a incidência de câncer de tireoide na faixa etária de zero a 14 anos foi de 0,2 e 0,6/100.000, no sexo masculino e feminino, respectivamente, e, na faixa etária de 15 a 39 anos, 4,8 e 20,8/100.000, no sexo masculino e feminino, ressaltando a maior prevalência nos adolescentes em relação às crianças, particularmente nas adolescentes do sexo feminino e adultas jovens”, explica a endocrinologista.
Nódulos são encontrados com maior frequência em pacientes com tireoidites autoimunes. A maioria dos carcinomas não tem causa definida, mas, na faixa etária dos adolescentes, destaca-se como fator de risco importante a exposição à radiação ionizante na infância, usada no tratamento de outros cânceres. Além disso, síndromes genéticas, como polipose adenomatosa familiar, síndrome de DICER1 e síndrome de Cowden, além de antecedente familiar, podem predispor a nódulos e câncer de tireoide.
As estratégias diagnósticas diferem nos adolescentes em relação aos adultos. Recentemente, avaliou-se o emprego de critérios para biópsia de nódulos tireoidianos baseado nas classificações ultrassonográficas do adulto, como a da American Thyroid Association e ACR-TIRADS. “Entretanto, estas classificações falharam em identificar precocemente casos de câncer, particularmente, por se basearem na dimensão do nódulo para biópsia. Quanto ao diagnóstico citológico, utiliza-se também nas crianças e adolescentes a classificação de Bethesda, entretanto, deve-se destacar a maior frequência de malignidade nas citologias Bethesda III e IV em relação aos adultos”, pontua Dra. Débora que, durante o 14º COPEM, vai apresentar caso clínico sobre Manejo de Nódulo Tireoidiano na Adolescência.
Segundo ela, faltam estudos sobre o emprego de testes moleculares no diagnóstico de nódulos em adolescentes. Dessa forma, o diagnóstico pré-operatório dos carcinomas de tireoide nessa faixa etária continua sendo um desafio.
A tireoidectomia é indicada no tratamento de nódulos sintomáticos, tóxicos, com citologia benigna maiores que 4 cm ou com citologia indeterminada (Bethesda III a V) e maligna (Bethesda VI). Técnicas minimamente invasivas, como ablação, ainda precisam de mais estudos para essa população.