Combate ao câncer: caso reforça importância de manter rotina de exames na pandemia

Na segunda-feira (26), a jornalista Zileide Silva revelou durante sua participação no programa ‘Em Pauta’, da GloboNews, que descobriu um câncer de mama durante a pandemia e que, por conta do tratamento da doença, passou por um período de afastamento das atividades profissionais. Ela fez questão de ressaltar durante seu testemunho a importância da atenção aos sinais de alerta e diagnóstico da doença.

“Eu percebi logo no início. Fiz o autoexame, senti que havia uma coisa estranha, fui ao médico, aquela série de exames, câncer no seio. Operada, fiz a quimioterapia, voltei. Muito feliz de estar de volta”, contou Zileide.

O depoimento da repórter, de 62 anos, é especialmente relevante considerando os impactos diretos da Covid-19, que determinou um regime de quarentena sem precedentes pelo mundo, na oncologia e mastologia. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), 70 mil diagnósticos de câncer deixaram de ser realizados no período mais crítico da pandemia em 2020, entre os meses de março e junho. O Sistema Único de Saúde (SUS) indica ainda que entre janeiro e junho de 2019 foram realizados 180.093 exames na rede pública, enquanto no mesmo período de 2020 a quantidade de exames caiu para 131.617. E os reflexos dessa realidade podem a curto e médio prazos desencadear um aumento nos índices de tumores descobertos em fase mais avançada.

No caso específico dos tumores de mama – que atualmente lideram o ranking de tipos de câncer mais diagnosticados em todo o mundo, -, números divulgados pelo Ministério da Saúde em outubro de 2020 mostraram que houve queda de 84% no número de mamografias feitas no país durante a pandemia do novo Coronavírus em comparação ao mesmo período do ano anterior. A estimativa foi feita pela Fundação do Câncer, com base em dados do Sistema Único de Saúde (SUS).

Complementarmente, um outro dado, da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed) – que representa empresas do segmento de saúde suplementar – aponta uma queda na quantidade de mamografias realizadas na rede privada do país de 46,4% quando comparado o período de março a agosto de 2020 com os mesmos meses de 2019.

Para o oncologista clínico Max Mano, líder de tumores de mama do Grupo Oncoclínicas, os índices relacionados à diminuição no rastreamento são preocupantes e acendem um sinal de alerta sobre os prejuízos causados por essa realidade na luta contra o câncer de mama. “Se deixarmos de lado a vigilância ativa, no pós pandemia há grandes chances de observarmos um aumento considerável de diagnósticos tardios da doença. O exame de imagem na qual a mama é comprimida permite que sejam identificados tumores menores que 1 cm e lesões em início, sendo determinante para a descoberta do câncer de mama logo no início”, explica.

No Brasil, o câncer de mama responde por cerca de 67 mil novos diagnósticos de câncer todos os anos, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). De forma geral, a mamografia é o principal exame preventivo para identificação de tumores de mama.

“A mamografia deve ser realizada anualmente por todas as mulheres acima dos 40 anos e a decisão por adiar ou não esse exame só deve ser tomada mediante o aconselhamento médico”, ressalta Max Mano. As chances de cura chegam a 90% ou mais quando o tumor é descoberto no início, sendo o tratamento menos invasivo, o que melhora, em muito, a qualidade de vida durante e após o tratamento da doença.

“Mulheres que tratam ou já tiveram câncer de mama, bem como aquelas com histórico de câncer de mama entre parentes próximas (irmãs, mães) e/ou que têm mutações genéticas hereditárias já identificadas, não devem jamais deixar de fazer os controles sem orientação do especialista”, completa o médico.

O câncer faz parte do rol de doenças estabelecido pelo Ministério da Saúde cujo tratamento não pode ser considerado eletivo. Atualmente, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 1,5 milhão de brasileiros têm tumores malignos e estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) indicam que são esperados ao menos outros 625 mil novos diagnósticos da doença até o final de 2021.

O Câncer não Espera

Apesar da pandemia e do medo da contaminação pelo Coronavírus, é preciso que as mulheres mantenham seus controles em dia para que o combate ao câncer de mama não seja deixado em segundo plano. Esse é o alerta do movimento “O Câncer Não Espera. Cuide-se Já” à sociedade em geral e que ressalta ainda uma importante informação: busque sempre saber sobre os fluxos seguros implementados pelos centros de referência em atendimento e realização de exames diagnósticos.

Voltado ao alerta aos pacientes oncológicos e a população em geral sobre como atrasos nos cuidados médicos adequados pode comprometer, até irreversivelmente, o sucesso na luta contra o câncer, a iniciativa, liderada pelo Instituto Oncoclínicas – iniciativa do corpo clínico do Grupo Oncoclínicas voltada à conscientização e promoção à saúde -, é apoiada por entidades como a Sociedade Brasileira de Radioterapia (SBRT), Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica (SBCT), Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale), Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (Tucca), Instituto Oncoguia , Movimento Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC) e Rede Inspire Ser.

A mobilização também conquistou o reforço voluntário de personalidades como as atrizes Suzana Vieira, Mariana Rios e Priscila Fantin, os cantores Ivete Sangalo, Elba Ramalho, Bell Marques, Leo Jaime e Tomate, a jornalista Mona Lisa Duperon e o medalhista olímpico com a seleção brasileira de vôlei Maurício Lima.

Empresas, entidades ligadas à área médica ou qualquer cidadão engajado na luta em favor da vida e da saúde dos brasileiros podem aderir à campanha. Os interessados encontram mais informações no site www.ocancernaoespera.com.br.

Redação

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