Armazenamento do sangue e tecido do cordão umbilical como prevenção à aplasia medular

Diagnosticado desde os 8 anos com aplasia medular, o inspetor de escola, Lorinaldo de Sousa Nascimento, após 16 anos de submissão aos mais variados tipos de tratamentos, recebeu o diagnóstico de possível cura. A doença se caracteriza pela alteração no funcionamento da medula óssea. “Essa estrutura é responsável pela produção das células do sangue. Quando comprometida, sua atuação pode ser reduzida ou até mesmo parada, o que leva a baixas concentrações de hemácias, plaquetas e leucócitos circulantes do sangue”, explica Dr. Nelson Tatsui, Diretor-Técnico do Grupo Criogênesis e Hematologista do HC-FMUSP.

O médico é o responsável pelo acompanhamento de Lorinaldo no Hospital das Clínicas, localizado em São Paulo, e conta que o seu quadro era grave, correndo sérios riscos de vir a óbito. “O paciente apresentava um nível muito abaixo do normal de plaquetas, leucócitos e hemoglobinas, consequentemente, sua imunidade também era comprometida. Por conta disso, além das medicações, periodicamente era necessária a realização de transfusões de sangue, como forma de reversão a essas condições”, comenta.

O especialista explica que o tratamento é definido conforme o grau da aplasia. Geralmente, é feito a partir do uso de medicamentos imunossupressores, antibióticos e transfusões sanguíneas. “Em casos mais graves, o transplante de medula óssea pode ser recomendado”. Segundo o hematologista, o inspetor se situava nesse quadro, no entanto, devido à ausência de um doador compatível, mesmo com anos de espera, o procedimento tornou-se inviável. “Se estima que a chance seja de 1 em 100 para doadores aparentados – ou seja, que possua algum grau de parentesco – e 1 em 100 mil a não aparentados”, destaca.

Após a tentativa com algumas medicações, que não apresentaram o efeito desejado, a equipe médica optou pelas injeções subcutâneas Filgrastim – um estimulante do sangue que auxilia a produção de células brancas sanguíneas – e Epoitina, que visa elevar ou manter o nível de hemácias no sangue. As sustâncias foram aplicadas por aproximadamente 3 anos e meio. Com o fim desse período, os médicos notaram uma expressiva melhora no quadro clínico do paciente. “Analisando os meus exames eles disseram que eu estava com as hemácias e plaquetas de uma pessoa normal e acabaram suspendendo as minhas injeções. Eu até questionei se não correria o risco de voltar tudo de novo, mas fui tranquilizado de que, caso fosse necessário, retomaríamos o tratamento. 2 anos se passaram e eu continuo totalmente saudável”, afirma Lorinaldo.

A coleta do sangue e tecido do cordão umbilical como forma preventiva à doença

Em outubro de 2020 o inspetor descobriu que a sua esposa estava grávida. “Devido a toda a minha condição, achei que talvez não seria possível eu ser pai. Quando descobri que estávamos esperando o bebê, logo fui orientado a realizar a coleta do sangue e tecido do cordão umbilical”, diz. Dr. Nelson esclarece que esse anexo é rico em células-tronco mesenquimais, as quais possuem capacidade de gerar diferentes tecidos, como osso, tendão, cartilagem, tecido adiposo e muscular, suporte medular e células neurais, se colocando assim em evidência para procedimentos de engenharia de tecidos e suporte ao transplante de medula óssea.

A causa da aplasia medular ainda não é totalmente conhecida, mas pode estar associada à exposição a agentes químicos, radiação, medicamentos, ou ser resultado de uma doença mais grave, como a anemia de Fanconi. Além disso, fatores genéticos não são descartados. Sendo assim, o armazenamento das células-tronco surgiu uma forma de prevenção, tanto para Lorinaldo, quanto para a sua bebê.

A diminuição das células sanguíneas circulantes, causada pela doença, pode levar a uma série de sintomas, como palidez, falta de ar, presença de hematomas, ocorrência frequente de infecções e, em casos mais graves, até a morte. Receoso que sua filha pudesse acabar desenvolvendo o mesmo problema, Lorinaldo não hesitou em executar o procedimento. “Não gostaria que minha filha sofresse tudo que eu sofri. Há muitos anos atrás a minha mãe queria ter mais um filho para realizar a coleta, porém, como meu pai veio a falecer, acabamos não conseguindo”, conta.

O Diretor-Técnico da Criogênesis explica que hoje em dia, com os avanços da medicina, é possível, inclusive, alterar geneticamente as células extraídas em laboratório através da terapia gênica. Portanto, mesmo que a criança fosse portadora da doença, se existe a possibilidade de substituir ou manipular genes com problemas. Além disso, elas são totalmente compatíveis com o indivíduo e biologicamente tolerantes, o que leva à diminuição dos efeitos colaterais e o aumento da possibilidade de transplante entre pessoas parcialmente compatíveis.

Para o inspetor, o armazenamento é sinônimo de esperança. “Espero que eu ou a Laura nunca precisemos utilizar o material, mas, caso seja preciso, tenho a segurança de que o teremos disponível para o nosso tratamento. Passei 19 anos na espera de um doador compatível, mas nunca encontrei. Hoje tenho essa tranquilidade. Por isso, sou muito grato à Criogênesis pela oportunidade”, ressalta. Lorinaldo ainda recomenda que todos optem pela coleta. “É uma forma de prevenção para o presente e futuro, tanto para a criança, quanto para a família”, conclui.

Nos dias de hoje, as células-tronco são eficazes no tratamento de mais de 80 tipos de patologias, dentre elas leucemia, certos tipos de linfoma (incluindo linfoma de Hodgkin), anemia aplásica, talassemia, anemia falciforme e algumas doenças degenerativas, como o Alzheimer e o Parkinson. “A coleta ocorre no momento do parto de forma totalmente indolor à mãe e ao bebê. O armazenamento e a criopreservação dessas células-tronco são a única garantia total de compatibilidade com a criança, caso seja necessário”, destaca o hematologista.

Redação

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