Dois pesquisadores da Johns Hopkins Medicine, dos Estados Unidos, estão associados a importantes estudos de combate ao câncer no Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS) — o segundo melhor hospital do país e o sexto na América Latina. O médico e professor de Oncologia, Mario Eisenberger, e a diretora assistente da Divisão de Pesquisa do Câncer de Cabeça e Pescoço, professora doutora e pesquisadora de Oncologia e Otorrinolaringologia, Mariana Brait.
Em andamento desde o final de 2020, um dos projetos tem o objetivo de avaliar marcadores moleculares relacionados ao desenvolvimento de doenças associadas ao papilomavírus humano, o HPV, com ênfase no câncer de cabeça e pescoço na população brasileira em geral e em um grupo jovem — na faixa dos 16 aos 25 anos. No Hospital Moinhos, o trabalho é liderado pela pesquisadora e epidemiologista Eliana Wendland.
“Quando o câncer é detectado precocemente, existem mais chances de controlar a doença. Os esforços de pesquisa realizados em colaboração entre a Johns Hopkins Medicine e o Hospital Moinhos de Vento têm como objetivo avançar o conhecimento sobre características da população brasileira e criar oportunidades de desenvolver métodos inovadores (baseados em biópsia líquida) para o rastreamento e detecção precoce de alterações associadas ao tumor”, afirma Mariana Brait.
Outra pesquisa inovadora será liderada pelo oncologista Pedro Isaacsson, Head do Instituto de Pesquisa do Hospital Moinhos de Vento. O estudo testará a terapia com testosterona em altas doses, associado ao radiofármaco Radium 223. Além de potencialmente controlar a evolução do câncer, o novo tratamento poderá melhorar os efeitos adversos de terapias prévias, como impotência sexual, fadiga e anemia, entre outras.
“A colaboração entre a Johns Hopkins Medicine e o Hospital Moinhos de Vento representa uma excelente oportunidade para combinar esforços para aprofundar a compreensão do tratamento do câncer e acelerar o desenvolvimento de um tratamento eficaz”, afirma Eisenberger. Para o oncologista Pedro Isaacsson, os estudos vão aprimorar as tecnologias disponíveis. “Isso demonstra um compromisso com a pesquisa e mais um passo rumo a avanços que farão a diferença na vida das pessoas afetadas pela doença”, completa.
Segundo os especialistas, terapias eficazes contra o câncer representam uma necessidade global ainda não atendida. Os estudos apontam que a noção tradicional de “tamanho único” nesses casos está sendo substituída por uma caracterização mais precisa dos processos da doença e seleção eficiente de pacientes e tratamentos. “À medida que avançamos na compreensão da biologia do câncer, as terapias anticâncer têm se concentrado em tratamentos personalizados para grupos específicos, com base em perfis genéticos e moleculares. Isso é conhecido como medicina de precisão. A biologia do câncer pode variar por região e um melhor entendimento das diferenças potenciais tornará a seleção do paciente e do tratamento mais fácil. Os ensaios clínicos, ou pesquisas, tornaram-se mais complexos e extensos, exigindo novas parcerias”, explica Eisenberger.
Perfis
Radicado nos Estados Unidos desde a década de 70, Mario Eisenberger passou pela University of Maryland e desde os anos 90 é professor de Oncologia e Urologia na Johns Hopkins University School of Medicine. Foi autor do primeiro estudo que demonstrou que o uso de uma terapia aumentava a sobrevida em pacientes com câncer de próstata, em publicação no New England Journal of Medicine, de 2004. O trabalho mudou a forma de tratar essa doença até os dias atuais.
Eisenberger começou sua carreira como oncologista e hematologista, em 1978, e atuou como pesquisador sênior do Programa de Avaliação de Terapia do Câncer do National Cancer Institute e chefe de Oncologia do Baltimore Veteran’s Administration Hospital. O oncologista foi listado entre os Best Doctors in America e em Who’s Who in the World, publicou extensivamente e fez apresentações em painéis internacionais e nacionais. É membro da American Association of Cancer Research, do National Prostate Cancer Education Council e da American Society of Clinical Oncology, fez parte da Força-Tarefa Internacional da American Society of Clinical Oncology e é certificado em Oncologia Médica e Medicina Interna pelo American Board of Internal Medicine.
Mariana Brait possui graduação em Ciências Biológicas — Modalidade Médica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, campus de Botucatu, mestrado e doutorado em Oncologia pela Fundação Antonio Prudente (A.C. Camargo Cancer Center) e Instituto Ludwig de Pequisa sobre o Câncer e pós-doutorado feito na Johns Hopkins University. Trabalhou como pesquisadora sênior no Instituto Nacional de Câncer (INCA, RJ), na coordenação de pesquisa clínica. É membro da American Association of Cancer Research. É pesquisadora e professora assistente nos Departamentos de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço e de Oncologia e coordena pesquisas na área de câncer, na Johns Hopkins.
O trabalho de Mariana Brait se concentra em Oncologia Molecular Translacional, tendo como principal foco a caracterização de alterações moleculares nas diferentes etapas da doença — desde a fase pré-maligna até estados metastáticos — para identificar e validar oportunidades de intervenção, como o desenvolvimento de testes para detecção precoce, estratificação de pacientes, detecção de doença residual mínima e acompanhamento de pacientes. A pesquisadora publicou mais de 60 artigos nessa área, em revistas científicas de alto impacto. O grupo de pesquisa liderado por Brait busca novas abordagens e desenvolvimento de técnicas para a detecção de câncer via biópsia líquida, utilizando fluídos corpóreos (incluindo sangue, saliva e urina, entre outros).