Cuidados paliativos, abordagem terapêutica que soma recursos para melhorar a qualidade de vida de pacientes com doença grave e risco de vida, foi o tema do Grand Round do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre (RS), na terça-feira (30).
“Medicina paliativa deixou de ter, há muito tempo, o conceito de ser apenas um cuidado carinhoso ou de gente compadecida com o sofrimento alheio. São cuidados técnicos e científicos no sentido de aliviar e prevenir sofrimento de maneira planejada feitos por uma equipe multidisciplinar treinada”, disse o médico Ricardo Tavares de Carvalho, coordenador do Grupo de Cuidados Paliativos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
Conforme o convidado deste Grand Round, a finalidade não é evitar a morte, mas promover qualidade de cuidados para pessoas frágeis, evitando o sofrimento. “É uma medicina técnica, fortemente apoiada em valores individuais. É preciso ter qualificação específica para isso, com respeito e dignidade, fazendo essa uma prática voltada para o outro”, enfatizou Carvalho, médico cardiologista e intensivista.
O sofrimento pode acontecer em diferentes fases da vida, não necessariamente próximo da morte. Pode ocorrer no momento de um diagnóstico, das intercorrências clínicas, em efeitos colaterais de medicamentos ou mesmo no insucesso de tratamentos. Contudo, o envelhecimento mundial da população é preocupante. No Brasil, não é diferente. “Com a desvantagem de que o nosso ritmo de envelhecimento está sendo muito mais rápido do que o de países europeus. A população brasileira vai envelhecer em 25 anos o que a França levou 150 anos. E não temos estrutura apropriada para lidar com isso”, disse o médico na palestra intitulada ‘Como uma equipe de cuidados paliativos pode melhorar a qualidade da assistência hospitalar’.
Em 2010 e 2015, em ranking global, o Brasil figurou entre os países de pior qualidade de assistência no fim da vida. Entre os motivos, a falta de serviços organizados de cuidados paliativos e também a inexistência de uma política pública de saúde específica. “Mas vamos ter uma notícia boa nesse sentido. Uma política pública para isso está a caminho. Vamos mudar de patamar, graças ao trabalho de gente muita séria e do empenho da Academia Nacional de Cuidados Paliativos”, disse.
O médico destacou que a Medicina de Cuidados Paliativos começou a ganhar espaço nos Estados Unidos como uma possibilidade de resposta para custo elevado do sistema de saúde. O mesmo conceito pode ser aplicado aqui. Carvalho relatou a implantação do Núcleo de Cuidados Paliativos do HCFMUSP. Lembrou que, no início, a estrutura era muito limitada. Em razão dos resultados obtidos, foi ampliada. Um paciente em cuidado paliativo acaba liberando um leito de internação. Além disso, em um ano, a economia chegou a 50% porque um leito de cuidado paliativo proporciona redução de custo de R$ 1.000 por dia – em valor não atualizado, disse o convidado, mas serve para dar uma noção dos valores envolvidos. “A economia, em um hospital com muitos leitos, chegou a milhões de reais por ano”, disse.
Na palestra, Carvalho mostrou fotos de pacientes atendidos e as ações da equipe multidisciplinar para garantir conforto e qualidade de vida, como ajudar o doente a saborear um sorvete, um pastel de feira ou receber visita de pets. “São emocionantes as cartas de agradecimentos que recebemos”, comentou Carvalho, que também é diretor do Instituto Paliar, organização de ensino e consultoria focada no desenvolvimento e capacitação na área.
A palestra no Grand Round teve como debatedor o médico Rodrigo Moura Valle, coordenador do Grupo de Cuidados Paliativos do Hospital Moinhos de Vento. Ele destacou processos adotados na instituição para humanizar ainda mais o atendimento.
Na abertura, o médico Gabriel Dalla Costa, coordenador do Grand Round do Hospital Moinhos de Vento, reunião científica mensal realizada em parceria com a Johns Hopkins, disse que “vida é dignidade, respeito e qualidade de vida, e os cuidados paliativos conversam com isso”.