Agosto Dourado: em mês marcado pelo aleitamento materno, a realidade de mães que não devem amamentar

Desde 1992 o mês de agosto é marcado por campanhas de aleitamento materno por todo o mundo. O Agosto Dourado, como é conhecido, busca promover a amamentação de acordo com os moldes recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica a amamentação até os dois anos de vida ou mais, sendo o leite do peito o alimento exclusivo até os seis meses de vida da criança.

Dentro das campanhas, deve-se levar em consideração as mães HIV positivas, que sem os cuidados e informações necessárias podem acabar transmitindo o vírus para o bebê pela amamentação.

A Dra. Daniela Vinhas Bertolini, infecto pediatra e médica colaboradora do Projeto Criança Aids (PCA), explica que a transmissão do HIV pela amamentação é uma das formas de transmissão vertical. “A transmissão vertical pode acontecer em qualquer fase do aleitamento materno, no começo, no meio ou no fim, e em aleitamentos que são de curta ou de longa duração”, diz Daniela.

Mulheres com HIV recebem a orientação médica de que a amamentação pode acabar infectando o bebê, porém ainda há alguns casos de mulheres que acabam amamentando e transmitindo o vírus para a criança.

Outro caso bem comum é o de mulheres que são infectadas durante o período em que estão amamentando, momento em que não são testadas e, assim, transmitem o vírus para seus filhos. “A mulher fica com a carga viral muito alta e a chance de transmissão pelo leite materno pode chegar até 40%”, pontua a infectopediatra.

São Paulo possui certificado de eliminação da transmissão vertical

Os casos de transmissão vertical do HIV estão em processo de diminuição e eliminação no Brasil. O município de São Paulo é um dos poucos no país que já conseguiu a certificação de eliminação da transmissão vertical.

“Isso não significa que não existam casos de transmissão, ainda existem crianças que se infectam, mas é um número extremamente baixo, o que permitiu ao município receber essa certificação”, comenta a médica.

Daniela explica que a forma de garantir que uma criança, filha de mãe com HIV, não se infecte é seguindo o protocolo de transmissão vertical do HIV. “Esse protocolo indica que a mulher deve realizar pré-natal regularmente para que, durante a gestação ou no momento do parto, esteja com a carga viral indetectável, ou seja, que esteja com a doença controlada”, comenta ela.

Enquanto isso, mesmo em um cenário de carga viral indetectável, a amamentação pela mãe HIV positivo não é recomendada. “Logo após o parto, o protocolo indica que a mãe deve ser encaminhada para medicação, onde tomará uma injeção que inibirá a produção de leite”, conta Daniela.

Os bebês cujas mães vivem com HIV, têm direito à fórmula láctea distribuída pelo SUS (Sistema Único de Saúde) até os 6 meses de vida. No município de São Paulo, o leite é fornecido gratuitamente até a idade de dois anos.

A importância do acesso à informação

Apesar da sensação de que as informações sobre formas de contágio e proteção estão divulgadas de maneira a atingir todos os públicos, muitas vezes homens e mulheres se veem sem clareza sobre temas como esse.

Para Adriana Galvão Ferrazini, presidente do PCA, o acompanhamento de famílias que convivem com o HIV pode fazer a diferença no momento da amamentação.

“Temos casos de famílias que nós acompanhamos em que um filho de pais que vivem com o HIV não foi infectado durante a gestação e nem no momento do parto”, conta Adriana, que completa: “A transmissão também não ocorreu no momento da amamentação, isso porque a família foi instruída pela equipe interdisciplinar do Projeto”.

Como comentou a Dra. Daniela, durante as consultas e exames de pré-natal, a mulher é submetida a testes de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), porém, após o parto, não são realizados novos exames e o sexo desprotegido pode expor as mães em período de amamentação.

Nestes casos, Adriana comenta sobre as opções de proteção para mães de casais dissonantes (quando o homem é HIV positivo e a mulher não) ou aquelas que possuem mais de um parceiro sexual: “Além do uso de preservativo em todas as relações sexuais, é recomendado o uso da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que reduz a exposição das pessoas ao vírus”.

Também não podemos deixar de falar da importância do “Pré-Natal Masculino”, programa criado pelo Ministério da Saúde, onde o homem é convidado a realizar exames clínicos junto com sua parceira durante o período da gestação.

Alguns exames sugeridos pelo programa são os testes de ISTs, como a AIDS e a sífilis, que podem ser transmitidas da mãe para o feto.

A testagem feita pelo parceiro diminui as chances de infecção da mãe durante a gestação e assegura que o bebê também esteja protegido. Mas como o protocolo de transmissão vertical encerra na hora do parto, é imprescindível continuar com os cuidados durante todo o período de amamentação: sexo seguro, PrEP e testagem!

Redação

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