Artigo – A importância da ecodopplercardiografia como diagnóstico precoce de cardiopatia congênita

As cardiopatias congênitas representam a principal causa de mortalidade perinatal por doença congênita e ocorrem com uma prevalência populacional de cerca de 8 a 12 casos por mil nascidos vivos. Cerca de 20 a 30% desses recém-nascidos morrem no primeiro mês de vida, sendo de fundamental importância o diagnóstico pré-natal para a diminuição desse índice.

Dados de literatura relatam nítida associação entre alterações cardíacas e óbitos fetais de até 39,5%, dependendo da idade gestacional. Estima-se que a incidência de cardiopatias congênitas em fetos deva ser cinco vezes maior do que em recém-nascidos.

A ecodopplercardiografia fetal é responsável pela definição da anatomia e do comportamento hemodinâmico de anomalias congênitas cardíacas, sendo realizado em torno de 28 semanas.

Com o atual desenvolvimento da assistência médica e avanço tecnológico, nós do Sabará Hospital Infantil realizamos o diagnóstico das alterações congênitas cardíacas e damos todo o suporte para aconselhamento familiar, tratamento e seguimento das crianças.

Há várias indicações formais para a realização do ecocardiograma fetal como:

– História familiar de cardiopatia congênita

– Doenças metabólica (Diabetes, Fenilcetonúria)

– Anormalidades extracardíacas fetais

– Exposição a teratógenos

– Anomalias cromossômicas

– Exposição a inibidores de prostaglandinas (ibuprofeno, salicilatos, indometacina)

– Arritmias fetais

– Rubéola congênita

– Hidropsia fetal não imune

– Doença auto imunes maternas (LES, Sd Sjogren)

– Aumento da translucência nucal

– Síndromes familiares (Marfan, Noonan, Ellis Van Creveld)

– Gestações múltiplas

– Fertilizações in vitro

– Retardo do crescimento fetal

– Idade materna avançada

– Suspeita de cardiopatia pelo ultrassom obstétrico

Contudo, a grande maioria dos recém-nascidos com cardiopatia congênita não realizam o ecodopplercardiograma em vida fetal, já que mais de 80% das malformações cardíacas ocorrem em fetos sem qualquer fator de risco. Nesse sentido muitos médicos indicam o exame de rotina.

A realização da ecocardiografia fetal confere uma especificidade de 90 a 100% e uma sensibilidade de 85% para o diagnóstico de cardiopatias congênitas.

Os benefícios do diagnóstico da cardiopatia em vida fetal são evidentes e são variáveis para cada tipo e apresentação da anomalia.  Em cardiopatias que se apresentam de forma ativa, ou seja, ocasionam envolvimento e deterioração da hemodinâmica fetal pode haver necessidade de drogas antiarritmicas, de antecipação do parto ou intervenção cirúrgica fetal.

Fetos com cardiopatias graves e compensadas durante a manutenção da circulação fetal, ou seja, passivas, tem a oportunidade com o diagnóstico fetal e precoce de programarmos para o nascimento.

Com uma adequada recepção ao recém-nascido cardiopata é possível oferecer uma transição entre a vida fetal e pós-natal muita mais natural e limitar os fatores prejudiciais, aumentando a sobrevida e evitando a deterioração clínica, consequente a conduta errada, atraso diagnóstico ou transferência de um cardiopata instável. 

Já em casos de cardiopatias leves, o diagnóstico precoce proporciona aos pais e ao corpo clínico tranquilidade na vigência de um sopro cardíaco, podendo-se confirmar o diagnóstico de forma eletiva.

Além disso, independentemente da complexidade da anomalia, o diagnóstico pré-natal permite um adequado aconselhamento familiar, um aprimoramento da relação médico-paciente e oferece oportunidade da família se informar, não se surpreender e preparar-se de maneira psicológica e logística.

A ecocardiografia fetal além de definir alterações cardiovasculares possibilita ainda a diferenciação entre cardiopatias ou variações da normalidade, como em casos de dilatação das câmaras direitas, refluxo tricúspide, derrame pericárdico e “Golf Ball”.

Ressalto e lembro, que como a maior parte dos recém nascidos cardiopatas são de gestações de baixo risco e consequentemente grande parte dos defeitos cardíacos congênitos não são diagnosticados antes do nascimento, os profissionais envolvidos nos cuidados a gestante e ao recém-nascido devem buscar a otimização do diagnóstico de cardiopatias estruturais e funcionais em vida fetal, tanto através do rastreamento adequado pela ultrassonografia obstétrica como pela ecocardiografia fetal, a qual atualmente é indispensável e com posição de destaque na propedêutica armada.  Assim como a constante evolução da assistência clínica e cirúrgica aos recém nascidos com cardiopatia, o diagnóstico pré natal, que ainda é restrito, tem enorme impacto na sobrevida dessas crianças e qualidade de vida delas e suas famílias.

 

 

 

Dr. Gustavo A. G. Fávaro é médico da Cardiologia e Ecocardiografia pediátrica e fetal do Sabará Hospital Infantil, de São Paulo (SP)

Redação

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