Ultrapassados 316 dias de infecção no Brasil, atingimos – nesta quinta-feira (7) – o trágico patamar de 200 mil óbitos por Covid-19 em nosso país. Em todo o mundo, este é o segundo pior cenário da doença, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, que se aproximam das 350 mil mortes.
Ainda sem vacinas liberadas por aqui, a pandemia está longe do fim. O quadro dramático que vivemos diverge em tudo das previsões dos negacionistas, que proclamavam que não chegaríamos nem à marca de duas mil mortes por Covid-19, uma “gripezinha”, como tantas outras.
O posicionamento infeliz do Governo Federal em relação à pandemia contribuiu, e muito, para chegarmos à triste marca. A população foi e ainda vem sendo desestimulada a aderir às recomendações básicas de distanciamento social e de uso de máscaras. A falsa segurança tem sido a consequência ainda da divulgação de medicações inefetivas.
Convivemos também com a incerteza quanto à disponibilização de vacinas pela falta de empenho na negociação da sua aquisição e dos insumos necessários para aplicá-las. Vimos ainda a credibilidade das soluções vacinais ser minada por declarações oficiais. Assistimos autoridades apequenarem-se em sua inconsequência.
Se todas as medidas possíveis tivessem sido tomadas, poderíamos estar com menos da metade deste número – conforme previsão do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e sua qualificadíssima equipe, demitidos em meados de abril, quando tínhamos menos de dois mil óbitos pela doença.
Por outro lado, nos chegam as boas novas e a esperança de registro na Anvisa da vacina do Butantan (Coronavac). Os resultados em segurança e eficácia nos permitem vislumbrar a superação deste momento.
As várias vacinas em desenvolvimento e já em uso em diversos países reafirmam o valor da Ciência. O resultado do esforço de tantos cientistas e profissionais de saúde que sempre acreditaram e praticaram Ciência, os faz respeitados.
Sairemos desta situação maiores, a exemplo dos nossos dois ex-ministros médicos – Luiz Henrique Mandetta e Nelson Luiz Sperle Teich – que, ao se mostrarem irredutíveis em defesa dos interesses da saúde dos brasileiros, valorizaram a Medicina e deixaram o cargo muito maiores do que quando a ele chegaram. A eles, nossas homenagens.
José Luiz Gomes do Amaral é presidente da Associação Paulista de Medicina e da Academia de Medicina de São Paulo
Associação Médica Brasileira divulga nota sobre as 200 mil mortes pela Covid-19
“Vemos, consternados, o Brasil bater a marca de duzentas mil mortes por Covid-19. A pandemia é sim implacável, aqui e em todo o mundo. Colegas médicos foram à óbito e boa parte se encontra exausta. Tememos pelo esgotamento do nosso sistema de saúde para tratamento de todas as vítimas desta nefasta doença. Precisamos de uma luz no fundo do túnel. Essa luz vem da vacinação de toda nossa população e da manutenção das medidas de isolamento social. Só nos resta trabalhar com seriedade e responsabilidade embasados na evolução do conhecimento científico. Esperamos por dias melhores”.
César Eduardo Fernandes é presidente eleito da Associação Médica Brasileira (AMB), com posse marcada para amanhã, 8 de janeiro de 2021