Artigo – Brumadinho e a Saúde Pública

Além das dezenas de pessoas e animais mortos e desaparecidos, a tragédia ocorrida em Brumadinho ainda deverá gerar consequências extremamente irreparáveis ao meio ambiente e para a saúde pública dos cidadãos que vivem na região. Segundo o Boletim de Monitoramento do Rio Paraopeba, elaborado pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), a lama com rejeitos de barragem da mineradora Vale já alcançou e, nos próximos dias, pode chegar à Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo, colocando, assim, em risco a Bacia do Rio São Francisco na pior das hipóteses, se a lama não for freada naturalmente no seu curso. Por esta razão, Rogério Aparecido Machado, doutor em Saúde Pública e professor de Química da Universidade Presbiteriana Mackenzie, faz um alerta:

“A poluição da água do Paraopeba sofrerá os mesmos efeitos que o rio Doce, prejudicado após o rompimento da barragem em Mariana (MG). A vida aquática e a flora que margeiam o Paraopeba poderão ficar contaminadas por metais. Os lençóis freáticos devem ser comprometidos devido à água da chuva que pode permear e solubilizar os metais para o lençol. Para agravar ainda mais o quadro, a poluição do solo poderá acarretar prejuízos sérios para o abastecimento local, pois, onde há lama com metais em excesso, a agricultura é inviável”, aponta o professor.

Para tentar amenizar os riscos, o especialista recomenda que deve haver uma política de saúde pública preventiva, como a vacinação das pessoas que tiveram contato direto com a lama, ou seja, pessoas que literalmente foram resgatadas ou de outra forma entraram na lama. Posteriormente, sugere-se que os órgãos oficiais organizem um processo de vacinação com as pessoas que estiveram próximas à lama. O intuito é preventivo de saúde pública, e não alarmista, pois devemos descartar todo e qualquer risco de contaminação, por menor e ínfimo que seja, haja vista que a área contaminada pela lama é extensa, e praticamente ninguém pode afirmar o que esta lama aglomerou por onde passou. “A lama seca poderá gerar a poluição do ar com poeira e acarretar malefícios à saúde da população se não forem tomadas atitudes que minimizem esta poluição, por exemplo”, conclui o especialista.

Rogério Aparecido Machado é doutor em Saúde Pública pela USP e professor de Química da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Redação

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