Artigo – Cada gota conta

O Dia Nacional e Mundial da Doação de Leite Humano, celebrado em 19 de maio, é uma data oportuna para uma reflexão sobre o tema. O aleitamento materno é muito importante para a saúde, mas, por diversos motivos, existem bebês que não podem ser amamentados por suas mães, mas que, da mesma forma, precisam ser alimentados com leite humano em seus primeiros meses de vida.

Sob a ótica social, embora seja uma ação natural, a amamentação pode representar um grande desafio para as mulheres, já que, após darem à luz, precisam de uma rede de apoio. Além da recuperação do corpo e dos cuidados com o bebê, as tarefas de antes do nascimento não desaparecem e o fluxo de atividades segue normalmente, seja relacionado à rotina doméstica ou profissional. Por isso, a rede de apoio, formada por familiares, creches, auxiliares, profissionais de saúde e rede de bancos de leite humano pode impactar diretamente no sucesso da amamentação.

O processo de amamentação também pode ser impactado pelas condições de nascimento dos bebês. Nos que nascem prematuros, com baixíssimo peso, pode ocorrer a necessidade de internação em UTIs neonatais para que possam ter uma recuperação mais adequada. Por esse motivo e também por condições relacionadas às mães, a amamentação pode ser prejudicada. No Brasil, segundo a Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH) cerca de 330 mil crianças nascidas a cada ano são prematuras ou têm baixo peso, número que representa 11% do total de crianças nascidas no país, média de 3 milhões por ano.

Quando partimos da premissa que a amamentação é fundamental para a saúde, assumimos que é preciso atuar para que mães e bebês possam ter o suporte necessário para que o aleitamento humano seja uma realidade em suas vidas. Como a própria rBLH enfatiza, o leite humano é um alimento vivo, possui anticorpos, é rico em compostos nutricionais e não pode ser reproduzido pela indústria. Ele pode prevenir alergias, infecções, diarreias, pneumonias, entre outros, além de reduzir o risco de hipertensão, colesterol alto, diabetes, sobrepeso e obesidade na vida adulta. Para recém-nascidos, as quantidades necessárias de leite humano podem ser muito reduzidas, e por isso, cada gota conta.

Em julho de 2021, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) lançou a campanha “Todos pela amamentação. É proteção para a vida inteira”, também ressaltando que crianças e adolescentes que foram amamentados quando bebês têm menos probabilidade de apresentar sobrepeso, obesidade e apresentavam melhor frequência escolar.

A amamentação tem valor para toda a sociedade, e por isso, seu sucesso não é uma obrigação exclusiva da mãe. Familiares, comunidades, empresas, políticas públicas, profissionais de saúde, meios de comunicação e a sociedade civil organizada precisam atuar de forma a garantir seus impactos positivos. Nesse contexto, as datas comemorativas não devem valorizar apenas o aleitamento materno, mas também iniciativas relacionadas à doação de leite humano, que podem assegurar que mães e bebês tenham acesso.

De acordo com a rBLH, existem no Brasil 228 unidades de bancos de leite, que hoje suprem somente 60% da demanda. Nossa oportunidade está nesses 40%. Há uma demanda social e de saúde que hoje não é atendida, e juntos podemos trabalhar em sua resolução. A doação é essencial para aumentar as chances de recuperação de bebês prematuros e/ou de baixo peso que estão internados em UTIs neonatais, além de proporcionar um desenvolvimento mais saudável para a vida de todos aqueles que não tiveram a oportunidade de receber o leite humano. O Lactare, primeiro banco de leite humano privado extra hospitalar, tem uma meta mensal de captação de 300 litros, que são distribuídos para cinco unidades neonatais de hospitais públicos no Estado de São Paulo.

Apesar da lacuna no atendimento à demanda, o Brasil tem a maior e mais complexa rede de bancos de leite humano do mundo e é referência internacional por utilizar estratégias que aliam baixo custo, alta qualidade e tecnologia. Ou seja, está ao nosso alcance. A responsabilidade pela transformação é de todos nós – seja por meio do apoio à amamentação, suporte e rede de apoio à puérpera ou de iniciativas práticas como os bancos de leite humano, com financiamento, incentivo e facilitação da doação, interligando doadoras aos que mais precisam.

Maíra Billi é idealizadora do Lactare, primeiro banco de leite humano privado do Brasil criado e mantido por uma indústria farmacêutica

Redação

Redação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.