Nunca se falou tanto em saúde quanto nos últimos tempos. Por outro lado, ainda é preciso desmistificar as múltiplas facetas e especialidades médicas tão vitais para sua manutenção. A dermatologia, por exemplo, é – por vezes – subestimada ou compreendida erroneamente. Até mesmo neste 5 de fevereiro, Dia do Dermatologista, muitas pessoas ainda reduzem a especialidade apenas ao estudo das doenças da pele (o maior órgão do corpo humano) e tratamentos estéticos “superficiais”.
Contudo, a área de conhecimento da dermatologia vai muito além. Ela também se concentra no diagnóstico, prevenção e tratamento de doenças e afecções relacionadas a pelos, mucosas, cabelos e unhas. Sim, existem tratamentos estéticos modernos, mas também existe todo um mundo à parte. Quando se fala somente em pele, estima-se mais de 3 mil doenças dermatológicas que afetam crianças, adultos e idosos – que podem variar de leves a graves e exigem atenção.
A ameaça de um melanoma maligno é bem conhecida, mas o câncer de pele não melanoma também causa e/ou contribui para morbidade e mortalidade significativas. Além disso, doenças de pele mais comuns, como a psoríase, estão associadas a outras condições médicas, que podem incluir desde doenças cardíacas até diabetes.
Aliás, muitas doenças infecciosas e internas apresentam sinais cutâneos. A pigmentação da unha pode indicar envenenamento por arsênico; a pele seca e escamosa pode revelar hipotireoidismo; o amarelecimento da pele pode apontar uma insuficiência hepática; erupções cutâneas como, por exemplo, a erupção facial em formato de borboleta pode sinalizar lúpus; e pontos vermelhos pontuais podem ser um sinal de vasculite, septicemia, baixa contagem de plaquetas ou leucemia.
A propósito, muitos não sabem, mas dermatologistas costumam fazer o diagnóstico inicial de doenças sexualmente transmissíveis – todas com manifestações cutâneas. Em 2020, então, pesquisas clínicas revelaram ao mundo que até mesmo o novo Coronavírus (Covid-19) apresenta sintomas na pele, conforme grau de gravidade da doença – o que reforçou a importância do olhar multidisciplinar de profissionais da saúde na identificação da Covid-19.
Indo além, existem ainda emergências dermatológicas, que incluem desde bolhas repentinas na pele, coceiras que perturbam o sono até a diferenciação se uma erupção cutânea de aparecimento súbito é devido a uma infecção, reação a um medicamento ou uma doença autoimune. Picadas de insetos e acidentes ofídicos? Aplicar a melhor conduta e saber como proceder é essencial. Algo que a dermatologia está sempre pronta para ajudar.
Inclusive, em certos casos, a dermatologia literalmente soluciona mistérios. Uma “verruga” que cresce rapidamente nas costas pode se revelar um carrapato cheio de sangue; um cisto recém-formado no couro cabeludo pode esconder larvas; objetos antigos podem ser encontrados embutidos na pele. É isso mesmo: cacos de vidro e estilhaços podem abrir caminho através da pele ao longo dos anos (às vezes, décadas) depois de entrarem.
Há ainda questões que podem influenciar significativamente na autoestima dos indivíduos e interferir nos relacionamentos interpessoais. Existe uma alta taxa de depressão e ansiedade em pacientes com doenças crônicas de pele, incluindo vitiligo, eczema e acne. Ou seja, nem tudo se trata apenas da pele – vai muito, muito além.
Agora, por fim, lhe pergunto: quando foi a última vez que agendou uma consulta médica no dermatologista? Antes de navegar no Google para fazer um autodiagnóstico ou procurar tratamentos alternativos (estéticos ou não), converse com um profissional. Faça dessa rotina um novo compromisso com a sua saúde.
Karin Krause Boneti é médica dermatologista pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e diretora clínica da Frémissant