Depois de mais de dois anos de pandemia do novo Coronavírus, os impactos na área da saúde ainda são enormes e preocupam a comunidade médico-científica. Além de promover a maior crise sanitária da história, a pandemia vem causando atrasos em diagnósticos de muitas doenças, em especial do câncer. Estatísticas recentes já evidenciam esse efeito, sendo esperado um aumento de diagnósticos tardios nos próximos meses, refletindo no aumento de mortalidade por câncer nos próximos anos.
Neste Dia Mundial do Câncer, uma iniciativa global da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) com apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS), torna-se ainda mais importante refletir sobre a conscientização da doença, da importância do diagnóstico precoce e da manutenção do tratamento mesmo em momentos de pandemia como agora.
O câncer é a segunda maior causa de mortes no mundo, cerca de 7 milhões de pessoas morrem em decorrência da doença por ano. Somente no Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), são esperados 625 mil novos casos para o triênio 2020-2022. Atualmente, uma em cada cinco pessoas em todo o mundo desenvolve câncer durante a vida. Além disso, um em cada oito homens e uma em cada 11 mulheres morrem da doença. Os dados são alarmantes e as expectativas são de que eles possam aumentar ainda mais devido a atual crise sanitária.
Durante os primeiros meses da pandemia, houve uma queda expressiva na realização de exames e de consultas médicas. Muitos, por temor da transmissão da Covid, adiaram a realização desses exames tão fundamentais para o diagnóstico precoce. Além disso, tivemos cancelamentos de consultas, procedimentos e exames pela sobrecarga dos serviços de saúde, dos quais a capacidade de atendimento foi, em boa parte, direcionada ao atendimento de pessoas com Covid-19.
No setor público tem sido ainda mais preocupante. Nestes casos, geralmente, o paciente chega até o especialista já com resultado da biópsia (diagnóstico histopatológico), necessário para iniciar o tratamento. Sem a realização desses exames, o paciente retarda o diagnóstico, aumentando a possibilidade de avanço de doença e reduzindo as chances de cura. Especialmente nos casos de neoplasias malignas de crescimento rápido, este atraso pode representar a perda de possibilidade de tratamento curativo.
Essa é a principal luta para nós que lidamos no dia a dia com pacientes os oncológicos. Embora alguns tipos de tumores se apresentem de maneira agressiva, a maioria dos cânceres é passível de tratamento curativo, quando diagnosticado em estágios iniciais. No entanto, a detecção e o tratamento tardios fazem com que essas chances se restrinjam significativamente. No Brasil, infelizmente, boa parte dos pacientes descobre a doença em estágio avançado.
Para combater o câncer é preciso reforçar medidas preventivas, promover o acesso rápido ao diagnóstico e ao tratamento adequado. A minoria dos tumores está associada à herança genética, sendo a maioria associados a hábitos de vida.
Segundo estatísticas do Inca (Instituto Nacional de Câncer), o tabagismo é a principal causa de câncer evitável no mundo, não apenas de pulmão. Ele é responsável por 30% da ocorrência de outros tipos de câncer, como boca, laringe, faringe, esôfago, estômago, pâncreas, fígado, rim, bexiga.
Tabagismo, obesidade, sedentarismo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas, são hábitos que podem resultar não só no aumento da incidência de doenças cardiovasculares como também de câncer. Levar uma vida saudável é, antes de tudo, uma maneira de viver bem e um importante aliado na prevenção de doenças malignas.
Além de cultivar hábitos saudáveis, vacine-se, faça consultas regulares e não deixe que o receio de Covid atrase uma visita ao médico ou mesmo um exame. São pequenas ações que podem salvar a sua vida.
Cláudia Cardoso é oncologista da Fundação São Francisco Xavier