O cenário da Saúde no Brasil inspira cuidados. Apesar de sua participação no PIB ser cada vez maior – em 2021, respondeu por 9,47% – os serviços ainda não estão acessíveis a todos. Segundo pesquisas, 80% das pessoas das classes A e B têm planos privados de saúde. Porém, quando fazemos uma radiografia da classe C, a realidade é bem diferente e esse percentual despenca para 20%.
A falta de poder aquisitivo – cada vez mais corroído, ainda mais com aumento da inflação e taxa de juros do país – afasta essa realidade da classe C. Os custos de um plano de uma operadora privada não cabem no bolso. Por outro lado, temos uma outra situação: essas operadoras deixaram de criar e oferecer produtos de saúde voltados para a pessoa física, pela dificuldade de repassar os custos para o cliente, o que dificulta ainda mais esse acesso.
Apesar dessa dificuldade de acesso, a classe C tem uma característica interessante: esse público consegue ter um pedaço de sua renda para gastos de saúde.
O que tem acontecido com grande frequência é que as pessoas estão usando serviços médicos avulsos, seja para fazer consultas, exames ou procedimentos mais simples. Quando o valor se torna inacessível, recorrem ao Sistema Único de Saúde (SUS), que atualmente está extremamente sobrecarregado por conta dessas demandas.
Com essa realidade, fica humanamente impossível o SUS dar conta de todo mundo que está ali em busca de atendimento. Para conseguir fazer uma mamografia pelo sistema público, o paciente pode esperar mais de um ano para conseguir uma data. E isso agrava situações como quando o paciente está com câncer. Após identificar a doença, os procedimentos ocorrem em um curto espaço de tempo. O problema é conseguir chegar no diagnóstico, ou seja, ter acesso a uma consulta médica em pouco tempo.
O que muita gente não sabe ainda no Brasil são os preços dos procedimentos médicos. Hoje é possível fazer um hemograma por R$ 7,00, uma mamografia por R$ 60,00. Muitas pessoas ainda acham que esses exames são caríssimos e acabam ficando dependendo do SUS. Elas não precisam mais esperar longos períodos para fazer uma mamografia. Podem adiantar o exame pelo serviço privado e obter um retorno mais rápido para o médico.
Um dos grandes problemas do SUS é o número de pessoas em busca de atendimento. Muitos deles – acredito em torno de 60% das consultas – poderiam ser solucionados via telemedicina, oferecida por um custo muito baixo, aos pacientes. E cerca de 40% demandariam atendimento presencial, pois o médico não consegue descobrir o que está acontecendo ficando atrás de uma tela de computador.
O setor privado precisa entender melhor o mecanismo de funcionamento da classe C. Nos últimos anos, temos nos empenhado nessa missão, oferecendo produtos que atendam às necessidades de atendimento diferentes de cada pessoas. Um idoso e uma mãe precisam de cuidados específicos, seja em consultas, exames, remédios. Tem suas especificidades. Uma criança tem outras demandas, e assim por diante.
O maior conhecimento do mercado por parte das empresas de assinatura de serviços de saúde permitirá avanços importantes que poderão auxiliar a aumentar esse acesso às pessoas, ou seja, criando produtos segmentados, adequados a cada universo de pessoas.
Ainda estamos escalando dessa montanha íngreme e cheia de obstáculos. Mas acredito que, com a união entre os dois mundos – público e privado – podemos ir além e alcançar o topo, com a saúde acessível para todos.
Gilberto Barbosa é diretor de Operações e Marketing da VidaClass Saúde