Artigo – Gestão de custos e saúde sem gestão

Diversas mudanças vão se desenhando no sistema de saúde suplementar. Por ação dos planos de saúde ou das autoridades, elas respondem principalmente à necessidade de conter a escalada da inflação na saúde. Seria saudável, todavia, que além de pretender reduzir desperdícios e conter abusos, reais ou imaginários, essas mudanças também concorressem para dar à luz um novo tipo de plano de saúde privado, voltado mais à gestão da saúde de seus associados e menos à pura e simples intermediação dos serviços médicos e hospitalares.

Segundo a lógica financeira de quem opera os planos, o negócio da saúde consiste em controlar duas pontas do sistema: o associado, para que use menos o serviço, e os prestadores, para que os serviços custem o mínimo possível. Em socorro dessas preocupações vieram institutos como a co-participação e a franquia. Em outra frente, desenvolve-se a discussão sobre a necessidade de substituir o sistema de pagamentos fee for service por um modelo que contemple a resolutibilidade e não estimule o consumo inadequado.

Tudo bem. Aplicadas com razoabilidade, essas novidades podem ser virtuosas e contribuir para estimular o uso consciente dos planos e reduzir custos excessivos. Porém, esses mesmos objetivos seriam bastante reforçados se, além da gestão das contas, se fizer também a competente gestão da saúde dos beneficiários, investindo por exemplo na identificação e tratamento precoce das doenças. Aqui, mais é menos:  gastos feitos no momento certo podem conduzir a uma economia considerável – e, o que é mais importante –, acompanhada de ganhos para a saúde e a vida do paciente.

Tomemos como exemplo comparativos sobre resultados e custos no tratamento do câncer. Um deles, realizado na Inglaterra pela Cancer Research UK e apropriadamente intitulado “Saving lifes, averting costs”, mostrou que os custos do tratamento do câncer de cólon no estágio 4 da doença são 271% mais elevados do que o tratamento no estágio 1. No câncer de ovário, a diferença é de 183%, sendo que o diagnóstico no estágio 1 possibilita sobrevida relativa de cinco anos em 90% das ocorrências, probabilidade que cai para 3,5% no estágio 4.

Num estudo patrocinado pela General Electric Healthcare, feito a partir histórico de 8.360 mulheres com câncer de mama, constatou-se que aquelas diagnosticadas no estágio 0 foram tratadas ao custo de 71.909 dólares, ao passo que no estágio 4, o custo médio foi de 182.655 dólares. Na mesma linha, pesquisa de 2016, com dados do SUS, revelou que tratamentos iniciados no estágio 3 em casos de câncer no reto, no cólon e na mama custam 20, 18 e 6 vezes mais, respectivamente, do que custariam no estágio 1.

Vê-se, apenas pelos dados relativos ao câncer, que se há motivos para mover campanhas pela redução de desperdícios e excessos, também existem fortes razões para que os beneficiários dos planos de saúde cobrem de suas operadoras a entrega dos serviços que vendem. Ou seja, que os planos façam de fato a gestão da saúde de seus clientes.

Bruno Sobral de Carvalho é Secretário-Executivo da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde)

Redação

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