Assisti recentemente à série documental da Netflix Lenox Hill, sobre os desafios de um grupo de médicos no histórico hospital de mesmo nome, situado no coração de Manhattan, em Nova York, e uma das principais instituições de saúde do país.
A série foi filmada em 2018 mas é premonitória ao mostrar com tanta empatia e honestidade a incrível dedicação de médicos com backgrounds tão diferentes mas que possuem, em comum, a paixão pela medicina e em cuidar de vidas, sejam elas a de pacientes com câncer ou a de um morador de rua frequentador habitual do pronto-socorro da unidade.
Ao longo dos episódios, um questionamento ficava cada vez mais forte em mim: estas histórias reais deveriam fazer parte das conversas do nosso dia a dia e da nossa luta por mais empoderamento enquanto pacientes e enquanto sociedade. São conteúdos como esse, carregados de informação e conhecimento de qualidade, que nos alçam a outro patamar de entendimento em busca de um mundo mais saudável e mais conectado com as descobertas científicas que poderiam melhorar a vida de tantas pessoas.
E qual instituição deveria assumir de frente a responsabilidade de contar estas histórias senão as instituições de saúde, como os hospitais?
A pandemia que vivemos deixa claro isso. Buscamos, em meio a tanta fake news, um alento de verdade, de informação científica com credibilidade para nos guiar no meio da escuridão. E são estes centros de referência que, mais do que nunca, têm feito este papel aqui no Brasil, por meio de plataformas proprietárias ou munindo a fortalecida imprensa de conteúdo para ser disseminado à população. Aqueles que tiveram sucesso se tornaram referência no universo da opinião pública.
Mas sabemos que existem muitas outras organizações de saúde que, apesar do histórico de excelência e das atividades de ponta no cuidado e pesquisa durante a pandemia, permaneceram invisíveis aos olhos da população.
O que foi feito até agora é um excelente começo, mas ainda é pouco se comparado ao que tantos outros setores fazem para ganhar o “share of heart” das pessoas e criar relações profundas de confiança.
A evolução desta postura transparente, de protagonizar a disseminação de informações relevantes como parte do trabalho da instituição de saúde, tornou-se mandatória e passa a ser, cada vez mais, uma expectativa da sociedade.
A partir da nossa experiência na InPress Porter Novelli em comunicação para saúde, compartilho aqui alguns caminhos:
1 – Vencer a bolha
É preciso entender que falar apenas para os convertidos não é suficiente. A indústria da saúde é extremamente regulada – por um bom motivo – mas isso não deveria ser obstáculo para inovar. Uma boa forma de exercitar este novo olhar é buscar o que players de áreas totalmente distintas têm feito e que poderia ser traduzido para a nossa área.
2 – O paciente é muito mais que um paciente
O paciente não é apenas um prontuário, ele é um cidadão que possui suas próprias crenças e valores e que irá, cada vez mais, escolher não apenas seu shampoo mas o seu hospital a partir destes valores em comum. É preciso estar aberto a ouvir e a criar suas estratégias a partir dos anseios dele.
3 – Mudar percepções e hábitos demanda coragem
Se há algo unânime neste setor é o fato de que precisamos urgente de uma forte revisão de como gerenciamos a saúde pública e privada no Brasil. E só iremos alcançar este objetivo quando as instituições começarem a atuar como marcas “ativistas”, que provoquem reflexões necessárias na sociedade. Quer exemplo mais real do que a telemedicina?
4 – Existirmos: a que será que se destina
Afinal, o que é “propósito”? É o valor e o papel autênticos de uma organização na sociedade, que proporcionam crescimento tanto dos seus negócios quanto do seu impacto positivo no mundo. Instituições de saúde, na teoria, possuem isto naturalmente, mas na prática poucos realmente o refletem nos seus negócios. Quando uma organização atua com propósito¹, 89% dos seus clientes têm uma imagem mais positiva desta empresa, 86% estão mais abertos a confiar nela e 83% do público são mais fiéis.
Quem sabe, em um futuro próximo, veremos cada vez mais hospitais como protagonistas e líderes na comunicação para a sociedade em momentos como o que estamos vivendo. E veremos também, cada vez mais, a sociedade ser proativa na defesa destas instituições.
Não seria mais do que justo.
Referências:
1 – Feeling Purpose (Fonte: Porter Novelli/ Cone Purpose Biometrics Study)
Ana Domingues é diretora de Health & Wellness. Com uma trajetória de mais de 18 anos em comunicação corporativa, Ana lidera um time de mais de 30 especialistas na InPress Porter Novelli, onde atua na consultoria e atendimento a grandes players em saúde e bem-estar. Entre os prêmios da sua carreira estão Cannes, Wave, Lusófonos e Sabre Awards