A medicina atravessa um momento de profunda transformação com a chegada da Inteligência Artificial (IA). Mas, longe de representar uma ameaça, essa ferramenta traz a oportunidade de resgatar a essência humana do cuidado médico. Quando aplicada de forma ética, a IA abre caminho para uma prática mais personalizada, capaz de unir tecnologia de ponta com uma visão integral do ser humano.
Estudos recentes, inclusive, reforçam essa percepção. Uma pesquisa publicada na JAMA Internal Medicine mostrou que, em atendimentos simulados, as respostas fornecidas pela inteligência artificial foram consideradas mais empáticas do que aquelas dadas por médicos humanos em nove vezes. Já a NPJ Digital Medicine revelou que a IA superou profissionais em precisão diagnóstica em 36% dos casos analisados.
O que esses dados têm em comum? Em nada reduzem o papel do médico. Pelo contrário, revelam a necessidade de integrar a tecnologia com responsabilidade. O verdadeiro debate não está na escolha entre homem ou máquina, mas em garantir que o ser humano permaneça no centro das decisões clínicas.
A IA pode devolver aos profissionais algo que o sistema nos tirou: tempo para pensar, sentir e cuidar. Afinal, não é a tecnologia a responsável pelo distanciamento da medicina de sua natureza humana. Mas, se bem utilizada, pode ser ela o instrumento para reaproximar médicos e pacientes.
Não temo — e acredito que nenhum médico deva temer — a substituição pela tecnologia. Se um dia ela demonstrar maior capacidade de cuidar de pessoas do que eu, aplaudirei. Porque, antes de ser médico, sou humano. E, como humano, quero o melhor para a minha família e para a humanidade.
Pois a medicina não deve jamais perder o seu propósito de cuidar. E, se a Inteligência Artificial contribui para aprimorar essa essência, então ela deve, sim, ser compreendida como uma aliada à prática clínica.
Victor Sorrentino é médico responsável pela VS Clinic. Escritor, professor e palestrante