Em todo o mundo, é cada vez mais frequente a ocorrência do acidente vascular cerebral (AVC) entre jovens, seja por fatores genéticos, sedentarismo, consumo de má alimentação ou álcool em excesso. Uma pesquisa publicada no Journal of American Heart Association, dos EUA, mostrou que, entre os anos de 2000 e 2010, houve um aumento de 44% nos casos de AVC entre pessoas com 25 a 44 anos de idade.
O mais chocante é que, algumas vezes, quanto mais jovem o paciente, mais sequelas ele apresentará, sendo mais graves as lesões decorrentes.
Pode-se dizer que se trata de uma intercorrência médica das que mais afetam a vida posterior, em praticamente todas as atividades. Quando falamos de um paciente idoso que sofre um AVC, é muito comum que a família reaja com a contratação de um cuidador ou outra pessoa de apoio, devido à fragilidade associada à idade e perspectivas de piora na execução de movimentos com o passar dos anos.
Já do jovem se espera que continue ativo, e normalmente é essa a realidade – ele tem que ir à luta. Com isso, é comum que a reabilitação do jovem que se recupera de um AVC “precise” ser mais efetiva e, inclusive, mais rápida. Outro fator é que a pessoa com menos de 60 anos tende a se expor mais após a intercorrência: voltar a dirigir, ir a restaurantes onde deseja ter autonomia para se alimentar, entre muitas outras atividades.
Com o idoso, pode-se dizer que temos mais paciência e compreensão, visto que os ganhos de reabilitação costumam ser mais lentos ou mesmo menores, e, infelizmente, visto muitas vezes como “não tão necessários”.
Como terapeuta ocupacional, atendo casos de AVC entre jovens na casa dos 30, 40 anos, e me sinto na obrigação de esclarecer alguns pontos. Em primeiro lugar, a terapia ocupacional não visa o “produto final”, um resultado ideal, e sim os processos de atividade que o paciente retoma. Normalmente, usa-se na terapia o exercício repetitivo progressivo – ele é sequencial, com atividades repetidas várias vezes para que a pessoa possa interiorizar o movimento e retomá-lo progressivamente: são as ações de pegar, soltar, abrir, fechar, nas posições de prono e supino, entre outras.
No caso de um paciente idoso, as metas costumam ser o melhor autocuidado, a autonomia na alimentação e no vestuário, entre outras atividades do cotidiano. Já para o jovem, é requerido que esses exercícios sejam mais intencionais, de forma a obter resultados mais rápidos do que para o idoso. E, paulatinamente, são introduzidas atividades ligadas à vida profissional, ainda que ele não volte efetivamente à carreira anterior ao AVC.
E o que pretendo com essa reflexão? Deixar o meu alerta, visto que todos têm direito a uma recuperação digna, seja qual for sua idade. E a terapia ocupacional está disponível para a retomada das atividades possíveis na melhor qualidade.
Syomara Cristina Szmidziuk atua há 30 anos como terapeuta ocupacional, tem experiência no tratamento e reabilitação dos membros superiores em pacientes neuromotores. Faz atendimentos em consultório particular e em domicílio, onde desenvolve trabalho com os métodos RTA e terapia da mão. Possui treinamento em contenção induzida, eletroestimulação, Bobath (AVC) e Baby Course (Bobath avançado), entre outros