Artigo – Medicina com boas evidências e bons parceiros no ensino

Em busca do maior entrosamento entre a pesquisa científica e a prática clínica, o médico e professor David Sackett iniciou o movimento conhecido como Medicina Baseada em Evidências (MBE), no Canadá, em 1990. Em conjunto com sir Muir Gray, fundaram na Inglaterra o primeiro Centro de Medicina Baseada em Evidências, na Universidade de Oxford: o Centre for Evidence-Based Medicine (CEBM).

David Sackett acreditava que para que os médicos pudessem oferecer o melhor cuidado de saúde para seus pacientes, eles precisavam receber treinamento apropriado para a prática clínica baseada em evidências. O objetivo inicial do CEBM era ensinar e dar suporte à prática clínica baseada em evidências no Reino Unido e Europa e desenvolver um programa de pós-graduação com foco em ensaios clínicos e revisões sistemáticas, na Universidade de Oxford.

Vinte e cinco anos depois, o CEBM continua a missão. Um de seus cursos, o Teaching Evidence-Based Medicine, já treinou mais de 1500 alunos no mundo, cada um retornando às suas instituições inspirados por novos métodos inovadores de ensinar MBE. Alguns exemplos do impacto do CEBM fora de Oxford são o desenvolvimento do primeiro Centro de Medicina Baseada em Evidências na Lituânia e o suporte de treinamento para professores do Irish National Cancer Control Programme and Clinical Effectiveness Unit. Em 2019, surgiu a iniciativa de uma parceria para o desenvolvimento de um centro de excelência no ensino e prática de MBE no Brasil.

Nosso país é o quinto maior em extensão territorial, com uma população de cerca de 210 milhões de pessoas. Suas mais de 300 escolas médicas formam em média 30 mil profissionais a cada ano. Dessas, menos de 20% oferecem treinamento formal em MBE em seus currículos. A ausência de integração formal de MBE não é um desafio particular do Brasil. Dados dos EUA e do Reino Unido, mostram que apenas 60% dos currículos universitários incluem treinamento formal em MBE. Apesar do reconhecimento da importância da formação em MBE e sua influência na formação médica em todo mundo, ainda existem desafios a serem superados para a implementação de treinamento apropriado em MBE no Brasil.

Preocupado com esses problemas, enquanto cursava o programa de pós-graduação em Evidence-Based Healthcare com o CEBM em Oxford, e em conjunto com outro aluno brasileiro residente nos EUA, Enderson Miranda, e pesquisadores com experiência em MBE no Brasil, como a professora Rachel Riera, unimos forças com o professor David Nunan, pesquisador sênior do CEBM. Tudo para criar uma parceria internacional entre o CEBM de Oxford e o Departamento de Medicina Baseada em Evidências da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Fase).

Essa parceria foi denominada Oxford-Brazil EBM Alliance e tem como objetivos promover o ensino, aprendizado, prática e avaliação de Saúde Baseada em Evidências (SBE) no Brasil; conduzir pesquisa centrada no paciente e metodologicamente robusta, para promover novos conhecimentos para a prática clínica baseada em evidências; e promover colaborações nacionais e internacionais com pesquisadores, cientistas e educadores para o desenvolvimento e promoção de ensino e pesquisa de alta qualidade em SBE.

A FMP/Fase é a instituição pioneira no Brasil a estabelecer a parceria com a Universidade de Oxford, recentemente reconhecida como melhor universidade do mundo pelo quarto ano consecutivo, de acordo com a revista Times Higher Education, no “World University Rankings”. A primeira atividade da Alliance foi um workshop de três dias para docentes, na FMP/Fase, em junho de 2019. As inscrições se encerraram em tempo recorde e já há uma lista de espera para os próximos eventos. Professores e tutores de Oxford e do Brasil conduziram as aulas e atuaram como facilitadores das atividades práticas. Na ocasião, David Nunan aceitou o convite para ser o primeiro professor visitante da história da FMP, e tem a intenção de vir ao país para ministrar cursos e palestras ao menos uma vez a cada dois anos.

Novas atividades deverão surgir, demandadas também por outras instituições, já que o projeto foi desenvolvido com o conceito de criar um centro de excelência no ensino e pesquisa em MBE não apenas servindo como referência no Brasil, mas também na América do Sul. Sobram desafios e obstáculos a serem superados, assim como vontade de colaborar para a melhoria da nossa saúde.

Luis Eduardo Fontes é professor coordenador do Departamento de Medicina Baseada em Evidências, Medicina Intensiva, Urgência e Emergência da Faculdade de Medicina de Petrópolis (RJ), coordenador médico da UTI Adulto do Hospital de Ensino Alcides Carneiro, em Petrópolis, diretor do Centro Afiliado Cochrane Brasil Rio de Janeiro e cofundador da Oxford-Brazil EBM Alliance

Redação

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