Toda a vez em que se inicia um novo atendimento em saúde, o sucesso terapêutico depende em boa parte da capacidade de conquistar a confiança do paciente. Atenção, respeito, sensibilidade, humanismo são base determinantes para o bom resultado de todos e quaisquer tratamentos.
A tecnologia pode apoiar (e apoia) certos diagnósticos de forma relevante. No entanto, é instrumento de retaguarda, jamais ocupará o papel da boa anamnese na relação entre médico e paciente.
O fator humano é tudo em Medicina. Não existe Medicina sem médico, embora alguns preferissem que existisse. Soluções avançadíssimas como a Inteligência Artificial, Cirurgia Robótica, entre outras, realmente são maravilhosas e grande contribuição podem ar em situações pontuais. Aliás, contribuições inestimáveis.
Elas devem ser encaradas apenas como o que são: mais uma ferramenta do trabalho médico, como o estetoscópio ou o esfigmomanômetro, também conhecido como medidor de pressão arterial.
Pode parecer simplista a comparação; bem provável que seja mesmo. Mas não quando guardadas as devidas proporções e analisado o quão foram essenciais à época de suas aparições.
Peguemos o estetoscópio e sua história, para ter ideia de sua relevância, do que representou como salto da Ciência. Ele surgiu em 1816. O médico francês René Laennec inventou a primeira versão utilizando um longo tubo de papel laminado para canalizar o som do tórax do paciente ao ouvido.
Adotou o nome “estetoscópio” a partir de duas palavras gregas: stethos (peito) e skopein (para visualizar ou ver). Também batizou o método de usá-lo de “auscultação”; vêm de “auscultare” (ouvir).
George P. Camman, de Nova York, desenvolveu o primeiro tipo com um fone de ouvido para cada orelha, por volta de 1840. Este projeto foi revolucionário e permaneceu como top de linha por mais de mais de 100 anos. Hoje, percorridos dois séculos, os estetoscópios seguem como instrumentos de diagnóstico de milhões de profissionais médicos, em todo o mundo.
Registre-se que há todo um conhecimento na arte de praticar a auscultação que o médico adquire com estudo e dedicação para ter apoio do estetoscópio para diagnosticar e a monitorar seus pacientes.
Agora, volto ao ponto de partida de minha coluna dessa semana para firmar minha convicção publicamente: é o médico a essência da Medicina. Demais, tudo que está aí em termos tecnológicos cabe a ele utilizar com parcimônia e sabedoria.
Desde a Inteligência Artificial passando pela cirurgia robótica, estetoscópio, medidor de pressão e tudo mais que pudermos acrescentar à lista de descobertas notáveis e indispensáveis.
Nada é mais valioso do que a boa anamnese na relação com o paciente, repito. Assim, cabe ao médico proporcionar ambiente agradável e favorável para receber o paciente e com ele manter uma interação frutífera.
Uma consulta bem realizada, com tempo, atenção e humanismo, é o segredo do cuidado à saúde e à vida.
Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM)