Artigo – O Brasil correndo atrás do rabo

Lamentavelmente o Brasil para um cachorro correndo atrás do próprio rabo quando o assunto são as políticas de saúde. Basta olharmos ao longo da história para constatar que, ao longo de décadas e mais décadas, a mídia, os médicos, os profissionais de saúde e os pacientes estão sempre debatendo os mesmos problemas, sem, contudo, vencê-los nunca.

Há ao menos cinquenta anos fala-se da abertura indiscriminada de escolas médicas sem infraestrutura adequada para uma boa formação. Pois a situação só vem piorando. Hoje, já temos 331, com 34 mil vagas no primeiro ano. A maior parte delas sem hospital-escola para treinamento, sem preceptores, com corpo docente questionável e grade curricular inconsistente.

Assim, a próxima geração de brasileiros não terá em seus médicos um porto seguro. Grande contingente dos profissionais que está tomando a linha de frente do atendimento representa um perigo real e imediato a quem apresenta algum distúrbio de saúde.
Logicamente, quanto maior a vulnerabilidade social, maior o risco. O paciente que só tem como opção a rede pública cada vez mais terá menos acesso e uma condição precária de atendimento.

A equação é simples. Médicos com formação insuficiente tendem a solicitar mais exames, mesmo porque não possuem qualquer possibilidade de acertar o menor diagnóstico sem apoio. Dessa forma, o sistema de saúde, já à mingua de recursos, ficará com menos e menos investimentos com o passar do tempo. Por consequência, o que está ruim agora será bem pior em futuro próximo.

O Brasil também corre atrás do rabo no campo da interiorização do atendimento e da assistência médica. Faz tempo, dezenas de anos, o dinheiro público jorra para tudo quando é lado, até para Cuba, sem que uma boa saúde chegue aos povos das regiões distantes e das periferias.

Agora mesmo, parece que iremos bater cabeça outra vez. Com a saída dos cubanos do Mais Médicos, busca-se o arremedo de tapar as vagas com profissionais do Brasil, em especial recém-formados.

Não dará certo. Um médico, seja de onde for, dificilmente se fixará em uma localidade sem internet, sem infraestrutura para o atendimento, sem uma boa escola para seus filhos, sem uma boa condição para sua esposa e família. Há de se culpar o médico? Claro que não. A responsabilidade é do Estado que, em pleno século XXI, ainda mantém algumas áreas do País em pobreza medieval.

O que precisamos é de um projeto de gente que ame gente, de médicos que se disponham a doar tempo de suas vidas para o bem do próximo. A Sociedade Brasileira de Clínica Médica e o Exército do Brasil têm uma inciativa com essas características. São caravanas de residentes e professores de medicina para oferecer tratamento de qualidade e acesso regular em comunidades carentes.

Essas caravanas se rodiziam de forma que uma chega antes um pouco da saída da outra, a tempo de conhecer a população a qual assumirá a assistência. Uma forma de manter atendimento ininterrupto, nas condições concretas do momento.

O caminho para avançar é dar um passo por vez e, em primeiro lugar, não tapar o sol com a peneira. O Brasil, se assim o fizermos, avançará.

 

 

Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM)

Redação

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