O Brasil virou o país dos discursos vazios. Quanto mais sem conteúdo são os oradores, mais parece que as palavras convencem o coletivo. Assim, seguimos decaindo nos mais diversos aspectos, em particular no campo econômico e social.
A saúde é uma das áreas que mais sofre com a falta de bom senso. Há tempos, alerto, neste espaço do Diário do Grande ABC, que o Sistema Único de Saúde (SUS) corre risco iminente. Isso porque os recursos estão congelados por 20 anos e não se vê, nem a curto nem a médio prazo, uma luz no fim do túnel.
Se as filas estão enormes, tendem a piorar, caso os agentes públicos não assumam suas responsabilidades. Se há falta de medicamentos e insumos, isso pode se complicar, caso os gestores em todos os níveis não se mexam.
A vítima principal, só para não fugir ao tradicional script, é o cidadão, que arca com uma carga tributária gigantesca, mas não recebe do Estado serviços e atenção de qualidade.
É necessário deixar transparente que mudar tal panorama não depende somente de governos, gestores, agentes públicos e políticos. É imprescindível que todos assumam seus papéis: a comunidade, médicos, hospitais, laboratórios, pacientes, enfim todos os atores da saúde.
Hoje, apenas com causas na Justiça, a rede de assistência é impactada em bilhões. É uma fortuna que deixam de ser aplicada em benefício do coletivo.
Na chamada judicialização, o aumento das despesas da União, no pagamento de ações, normalmente para acesso a drogas de alto custo, foi de 1.010% de 2.010 a 2.017. Em 2017, aliás, o Sistema Único de Saúde (SUS) gastou R$ 644,4 milhões apenas com uma marca de medicamento, para atender a 400 pacientes, via judicial.
O setor privado também é abalado por essa roda-viva. As despesas judiciais pagas pelas operadoras de planos de saúde em 2.013 eram de R$ 600 milhões; já em 2.018 chegaram a R$ 2 bilhões, uma variação de 233%.
Obviamente os recursos são finitos, ainda mais em um país como o nosso que ainda enfrenta problemas dos mais básicos, como a falta de saneamento básico, por exemplo. Quando se retira milhões do orçamento para atender a um pequeno grupo, claro que acaba faltando para investir nas necessidades de uma parcela enorme de pessoas. Numa situação dessas, outra vez, sobra para os mais vulneráveis economicamente quitarem a conta.
Todos têm direito ao melhor em saúde, é verdade. Mas, digo, outra vez, as verbas são finitas. Cabe, ao conjunto da sociedade, buscar a melhor maneira de responder adequadamente às demandas do maior número possível de brasileiros.
Portanto, que cada um assuma sua responsabilidade e lembre-se que uma nação de verdade é construída com consciência e maturidade.
Antonio Carlos Lopes é presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM)