Artigo – País teve redução de 40% no número de mamografias de rastreamento para diagnóstico do câncer de mama

Mais prevalente na população feminina, excetuando-se o câncer de pele não-melanoma, o câncer de mama é o tipo com maior mortalidade. No Brasil, são esperados cerca de 60 mil novos casos de câncer de mama a cada ano. Medidas que identifiquem sinais precoces da doença, representam a principal ferramenta para conter sua evolução, uma vez que formas de prevenção primária eficazes ainda não estão estabelecidas, por se tratar de doença cuja origem é multifatorial: genética, hormonal e relacionados a hábitos de vida.

Com a pandemia em curso, a partir daí, definiu-se uma política de restrição e isolamento da população, até então, como única medida conhecida capaz de conter a disseminação da doença. Com isso, a orientação foi a de que houvesse priorização no atendimento de urgências e emergências pelo setor de saúde, em detrimento do atendimento ambulatorial (consultas de rotina) e de exames de rotina.

Houve uma significativa redução na realização de exames de mamografia a partir de março de 2020, e que acabou se estendendo até o final do ano passado. Dados levantados pelo Sistema de Informática do SUS (DATASUS), responsável pelo controle desse exame realizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), demonstraram uma redução de cerca de 40% no número de exames realizados em pacientes assintomáticas (mamografias de rastreamento) em 2020 em relação ao ano de 2019, enquanto em pacientes sintomáticas, ou seja, com alguma queixa clínica relativa às mamas, a redução foi em torno de 20% nesse mesmo ano.

Esses dados oficiais publicados pelo DATASUS se referem apenas às mulheres que buscaram atendimento na rede pública. Porém, essa redução na realização de mamografias também ocorreu na rede privada. A queda na busca de exames de mamografia de rastreamento do câncer de mama pela população geral deve refletir no aumento de demanda de exames para os próximos anos, além de aumento na incidência da doença, refletindo o somatório dos casos previstos para este ano com aqueles que ficaram sem diagnóstico no período da pandemia.

O aumento na incidência se dá, pois o câncer de mama é uma doença evolutiva. A falta de diagnóstico e de tratamento precoces reflete em menores chances de cura e em tratamento mais complexo e agressivo. E aquele grupo de mulheres que apresentou sintomas suspeitos de câncer mamário durante a pandemia, e que tiveram seu atendimento e diagnóstico atrasados, provavelmente sofreram com o avanço da doença, que pode ter alterado seu estadiamento e, eventualmente, também sua expectativa de vida.

Porém, sabemos que a mamografia é o método para o rastreamento do câncer de mama, sendo utilizada em todo o mundo, responsável pela redução da mortalidade pela doença em até 30% onde é incorporada aos programas de rastreamento oficiais. Como na maioria das doenças oncológicas, também para o câncer de mama vale a definição de que “quanto menor a doença, mais restrita aquele órgão e menos difundida pelo restante do corpo, maiores as chances de cura”, ou seja, a detecção precoce em pacientes assintomáticas é o foco dos programas de rastreamento.

Campanhas de conscientização

A exemplo do Outubro Rosa, que tem contribuído de forma significativa para difundir informações verdadeiras acerca do câncer de mama, tem influenciado positivamente as mulheres na busca do exames de mamografia, reconhecendo ser esta a única medida de prevenção eficaz: detectar precocemente e instituir tratamento rápido.

Considerando-se o déficit que se criou no diagnóstico e no tratamento do câncer de mama no período da pandemia, medidas de incentivo à participação das mulheres no processo de controle do câncer de mama devem ser retomadas. A busca pelo exame de mamografia para a detecção precoce deve ser incentivada e, mais do que isso, medidas efetivas que identifiquem mulheres sintomáticas, potencialmente portadoras de câncer e que ficaram sem atendimento neste período devem ser priorizadas.

Se posso dar uma dica, olhe para a mulher que está do seu lado. Temos que incentivar a busca pelos exames de detecção, mas, antes disso, fortalecer os vínculos entre as mulheres, para que olhem para suas companheiras (tias, mães, irmãs que estão desassistidas) e insistam para que falem o que sentem, se percebem algo suspeito em suas mamas, algum nódulo palpável que passou despercebido e para que procurarem o atendimento médico o quanto antes.

Oriente, incentive, influencie positivamente. Muitas vezes uma simples pergunta, salva uma vida. Pense nisso.

 

 

Dra. Maria Helena Louveira é especialista em radiologia mamária, professora da Pós-Graduação na EBRAMED – Escola Brasileira de Medicina

Redação

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