Artigo – Podem acreditar: não existe tratamento precoce contra a Covid-19

Nos últimos anos as redes sociais têm sido palco de uma guerra de informações, que em alguns casos serve como pura desinformação. No início se tratava sobretudo de política, mas a partir do início da pandemia de Covid-19 se transformou em uma questão de saúde pública, que envolve a preservação da vida.

Por falta de conhecimento médico, má fé ou simples ingenuidade, muitas pessoas divulgaram ou compartilharam informações falsas a respeito das formas de contágio pelo Coronavírus e posicionaram-se contra o isolamento social e até mesmo contra o uso de máscaras, o que certamente colaborou para aumentar o número de casos e de mortes. Depois, como se tivéssemos voltado a um passado distante, surgiram vozes contra o efeito das vacinas, um dos maiores avanços já conquistados pela medicina, responsável por evitar um número incontável de óbitos.

Para completar a ofensiva da desinformação, espalhou-se uma campanha a favor de tratamentos precoces ineficazes, às vezes até prejudiciais. No momento em que o mundo supera os 2 milhões de mortes por Covid-19, das quais mais de 200 mil no Brasil, essa onda precisa ser interrompida. É preciso deixar claro que não há nenhuma evidência científica que comprova a eficácia de medicamentos como a cloroquina na prevenção da Covid.

Podem acreditar: a única maneira conhecida até agora de evitar o Coronavírus é o uso de máscara, a higienização constante das mãos e o distanciamento social. E o único tratamento farmacológico preventivo é a vacinação geral da população.

Não sou só eu, como pneumologista, quem digo isso. São os especialistas mais respeitados em todo o mundo, as associações médicas e as demais fontes verdadeiramente confiáveis. Em outubro, a Organização Mundial de Saúde divulgou o resultado do maior estudo já feito para testar os efeitos da cloroquina, da hidroxicloroquina, do coquetel antiviral remdesivir, lopinavir e ritonavir e do interferon. “Nenhuma das drogas estudadas reduziu a mortalidade em nenhum subgrupo de pacientes nem teve efeitos na iniciação da respiração artificial ou na duração da internação hospitalar”, concluiu o ensaio, que analisou a evolução de mais de 11 mil doentes em 400 hospitais de 32 países (e pode ser conferido na íntegra em www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.10.15.20209817v1).

No 17 de janeiro, ao aprovar o uso emergencial das vacinas Coronavac e Oxford/AstraZeneca, os diretores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aproveitaram a repercussão do anúncio para deixar clara a ineficácia de fármacos como a cloroquina. A diretora Meiruze Sousa Freitas, que é formada em farmácia com habilitação em análises clínicas pela Universidade Federal de Minas Gerais, afirmou sem meias palavras: “Até o momento não contamos com alternativa terapêutica aprovada e disponível para prevenir ou tratar a doença causada pelo novo Coronavírus”.

Antônio Barras Torres, diretor-presidente da Anvisa, que é médico e oficial da Marinha, tendo chegado ao posto de contra-almirante, comemorou o início da vacinação, mas ressalvou: “Entretanto, que esse modesto júbilo não seja motivo de relaxamento para as medidas de proteção individual (…) Mesmo vacinado, use máscara, mantenha o distanciamento social e higienize as mãos”.

Note-se que esses alertas partiram de diretores da Anvisa nomeados pelo atual presidente da República, portanto, sem relação com nenhum tipo de movimento dispostos a desacreditar o governo. São, simplesmente, uma demonstração de bom senso e da crença na ciência e na medicina.

Também em 17 de janeiro, no mesmo dia em que a Anvisa aprovou as duas primeiras vacinas para uso no Brasil, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), que reúne os especialistas em saúde respiratória do país, lançou um manifesto para ressaltar a ineficácia dos tratamentos precoces contra a Covid-19. Sob o impacto do colapso do sistema de saúde em Manaus e com base em inúmeros estudos, a SBPT se concentrou na avaliação dos fármacos cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanide, corticoides e anticoagulantes.

A conclusão da SBPT (veja a íntegra em sbpt.org.br/portal/wp-content/uploads/2021/01/Posicionamento-SBPT-tratamento-precoce-COVID19-17-01-2021-1.pdf) foi a mesma do estudo da OMS: “Alertamos que até o presente momento não existe tratamento farmacológico precoce da Covid-19 com eficácia e segurança comprovadas. Neste momento, toda a sociedade deve se voltar à prevenção da Covid-19 por meio das medidas recomendadas, que incluem usar máscaras, higienizar as mãos e manter distanciamento social enquanto aguarda o único tratamento farmacológico preventivo, representado por vacinas seguras e asseguradas a todos”.

Precisamos dar um basta ao negacionismo e acreditar na ciência. É obrigação de todos nós parar de disseminar e compartilhar informações falsas e entender que estamos vivendo uma crise sanitária sem precedentes, que está mudando o mundo. Não se pode brincar com vidas humanas.

Ronaldo Macedo é pneumologista formado pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, tendo participado como Observer Fellow no Serviço de Transplante Pulmonar no Toronto General Hospital, no Canadá. Trabalha há quase 10 anos no Hospital de Clínicas da Unicamp, onde é coordenador do Ambulatório de Doenças Pulmonares Difusas/Intersticiais (ambulatório de referência na Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia), e no Hospital Vera Cruz/Campinas. É também professor da disciplina de Emergências Respiratórias na pós-graduação de Medicina de Emergência do Instituto Terzius

Redação

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3 thoughts on “Artigo – Podem acreditar: não existe tratamento precoce contra a Covid-19

  1. Com todo respeito que tenho aos profissionais da área da saúde.tenho procurado o CISA de cruzeiro S.P. com maisDe 10sintomas após tudo contato próximo com um pessoa que textou positivo para covide19 ele me prescreveram ( invermectina 2comprimidos em cada dia, por 2dias ,; azitromicina 5comprimidos 1por dia ; vitamina C 500mg por dia durante 15dias e dipirona para dores; eu sou Eliana Bastos tenho 59anos de idade e ,foi feito o texte rápido no dia 01/03/2021 ,no quarto dia de medicação por os sintomas persistir e as dores aí respirar e fraqueza com falta de ar aumentarem que texto negativo ; porém retornei no ambulatório e no 14dias após os primeiros sintomas repetiram o texte rápido que foi feito no dia 10/03/2021e estou aguardando a ligação do ambulatório com a resposta e a infectologista me prescreveu um xarope Koide D par tomar 10ml de 12 em 12 hrs por 5dias estou tossindo menos e diminuiu as dores no peito e nas costas ao respirar e mandou eu continuar em isolamento por minha imunidade ser muito baixa e ter problemas cardíacos.(observação até hoje não fizeram um RX dos meu pulmões e E nem do meu esposo que tem 61anos de idade e completou 30dias desde o primeiro sintomas e textou positivo , até hoje só o coquetel para gripe forte antes de sai o resultado do exame ( texte rápido ) para covide19 e o isolamento dele Ac no dia 25/02/2021 . não prescreveram nem. Xarope par ele mesmo om o texte positivo para covide19 ..dele Tosse até dia de hoje está espirando á qualquer vento que leva mesmo estando dentro de casa em isolamento de quarentena ; só eu com 59amis de idade e ele com 61 anos que moramos em casa ,sem contato nenhum com ninguém após o dia 11/02/2021 data que iniciou os sintomas de gripe forte nele . aqui nem a medicação completa da receita de tratamento para os sintomas da covide19 ,ele não tinham na farmácia para me entregar agora no dia 01/03/2021 e mandarão eu comprar ,mas não tinha o dinheiro e depois que uma igreja através de uma pequena coleta voluntária me deu o dinheiro para comprar a medição .no CISA de cruzeiro S.P. não tinha . estou em isolamento total e aguardando o resultado do exame e qual o procedimento irão tomar ,mas pelo menos a medicação espero receber do CISA.

    1. Perfeito,. Saúde, Vida longa e Sussesso A você Eliana Bastos, é preciso confessar e anunciar.

  2. É mais uma opinião. O autor pode também pesquisar outras opiniões sobre a adoção ou não do tratamento precoce. Vários profissionais que pesquisaram sobre o tratamento precoce concluíram que há possibilidades de diminuição do risco de internação e consequentemente a necessidade de leitos de terapia intensiva.
    O medico, aquele que está próximo ao paciente, tem que estar constantemente aberto, principalmente agora, não somente preocupado em leituras de bulas de medicamentos ou proceder ou selecionar somente alguns editados e desprezar opiniões de quem realmente está vivenciando a situação.
    Alguns artigos cientificos publicados recentemente: Tratamento precoce para COVID-19 – Rev.Bras.Promoc.Saude, 13/06/2020; Tratamento precoce COVID-19 baseado em evidencia científica – Portal Regional da BVS 03/01/2020.
    Sociedade Americana de Doenças Infecciosas, em 11 de abril, recomendou cloroquina e hidroxicloroquina, isoladamente ou associadas a azitromicina, em pacientes internados sob protocolos clínicos de pesquisa.
    Veja tambem nota tecnica 01/-2/2021, mpf- prg disponivel no link http://www.mpf.mp.br/go/sala-de-imprensa/docs/not%202541-nota%20tecnica.pdf.
    Quanto ao link citado pelo autor da https://www.medrxiv.org/, a conclusão foi de que todos os medicamentos citados e que fizeram pouco ou nenhum efeito no COVID-19, refere-se a paciente ja em ventilação e durante internação hospitalar, e não tratamento precoce.
    E qunto ao comentario “Precisamos dar um basta ao negacionismo e acreditar na ciência. É obrigação de todos nós parar de disseminar e compartilhar informações falsas e entender que estamos vivendo uma crise sanitária sem precedentes, que está mudando o mundo. Não se pode brincar com vidas humanas” posso fazer minhas essa afirmativa.

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