Tanto para a saúde privada, como na pública, mas especialmente, nesta última, as ferramentas de gestão e a tecnologia são essenciais. Assim, antes de definir os rumos da gestão, é importante entender a situação atual. Hoje existem inúmeras ferramentas que podem ser empregadas com foco na saúde, para gerar uma análise prévia e depois uma predição de ações do que deve ser feito para a redução de economia de escala e de aumento da qualidade da saúde. A pergunta, que é inclusive bastante recorrente, é porque ainda não fazemos uso de todas essas possibilidades?
Em qualquer tempo, a gestão em saúde é uma tarefa complexa, pois, além de conciliar recursos humanos, financeiros e tecnológicos, os gestores devem garantir a segurança nos processos, bem como o cuidado adequado aos pacientes. Logo, em um cenário de pandemia, a tomada de decisão se torna ainda mais desafiadora, uma vez que exige atitudes assertivas e que demonstrem eficiência e eficácia em um curto espaço de tempo.
No entanto, algumas vezes parece que estamos indo no caminho oposto. Primeiro vamos lembrar o cenário. No Brasil, apenas 8% do Produto Interno Bruto (PIB) é destinado à saúde, sendo que 4,4% vêm de gastos privados e 3,8%, de gastos públicos. Isso é contraditório quando lembramos que vivemos em um país que fornece um sistema universal de saúde para seus cidadãos – aliás um dos poucos com essa abrangência no mundo.
Pois bem, dentro deste contexto todo é muito habitual ouvirmos que reduzir custos e desperdícios, maximizar recursos, fazer mais com menos é mais do que mandatório. E aí temos um ponto importante, pois, embora a telemedicina tenha crescido 316% no Brasil e, no ano passado, mais de 4 milhões de pessoas tenham deixado de ir aos hospitais e clínicas, ainda estão sendo discutidos detalhes da sua definitiva regulamentação no país. Contudo, todos esses pontos podem ser facilmente desbancados quando olhamos para os benefícios e também para os exemplos em outros países do mundo.
Então, por que não podemos aproveitar todo esse aparato tecnológico para fazer mais? A demanda pelo sistema de saúde pública existe e ele já provou, ao longo do tempo, que é capaz de entregar resultados. Concordo com os especialistas econômicos quando dizem que o foco para o SUS tem que ser em resultado, com abordagens múltiplas, para atenção básica, tecnologia, relação público-privado.
A utilização de plataformas para a realização de consultas médicas, por exemplo, deixou de ser novidade há algum tempo. Definida como o exercício da medicina por meio da tecnologia, para troca de informações para fins de assistência, pesquisa, prevenção e promoção de saúde, a telemedicina, na verdade, vai muito além disso, principalmente em um país como o Brasil, com dimensões continentais e tantas desigualdades.
Do ponto de vista social, a prática potencializa a democratização do acesso aos serviços de saúde, ainda mais quando a distância se torna fator crítico. Assim, indivíduos que antes não recebiam qualquer tipo de atendimento por questões geográficas, passam a ser assistidos por profissionais capazes de realizar diagnósticos, prevenir e tratar doenças à distância, bem como levar informações quanto aos cuidados com a saúde.
Outro aspecto a ser observado é que os atendimentos remotos ajudam a reduzir a pressão nos sistemas de saúde públicos, deixando clínicas e hospitais livres para atender quem realmente precisa de cuidado presencial. Além de atender a demanda de forma segura e com qualidade, otimizando o fluxo do atendimento e direcionando de forma rápida os encaminhamentos, é possível reduzir as filas de forma substancial.
Claro que já existem iniciativas espalhadas pelo Brasil, com parcerias públicas privadas. A Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo é apenas um dos exemplos. O órgão público implementou em toda a rede municipal (575 unidades de saúde), dentre UBS e Hospitais Municipais, uma plataforma de gestão de telemedicina, além de disponibilizar 30 carts que “levam” a solução ainda mais próxima ao paciente. Assim, são realizadas análises e tratativas dos casos compartilhando informações, as quais permitem priorizar ou mesmo resolver um caso de forma eficiente e eficaz. Entretanto, dá para fazer muito mais, levando em consideração que temos tecnologia, desenvolvida localmente totalmente SUS compliance, para tanto.
Assim, cabe aos gestores públicos de saúde, em todas as esferas, um olhar estratégico, direcionado para a possibilidade de ajudar a salvar vidas através de modernas formas de atendimento e inovação. Os recursos tecnológicos, se usados como aliados à saúde, permitem reduzir custos operacionais e ainda garantem um maior controle gerencial e gestão populacional, sendo portanto extremamente vantajosos.
As funcionalidades disponíveis ultrapassam o agendamento, confirmação, cancelamento e a realização de atendimentos via videochamada, chat ou telefone, mas tornam possível gerir equipes, grupos populacionais, estoques e farmácias; possibilitam o armazenamento de dados e a redução do tempo de espera do paciente; otimizam e ampliam retorno em processos de faturamento; centralizam informações com o prontuário eletrônico; possibilitam a prescrição de receitas com a segurança da certificação digital; entre outras funções.
A centralização de dados é fundamental, pois quanto mais informações estiverem disponíveis, melhor será a leitura da situação e a predição de ações que devem ser implementadas visando a redução da economia de escala e aumento da saúde. Isso nos mostra como a transformação digital é fundamental para a sobrevivência e crescimento dos negócios nesse setor.
Ainda é cedo para prevermos o futuro da telemedicina no Brasil, mas devemos reconhecer seu papel como aliada para um atendimento de qualidade e seguros, fazendo jus ao sistema de saúde pública que possuímos.
Marcelo Fanganiello é diretor de GetConnect, divisão de Telemedicina, Integração e Conectividade da Oxy System, que desenvolve plataformas gestão em saúde, integrando ferramentas tecnológicas de ponta e projetos de telemedicina para o mercado, priorizando a humanização