Artigo – Qualidade a serviço da segurança do paciente

Muito se tem falado sobre o aumento da expectativa de vida para os que nascem hoje. Certamente isso será possível por uma conjugação de diferentes fatores, entre eles, o desenvolvimento do conhecimento sobre as doenças e os meios para preveni-las e trata-las. Hoje, já se vive mais do que há décadas e, para que isso fosse alcançado, a medicina tem contribuído sobremaneira. Apesar de alguma resistência observada no meio médico, os exames complementares adquiriram uma precisão tal que, quando bem solicitados e interpretados, tornam-se ferramenta determinante para o cuidado à saúde. Isso é particularmente aplicado ao conceito de medicina personalizada.

Entretanto, a realização de exames laboratoriais, como em outros cenários, também ocorre num ambiente complexo, onde coexistem procedimentos, equipamentos, tecnologia e conhecimento humano. Informações laboratoriais erradas, ocasionadas por falhas no processo laboratorial e transmitidas a médicos e outros profissionais de saúde, podem afetar diretamente a qualidade e os resultados do cuidado, assim como a segurança do paciente.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou recentemente que mais de 138 milhões de pessoas são afetadas anualmente por erros médicos, e que 2,6 milhões morrem por esta causa. Por isso, a OMS instituiu o dia 17 de setembro de 2019 como o primeiro Dia Mundial da Segurança do Paciente. O objetivo é alertar sobre a diminuição ou eliminação de riscos durante o cuidado em saúde.

As organizações já enxergam a prevenção de eventos adversos como um investimento e comprovadamente menos onerosa quando comparada aos custos com danos ao paciente. Nos EUA, por exemplo, hospitais economizaram cerca de US$ 28 bilhões entre 2010 e 2015 apenas investindo em segurança do paciente.

Na atualidade uma enorme onda de inovações tem sido propostas para aplicação no cuidado à saúde. Entre outras, podemos constatar a oferta de exames realizados em farmácias. Tais exames, denominados de Testes Laboratoriais Remotos, mereceram a atenção da Anvisa, agência reguladora cuja missão é “proteger e promover a saúde da população por meio de intervenções que reduzam os riscos na produção e oferta de serviços de saúde”.

Como a literatura cientifica é farta em comprovar que a maioria de erros nesses casos ocorre na fase analítica, em consequência de falta de capacitação e treinamento de profissionais que realizam os exames, a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) aguarda com apreensão a publicação de normativas sobre essa prática, na expectativa que a Anvisa cumpra o seu papel e proteja usuários leigos, que não possuem conhecimento para avaliar o serviço que lhes é oferecido.

A importância da segurança do paciente sempre mereceu especial atenção da SBPC/ML que, há 20 anos atrás criou o Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC), justamente com o intuito de assegurar a melhor metodologia, padronização, instituir controles de qualidade e métodos capazes de prevenir a ocorrência de erros.

É necessário um olhar atento e cuidadoso a todos os processos que podem minimizar os riscos no cuidado à saúde. Vidas estão em jogo e não há espaço para erros que podem ser evitados.

Wilson Shcolnik é presidente da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) e da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (ABRAMED) e Relações Institucionais do Grupo Fleury

Redação

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