Recebo muitos pacientes no consultório após um acidente vascular cerebral, conhecido como derrame, ou AVC. E ele não está mais restrito aos idosos: muitos fatores da vida moderna, como o sedentarismo, ampliam as chances de um jovem sofrer com esse problema. Uma estatística do Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo, inclusive, coloca em 25% as chances de cada um de nós ter um AVC.
Quando ele ocorre, o atendimento emergencial deve ser o mais rápido possível. Já o tratamento para recuperação de possíveis sequelas, esse pode se estender por meses ou anos. E é nesse percurso que o terapeuta ocupacional está presente ao lado do paciente todas as semanas, como estímulo e orientador.
E como é feito o tratamento após um AVC? O que me incomoda nesse tipo de tratamento de longo prazo são os momentos de desânimo, quando a pessoa já não quer ir ao consultório ou não vê resultados. Nessa hora, procuro usar toda a empatia construída no relacionamento com o paciente. Desde o início do tratamento neurológico, lanço mão de recursos que a reabilitação neurocognitiva nos permite. Graças ao Método Perfetti, desenvolvido por um médico italiano nos anos 1970, temos à disposição inúmeros materiais que apoiam a recuperação.
São recursos que permitem à pessoa reeducar os movimentos, enxergar resultados e voltar a acreditar na melhora. Por exemplo, gosto de tratar do paciente enquanto ele está de olhos fechados e peço que aponte ou toque num objeto. Pergunto: “Quem mexeu, foi só o dedo? Ou o punho também? E o cotovelo? Será que o ombro teve participação?” Aos poucos, a pessoa percebe que o corpo é um todo, através do cognitivo, o que estimula mais a área lesionada e reeduca o cérebro. Quando existe espasticidade, alterações sensoriais ou movimentos inadequados, auxilio o paciente para que ele próprio alcance o controle de suas ações, por meio de melhorias na neuroplasticidade.
Estamos falando sobre reorganizar movimentos, reaprender ações tão simples antes do AVC. Sabemos que movimento requer treino, mas, primeiro, é preciso reconectar cérebro e corpo.
Fico feliz quando posso auxiliar o paciente, pois, com exercícios neurocognitivos, é possível usar corpo e cérebro para achar soluções de reabilitação. Os materiais podem ajudar, e muito, mas, sem empatia, não se vai a lugar nenhum.
Syomara Cristina Szmidziuk atua há 32 anos como terapeuta ocupacional, e tem experiência no tratamento e reabilitação dos membros superiores em pacientes neuromotores. Faz atendimentos em consultório particular e em domicílio para bebês, terapia infantil e juvenil, para adultos e terceira idade. Desenvolve trabalho com os métodos RTA e terapia da mão, e possui treinamento em contenção induzida, Perfetti (introdutório), Imagética Motora (básico), Bobath e Baby Course (Bobath avançado), entre outros