Cursos e especializações de medicina consomem muitos anos de estudo. Durante todo esse tempo, o aluno aprende sobre humanização no dia a dia, com os mais diversos exemplos de seus professores. Mas existe um aspecto desse tema que não se ensina em nenhuma faculdade, por maior e melhor que seja o curso. No quesito humanização, é fundamental que o médico adquira, em casa e desde muito jovem, valores como o respeito ao próximo e a empatia.
Na faculdade, aprendemos apenas a direcionar esses conceitos ao paciente. Durante a minha formação, a humanização foi um tema abordado desde o primeiro ano, não apenas nas aulas de bioética, mas também em cada oportunidade em que tivemos contato com pacientes.
A medicina, assim como muitas outras áreas, foi fortemente impactada pelo rápido avanço da tecnologia. Com o crescente acesso a informações, o conhecimento “puro e simples” perdeu espaço. Assim, é fundamental que o médico use sua empatia e sua capacidade humana de acolher, entender e ponderar. Se não for desse modo, perderemos para as máquinas. E o prejuízo não será apenas da classe médica. Diversos trabalhos indicam que quando a humanização é aliada à qualidade técnica do profissional, os resultados para os pacientes são sempre melhores.
Corremos o risco de ver o tratamento da saúde humana se transformar em uma atividade mecânica. Esse cenário é possível e perigoso. A cobrança sem critérios por performance e condutas e a aplicação de protocolos engessados levam a uma “padronização” que se assemelha ao trabalho em série ou em uma linha de produção. A humanização é justamente um movimento contrário a isso, que busca a individualização de cada paciente.
É comum ouvirmos que médicos que atendem na rede pública são caracterizados pela “desumanização”. Mas é importante frisar que em qualquer meio é possível se destacar. Alguns argumentam que as metas de produtividade (número de atendimentos, por exemplo) na rede pública impossibilitam um atendimento mais humanizado e, em certas ocasiões, é inegável que os médicos ficam realmente de mãos atadas. Além das metas, eles convivem com condições precárias de trabalho. Mas se você não concorda com o sistema, não deve se compactuar com ele. Não trabalhe nesses lugares.
Um médico que atende rápido e examina muitas vezes sem sequer olhar no rosto do paciente ainda pode ser tecnicamente excelente. Mas a medicina, como vimos nesse artigo, vai muito além da técnica e do conhecimento. Mais do que ouvir uma queixa ou procurar um tratamento para uma doença, o médico deve olhar sempre para seu paciente como um ser humano, com seus sentimentos e anseios.
Dra. Juliana Zuiani é neurocirurgiã, formada em Medicina pela Unicamp, onde também fez Residência Médica em Neurocirurgia. Possui especialização em Neurocirurgia Funcional na Universidade de Toronto – Canadá, e aperfeiçoamento na Cleveland Clinic – EUA; Especialização em microcirurgia no ICNE – SP com o Prof. Dr. Evandro de Oliveira; e Título de especialista em Neurocirurgia. É membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e da Sociedade Brasileira de Estereotaxia e Neurocirurgia Funcional; e Coordenadora da Divisão de Neurocirurgia Funcional do Hospital da PUC Campinas