Acabei de assistir a um documentário sobre os spitfires, aviões de caça britânicos que desempenharam um papel decisivo no combate contra os alemães. Alguns chegam a dizer que foi o melhor avião de combate já fabricado, Mas, na verdade, seu papel também foi importante no desenvolvimento da cirurgia da catarata.
A história moderna dos implantes intraoculares começou em 1949, com Harold Ridley, oftalmologista inglês, que se inspirou em um comentário feito por um estudante de medicina que lhe chamou a atenção por haver “esquecido” de substituir o cristalino opacificado por um “novo”, enquanto o observava suturar a incisão após a realização a extração de uma catarata.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Ridley teve a oportunidade de observar que alguns pilotos dos spitfires que eram bombardeados apresentavam fragmentos do material plástico das cabines dos aviões dentro dos olhos e que esse material (polimerilmetacrilato) não despertava nenhum tipo de reação por parte dos tecidos oculares.
Ocorreu a Ridley que o polimetilmetacrilato, que apresentava a vantagem de ser mais leve que o vidro, poderia ser utilizado para substituir o cristalino humano. Em 29 e novembro de 1949, no Hospital S. Thomas, em Londres, ele implantou sua primeira lente intraocular em uma paciente que havia sido operada de catarata dois meses antes.
Quando os primeiros resultados dessa técnica foram divulgados em 1951, no Congresso de Oftalmologia de Oxford, houve uma explosão de entusiasmo que levou grandes nomes da oftalmologia européia a seguirem o exemplo de Ridley.
Nas décadas seguintes, testemunhamos uma evolução vertiginosa no que se refere à qualidade, aos modelos e à qualidade visual das lentes intraoculares.
E pensar que tudo começou com um comentário feito por um estudante de medicina…
Dr. Almir Ghiaroni é médico oftalmologista