As causas de infertilidade podem variar de casal para casal, porém, muitas vezes e de forma equivocada, são associadas apenas ao sistema reprodutor feminino o que acaba postergando ou anulando as chances de uma gestação no futuro. A mulher, naturalmente, já procura o ginecologista por rotina preventiva, diferente do homem que procura o urologista somente quando percebe que algo não está bem. Por receio e preconceito, acaba evitando ir ao médico e isso acaba minando as chances de diagnóstico precoce.
Comprovado cientificamente, a varicocele, que é uma alteração nas veias que drenam o sangue dos testículos – causada por uma dilatação anormal ou problemas nas válvulas venosas -, tem impacto na fertilidade masculina. Estima-se que 15% a 20% da população adulta mundial têm varicocele. Já entre a população infértil, esse número sobe para 40%.
Esse problema leva a alterações nos parâmetros do sêmen, a quantidade pode vir alterada, assim como a motilidade e qualidade dos espermatozoides. Fatores relacionados à estresse oxidativo, causados tanto pelo aumento da temperatura testicular como pelo refluxo de metabolitos ruins, podem levar a fragmentação do DNA espermático, gerando dificuldade de fertilidade associado a um aumento do risco de abortamentos.
Muitas pessoas perguntam se a questão da hereditariedade pode estar associada, mas não é clara essa possível relação. Sabemos que fatores genéticos podem levar a desordens dos vasos sanguíneos como antecedente familiar de varizes das pernas, por exemplo, porém cada caso é um caso, cada paciente é um paciente e deve ser avaliado de forma individual. A varicocele pode acometer qualquer homem e, em geral, acompanha o indivíduo desde o nascimento. Em alguns casos, o problema pode aparecer com a idade, porém, deve-se ter atenção maior para um possível problema adquirido dentro do abdome, nos próprios testículos ou mesmo com o aparecimento de tumores.
Tratamentos e o papel da mãe e da esposa no incentivo ao cuidado com a saúde
Uma vez diagnosticado, se não houver nenhuma alteração no início, deve-se seguir o acompanhamento anual, pois, por se tratar de um problema crônico e progressivo, pode piorar com o passar do tempo. O tratamento com menores efeitos adversos e melhores resultados é a microcirurgia. Em alguns casos, podemos utilizar a embolização vascular, mas com piores resultados. Sabemos que, além da infertilidade, alguns estudos têm relacionado menores níveis de testosterona em homens com varicocele. Em alguns casos, podemos recomendar tratamento também em dor crônica sem melhora ou atrofia testicular.
O fato é que, a maioria dos homens descobre a varicocele somente na investigação da infertilidade, ou seja, quando o casal está enfrentando dificuldades para engravidar, geralmente há mais de um ano de tentativas sem sucesso. Alguns podem perceber, ainda na adolescência, a alteração do volume do testículo ou sinais de aumento da região do cordão testicular com aparência de “saco de minhocas”. Em outras situações, podem se queixar de dor ou sensação de peso, mas não é uma reclamação relatada por todos os pacientes.
O recado positivo que posso deixar é que, desde a infância, a mãe, que tem um papel importante na educação sexual, de autocuidado e incentivo à ida ao pediatra e, posteriormente, ao urologista, deve levar o menino para investigar alterações precocemente. As esposas devem incentivar seus maridos também nessa prevenção, principalmente os que pretendem ter filhos. A máxima em saúde continua valendo: quanto mais cedo for diagnosticado o problema, maior é a chance de correção, tratamento e desfecho favorável.
Dr. Leonardo Seligra Lopes é urologista e andrologista, Diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Urologia Secção SP