Bolhas de proteção reduzem infecções na capital, mas podem estourar

Apesar do recente relaxamento do isolamento social em várias partes do Estado de São Paulo, incluindo a capital, o número de novas infecções não voltou a subir na cidade e a ocupação de leitos hospitalares apresentou ligeira queda. O motivo para a relativa melhora do cenário não é a aproximação da chamada “imunidade de rebanho”, já que menos de 14% da população foi exposta ao vírus, mas o surgimento de “bolhas de proteção”, afirmam pesquisadores do grupo interdisciplinar Ação Covid-19, no estudo “Efeitos da redução do distanciamento social na Cidade de São Paulo”.

Essas bolhas se formam quando partes da população são expostas ao vírus, mas não convivem intensamente com grupos que não sofreram essa exposição. A baixa comunicação mantém os infectados em contato, na maior parte do tempo, com pessoas já imunes ou também infectadas. Isto reduz a velocidade com que a doença se espalha no território. “Esse é um equilíbrio instável, porque a porcentagem de pessoas suscetíveis ainda é muito alta”, afirma a pesquisadora Patricia Magalhães, da Universidade de Bristol, na Inglaterra.

Os pesquisadores calcularam também o efeito da reintrodução de indivíduos doentes no sistema, algo que aconteceria com um relaxamento maior do isolamento e o consequente aumento da circulação de pessoas, inclusive vindas de outras cidades. O resultado é um retorno da aceleração das infecções para níveis parecidos com os de maio. “É difícil prever e, com isso, evitar novas ondas de infecção em São Paulo se não houver uma política massiva de testes, como a que foi feita em outros países”, afirma José Paulo Guedes Pinto, da Universidade Federal do ABC. “Essa seria uma condição para reabrir com segurança, mas não temos nada parecido”, completa.

Em simulação, o grupo Ação Covid-19 explora um cenário alternativo, em que o governador João Dória teria cumprido a ameaça de decretar um lockdown em São Paulo em 20 de maio. Se esse lockdown durasse 20 dias, dizem os estudiosos, teriam sido salvas até 3778 vidas nesse período, um número 46% menor do que o verificado. As infecções seriam 14% menores.

O grupo criou um modelo e um índice para avaliar, caso a caso, a exposição de cidades e bairros do país, bem como o nível de confinamento necessário para conter a infecção. O Índice de Proteção à Covid-19 (IVC19) calcula a exposição de um logradouro segundo sua infraestrutura urbana. Já o modelo MD Corona (Modelo de Dispersão Comunitária Coronavírus) incorpora esse índice e a densidade demográfica, explorando cenários de contenção do vírus. Em abril e maio, foram publicados estudos comparativos para as cidades do Rio de Janeiro e Fortaleza (CE). Em seu website, os pesquisadores disponibilizam o simulador para que as pessoas descubram o índice de proteção de seu próprio bairro e acompanhem a evolução da pandemia de acordo com diferentes níveis de isolamento. Além disso, é possível observar os dados de contágio e letalidade do vírus divididos por nível de IDH ou pelo IPC.

O projeto Ação Covid-19 tem o apoio da UFABC e da Fundação Tide Setúbal, tendo sido premiado em abril no concurso Desafios Covid-19, da Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Redação

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