Brasil está 53% abaixo da taxa de cobertura de mamografia recomendada pela OMS

Dados apontam que no ano passado o Brasil registrou a menor taxa de cobertura mamográfica para mulheres entre 50 e 69 anos, atingindo a marca de 17% de alcance, ainda menor que em 2019, quando o percentual era de 23%. Esse e outros indicadores preocupantes foram levantados pelo Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no Sistema Único de Saúde, que avaliou procedimentos de detecção e tratamento da doença entre 2015 e 2021. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que 70% da população feminina a partir dos 40 anos realize o exame anualmente. No Brasil, a faixa etária rastreada está restrita ao grupo entre 50 e 69 anos.

Idealizado pelo Instituto Avon – organização da sociedade civil sem fins lucrativos que atua na defesa de direitos fundamentais das mulheres – e pelo Observatório de Oncologia, o estudo analisou dados de rastreamento mamográfico – taxa que mede a capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS) em atender a população alvo de exames de rastreamento de câncer de mama – índices de diagnósticos e acesso aos tratamentos no Brasil, com base no DATASUS, com o objetivo de colaborar com políticas públicas de saúde que visem a descoberta precoce, acesso rápido às terapêuticas e a tomada de decisões baseadas em evidências. Entre 2015 e 2021, mais de 437 mil mulheres realizaram procedimentos quimioterápicos no país.

A pior taxa de cobertura mamográfica pertence ao Distrito Federal, chegando a apenas 4% no período analisado. Seguido pelos estados brasileiros do Tocantins, Acre e Roraima com só 6%.

“Ao observarmos dados tão alarmantes que revelam a deficiência de políticas públicas para a saúde das mamas durante a Covid-19, podemos prever que mais mulheres chegarão ao Sistema Único de Saúde com diagnósticos avançados, menores chances de cura e de qualidade de vida. Os impactos desta pandemia entre 2020 e 2021 aliados à falta de priorização em investimentos na saúde feminina se traduzem em números que vão prejudicar diretamente a saúde das brasileiras pelos próximos anos”, afirma Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon. “O câncer de mama é a principal causa de morte por câncer entre as mulheres no país e quando descoberto em estágio inicial tem 95% de chances de cura”, completa.

Além da taxa de cobertura, os dados de produção de exames apresentaram queda ao serem comparados com o período anterior. Em 2020, a baixa foi de 40% na realização de mamografias e, em 2021, mesmo com a vacina e a retomada de diversas atividades, a redução ainda representou 18% na média nacional.

Em 2020, a região com maior redução de exames foi a Centro-Oeste (50%) e, em 2021, foi a Região Sul (23%). A redução na cobertura e produção de mamografias, principal exame de rastreamento e diagnóstico de câncer de mama, faz com que, consequentemente, a população feminina chegue ao diagnóstico tardiamente.

“Conhecer o cenário local é fundamental para direcionamento de ações. O Panorama tem esse papel e é um grande aliado do gestor de saúde, tanto da esfera municipal quanto estadual para agir de maneira mais eficaz. O câncer de mama já tinha desafios relacionados ao diagnóstico e acesso ao tratamento e que foram potencializados com a pandemia de Covid-19. Divulgar essas informações alarmantes tanto nacionalmente como regionalmente é de fundamental importância”, analisa Nina Melo, coordenadora do Observatório de Oncologia.

Diagnóstico e tratamento

Adicionalmente, a pesquisa apontou que entre 2015 e 2021 os diagnósticos avançados da doença no Brasil representaram 42% dos casos, em 2020 especificamente chegamos a 43% dos casos avançados que receberam os procedimentos de tratamento no ano e em 2021 chegamos a 45% do total de casos de mulheres que receberam os procedimentos de tratamento nos estágios III e IV. O volume é alto e toma proporções maiores na análise dos estados, como por exemplo, Acre, Pará e Ceará contabilizam mais de 55% dos tratamentos em estágios avançados da doença no período.

Entre as mulheres que fizeram quimioterapia em 2021 para câncer de mama, 45% delas receberam o diagnóstico em estágio avançado, representando 157 mil casos em estadiamento III e IV. Mais de 28 mil brasileiras fizeram radioterapia para o câncer de mama nas mesmas fases da doença.

Mais de 60% de todas as mulheres diagnosticadas no país iniciaram as terapêuticas após o prazo que determina a Lei 12.732/12, que garante às pacientes o início do primeiro tratamento em até 60 dias a partir da confirmação do câncer. O tempo médio no país em 2020 foi de 174 dias entre a confirmação do diagnóstico e o início do primeiro tratamento. As pessoas esperaram 114 dias a mais do que o previsto na lei para iniciar seus tratamentos.

Na análise de perfil étnico racial, a principal constatação é de que mulheres negras correspondem a 47% dos diagnósticos avançados, enquanto apenas 24% dos exames de imagem das mamas foram realizados neste público. Os resultados para mulheres brancas foram de 37% das mamografias realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o resultado de diagnósticos avançados também apresenta melhores números nesta população – 39%. Portanto, ainda percebemos importantes diferenças na atenção ao câncer de mama quando refletimos sobre as diferenças entre mulheres brancas e negras.

O levantamento Panorama da Atenção ao Câncer de Mama no Sistema Único de Saúde pode ser acessado na íntegra aqui.

NOTA METODOLÓGICA: O estudo foi realizado a partir dos dados publicados no DATASUS e algumas bases apresentam números atualizados até 2020 enquanto outras já trazem informações até 2021.


Cobertura de mulheres que fazem mamografia está muito abaixo do recomendado no Brasil

Realização de exames para rastreamento é indicada pelo menos uma vez a cada dois anos para mulheres idades entre 50 e 69 anos no SUS, mas recomendação das sociedades médicas é para realização anual a partir dos 40 anos de idade.

A celebração do “Outubro Rosa” desempenha um papel fundamental no reforço da importância do diagnóstico precoce do câncer de mama, que pode ser feito através das mamografias de rastreio — quando paciente realiza o exame sem apresentar sintomas – e investigação de algum sinal ou sintoma da doença em pacientes abaixo de 40 anos, de acordo com as recomendações da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Para o Sistema Único de Saúde (SUS), a recomendação de realização dos exames de rastreio é para mulheres com idades entre 50 a 69 anos sem sinais e sintomas de câncer de mama. “A diferença de idade preconizada para os exames de rastreio entre o Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Mastologia é um fator que deixa descoberta parte da população. As mulheres com idades entre 40-49 anos são responsáveis por cerca de 15-20% dos casos de câncer de mama”, explica Dra. Marina Sahade, do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês.

Alerta muito importante, principalmente por que se estima uma média de 66 mil novos casos no Brasil por ano em 2022, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), sendo que 60% desses casos serão diagnosticados em estágio avançado, aponta a SBM. “Câncer de mama é a doença que mais mata mulheres no país, com taxas mais altas no Sul e Sudeste. A rapidez do diagnóstico possibilita diferentes frentes de tratamento, além de aumentar as chances de cura”, diz Dra. Marina Sahade.

Mesmo com a idade inicial para início das mamografias de rastreio aquém daquela indicada pelas sociedades médicas, menos de 10% das mulheres que se tratam no SUS estão sendo cobertas pelas mamografias. Seguem os dados: o governo preconiza a realização deste exame para mulheres de 50 a 69 anos sem sinais e sintomas de câncer de mama. Em 2021, de acordo com Inca, foram realizadas em todo o Brasil 3.145.930 mamografias de rastreamento. Considerando os dados do IBGE para 2021, as mulheres com idades entre 50 e 69 anos representaram 16.3% da população. Considerando uma população geral de 212,7 milhões de brasileiros em 2021, calcula-se, portanto, que apenas 9% das mulheres realizaram a mamografia preventiva para câncer de mama no Brasil ano passado.

A cobertura de mamografias no Brasil ainda está muito abaixo dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Segundo levantamento da SBM, em 2021, a cobertura média foi de 20%. O número de mulheres que realizaram o exame pelo SUS em 2021 foi de 1,6 milhão, representando 15% a menos que o número registrado no período pré-pandemia. Em 2020, primeiro ano da pandemia, foi registrada uma queda de 40%.

Segundo a SBM, um dos motivos para a baixa adesão à mamografia pode ser a má distribuição da cobertura de exames no país. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), a incidência do câncer de mama na região Sudeste é o dobro da identificada no Nordeste, por exemplo, com 36 mil casos contra 13 mil.

Segundo o Ministério da Saúde, existem cerca de 4,2 mil mamógrafos disponíveis para uso no SUS, um número considerado suficiente para as dimensões do país. A SBM, porém, chama a atenção para a má distribuição desses equipamentos, já que a grande maioria está nas grandes cidades, deixando áreas mais afastadas descobertas. “Há hábitos que podem ser adotados como, por exemplo, idas ao médico e exames periódicos, com foco no diagnóstico precoce. Este é o mês de discutirmos e ampliarmos esse conhecimento”, afirma Dra. Marina Sahade.

Redação

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