Brasil precisa de política pública eficaz para reduzir mortes provocadas por hipertensão

“O Dia Nacional de Prevenção à Hipertensão Arterial, 26 de abril, é de extrema importância para alertar a sociedade sobre a necessidade de prevenir e combater esse mal, o mais grave problema de saúde pública do Planeta”, salienta o médico. As estatísticas são muito preocupantes: 20% dos habitantes adultos são hipertensos. Considerando-se as pessoas acima de 65 anos, são 40%; e no grupo com mais de 80, 50%.

“A hipertensão é uma das principais causas das doenças cardiovasculares, como o infarto do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais, aneurismas e insuficiência cardíaca, responsáveis por um terço das mortes no Brasil. Além disso, leva à aterosclerose precoce, à degeneração dos vasos, à hipertrofia e a sobrecarga do coração”, ressalta o especialista, enfatizando: “Em cada 100 brasileiros, 30 morrerão de doença cardiovascular. Precisamos mudar o destino dessas pessoas! E essa transformação começa pela prevenção e combate à hipertensão e às demais causas dos males que afetam o coração, ou seja, o tabagismo, alimentação errada, obesidade, sedentarismo, colesterol e triglicérides elevados, excesso de consumo de sal e álcool, estresse e diabetes”.

Muitos desses fatores contribuem duplamente para a ocorrência de doenças cardiovasculares: de modo direto e também provocando a hipertensão que, dentre todas as causas, é a mais incisiva e recorrente, explica o presidente da SOCESP. “Por isso, a mais eficaz medida preventiva é mudar o estilo de vida, adotando-se dieta mais saudável e equilibrada, fazendo atividade física regular (sempre após orientação médica), abandonando o tabagismo, reduzindo a níveis saudáveis o consumo de álcool e sal, emagrecendo e procurando evitar o estresse. Também é muito importante medir periodicamente a pressão e, em caso de qualquer alteração, iniciar tratamento imediato para a solução do problema. Esse controle também ajuda a evitar consequências mais graves”.

Responsabilidade governamental

Dr. José Francisco Kerr pondera que, ante a gravidade do problema, que atinge 30 milhões de brasileiros, “as estratégias de prevenção, diagnóstico e tratamento da hipertensão têm, necessariamente, de ser emanadas das autoridades, por meio de políticas públicas eficazes no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), implicando responsabilidades compartilhadas da União, estados e municípios”.

Na avaliação do médico, o SUS contempla de maneira bastante razoável medicamentos e tratamentos usuais para a hipertensão. “Porém, expressiva parcela da população está sob risco porque não muda estilo de vida. Assim, não basta ter medicamento nas unidades de atendimento, se o indivíduo fuma, não faz exercícios, se está com excesso de peso, se é negligente com a ingestão de sal e álcool ou se abandona o tratamento prescrito pelo médico. Por tudo isso, seria muito importante a realização de uma campanha permanente de alerta, prevenção e vida saudável, de alcance nacional, considerando a gravidade do problema, as dimensões continentais do Brasil e o contingente populacional ameaçado”.

Medida prioritária seria medir a pressão arterial de toda a população. Ou seja, esse procedimento deve ser adotado independentemente da especialidade médica ou do motivo que leve uma pessoa a procurar um ambulatório, clínica, consultório, pronto-socorro e hospitais. Isso é fundamental, pois a hipertensão, na maioria das vezes, não apresenta sintomas. As pessoas costumam descobrir o problema durante consultas de rotina ou, o que é pior, depois da ocorrência de um infarto ou acidente vascular cerebral.

“Assim, medir a pressão de todo mundo que é atendido na rede pública seria um grande avanço, pois 80% dos brasileiros utilizam o SUS. Também é preciso educar a população a aferir sistematicamente a pressão. Tais medidas devem ser políticas públicas permanentes. A tarefa é árdua, mas precisa ser cumprida, para se reduzir o número de mortes no País”, afirma Dr. José Francisco Kerr, ressalvando: “Existem esforços, é verdade, mas temos de avançar muito. As estimativas são de que apenas 15% de todo o universo de hipertensos estejam devidamente diagnosticados, tratados e controlados”.

Além das políticas públicas, o médico defende uma ação sistemática da sociedade civil organizada, empresas, entidades médicas, como a Socesp, comunidades religiosas, de emigrantes e seus descendentes, organizações não governamentais e associações de bairro. “É necessário que todos tenham o olhar voltado à prevenção”.

Persistência do tratamento

O presidente da SOCESP salienta que, além do diagnóstico e início do tratamento, o controle permanente dos pacientes é decisivo, pois os indivíduos acabam não aderindo à medicação, considerando que na maioria dos casos a hipertensão é assintomática. Geralmente, eles dizem que não aceitam tomar três ou quatro comprimidos diários para tratar algo que sequer sentem. Assim, criar a cultura do tratamento adequado é uma atitude preventiva das doenças causadas pela hipertensão, como o infarto, o acidente vascular cerebral, o aneurisma e doenças renais.

“É muito importante educar, dialogar e prover atendimento interdisciplinar, com participação do médico, do enfermeiro, farmacêutico e outros profissionais”, salienta Dr. José Francisco Kerr, observando: “Isso a gente vê que acontece nas unidades básicas nas quais existe uma equipe para cuidar do problema, mas, obviamente, teria de haver mais investimento nesse área. É preciso aumentar a capacidade de buscar indivíduos hipertensos, fazer o diagnóstico adequado e, acima de tudo, convencer a população sobre a gravidade do problema”.

Redação

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