As palavras de ordem quando se fala em saúde são: evitar desperdício. No entanto, boa quantia de recursos financeiros é desperdiçada com a ociosidade de centros cirúrgicos, como aponta levantamento da Planisa, empresa especialista em soluções para organizações de saúde. A taxa de ocupação média dos centros cirúrgicos dos hospitais do banco de dados da Planisa é de 38%, em uma amostra de mais de 30 hospitais.
O custo médio de uma hora do centro cirúrgico é de R$ 1.840 e os custos com pessoal médico e não médico representa, em média, 50% ou mais do custo total.
Os centros cirúrgicos possuem estruturas que dificultam ocupações mais robustas, uma vez que, ao contrário das unidades de internação, que são ocupadas regularmente, tanto no período diurno, quanto noturno, esses espaços raramente têm agendamento cirúrgico após as 19 horas. “Embora não tenha uma agenda fechada, o centro cirúrgico precisa manter pelo menos uma sala para atendimento de emergência, o que gera ociosidade, impactando na ocupação geral do centro cirúrgico”, explica o Diretor Técnico da Planisa, Marcelo Carnielo. “No entanto, existem muitas possibilidades de melhoria e ganhos de produtividade que devem ser colocadas em prática, já que o centro cirúrgico é uma unidade de alto custo e, boa parte destes, fixo”, pontua Carnielo.
Otimização
Quanto mais horas um centro cirúrgico ficar ocioso, maior será o custo da hora de utilização deste, impactando diretamente no custo de todos os procedimentos cirúrgicos. Diante disso, é essencial otimizar a utilização das salas de cirurgia para minimizar a sua ociosidade, pois “mesmo com as luzes apagadas,” o centro cirúrgico tem custo elevado.
Para otimização do uso dos centros cirúrgicos, uma das ações que podem ser realizadas é a elaboração de um mapa cirúrgico bem dimensionado, visando a adequada administração nos intervalos de utilização das salas. “Com esse planejamento, é possível diminuir o tempo de ociosidade das salas cirúrgicas; melhorar a administração dos intervalos de utilização das salas, acarretando na diminuição dos atrasos; possibilitar uma maior flexibilidade na agenda dos cirurgiões e diminuir o tempo médio de dias de internação, tendo em vista a facilidade de realizar o remanejamento das cirurgias quando for necessário”, fala Carnielo. “Além disso, o mapa cirúrgico ajuda a melhorar a previsão dos instrumentos, equipamentos e materiais para a realização das cirurgias e diminui as situações de risco a que os pacientes são submetidos desnecessariamente, uma vez que muitos preparos pré-operatórios e transferências entre a unidade de internação e o centro cirúrgico poderiam ser evitados”, completa.
Carnielo ressalta que o tempo de preparação e limpeza de sala cirúrgico deve ser visto como um pit stop da Fórmula 1: o mais rápido possível e sem prejuízo, obviamente, da qualidade. Assim como a Fórmula 1 que evolui, e muito, em 1950 o pit stop de um carro era de, aproximadamente, 60 segundos. Em 2013, rompeu-se a barreira dos 2 segundos com 1,923 segundos no pit stop de Mark Webber, no GP dos EUA.
Além disso, parcerias com clínicas também é uma alternativa, permitindo a ocupação nos horários em que as salas de cirurgia ficam desocupadas, além de bonificação da equipe médica para os horários de baixa utilização ou até a diminuição de salas cirúrgicas, ajustando a relação oferta versus demanda. “Defendo a ideia de que o custo hospitalar deve ser visto como variável ao longo do tempo, sempre com olhar na relação oferta versus demanda. Não faz o menor sentido, salvo raras exceções, um hospital se manter ocioso ao longo do tempo. Este é o maior desperdício do setor saúde brasileiro”, afirma Carnielo.
A problemática dos cancelamentos
Os cancelamentos cirúrgicos são problemas que interferem – e muito – nos processos. Quando isso ocorre, estas salas ficam montadas aguardando pelo paciente e somente depois de algum tempo é que a comunicação de suspensão da cirurgia é feita, trazendo custos adicionais à instituição e causando transtornos, tanto para os pacientes, quanto para os profissionais envolvidos. “Com a melhoria do tempo de “giro” dos centros cirúrgicos, redução do percentual de cirurgias com atraso e uma comunicação eficaz das suspensões de cirurgias, haveria um ganho substancial na produtividade”, conclui o Diretor Técnico da Planisa.